Topo

Na Grade do MMA

Belfort: de vilão a vítima

UOL Esporte

03/03/2014 06h00

Por Maurício Dehò

Vitor Belfort sempre foi visto como um vilão na polêmica do TRT. As vitórias dominantes marcadas pela força dos nocautes vieram acompanhadas pelo debate em torno do tratamento de reposição de testosterona, questionando o quanto isso acrescentava na prática em cima do octógono. A questão é que o veto à terapia hormonal acabou fazendo dele a maior vítima na outra ponta desta história.

Isso porque, como o blog trouxe no domingo, a questão do antidoping no UFC vai muito além de se banir apenas o TRT, mas de mudar toda a política de exames da entidade. Hoje, os lutadores são testados apenas na semana do evento, pouco antes e pouco depois da luta, com raríssimas exceções. A maior das exceções era justamente Vitor Belfort, que colhia amostras regularmente para justificar o uso da terapia hormonal.

Isto é, enquanto Belfort fazia testes que segundo ele eram mensais, quase a totalidade dos lutadores sabia que não passaria por testes de surpresa – um procedimento que é custoso, mas que deveria virar praxe numa entidade com a dimensão e a relevância do Ultimate, que lidera os rumos do MMA no planeta.

A falta de testes surpresa possibilita o uso de substâncias ilícitas em ciclos, no intervalo dos combates. Sabendo quanto tempo uma substância fica em seu organismo, um lutador pode fazer o uso no limite de tempo para que esteja limpo na semana da luta.

De acordo com Belfort, ele teve de deixar a luta pelo título dos médios contra Chris Weidman por não ter tempo de se adequar às novas regras da Comissão Atlética de Nevada. Entende-se disso que ele seguia fazendo o tratamento até o momento da nova resolução e que não haveria tempo para que a testosterona sintética da terapia deixasse seu organismo a tempo dos exames feitos na proximidade da luta.

Isto é, além de ter de interromper o tratamento – o que já afetaria corpo e mente do lutador no duelo de maio -, Belfort teve de deixar para trás a luta que pode ser a mais importante de sua carreira, depois de tanto tempo aguardando que lhe concedessem uma nova disputa de cinturão. Aos 36 anos, ele sabe que cada chance perdida pode ser a última, mesmo que tenha dito que agora aguarda para enfrentar o vencedor do duelo entre Weidman e Lyoto Machida.

Nem mocinho, nem vilão, Belfort jogava pelas regras permitidas. O fato de tudo isso ter afetado o carioca mais do que qualquer outro lutador não muda o acerto na decisão de banir o TRT. Na verdade, só explicita o quão complicado e profundo é o tema do doping no MMA, que ainda terá muitos capítulos para serem escritos.

Vale lembrar que Dan Henderson poderia ter um destino semelhante. Ele também é adepto do TRT e conseguiu uma exceção para lutar o UFC em Natal contra Maurício Shogun, em 23 de março. A Comissão Atlética Brasileira afirmou que seguirá a decisão do UFC, mas, pela proximidade da mudança de regras, Henderson poderá lutar. Chael Sonnen, que encara Wanderlei Silva em maio, disse que acatará a decisão e não fará mais a terapia.

Um outro ponto desta discussão que mostra outras vítimas do veto ao TRT aponta para quem realmente tem problemas de saúde que diminuem o nível de testosterona e que agora não poderão usar a terapia. Mas aprofundamos isso num post adiante…

Sobre o blog

Saiba o que acontece dentro e fora do octógono, relembre as grandes histórias e lutas que fizeram o vale-tudo se tornar o MMA. Aqui também será o espaço para entrevistas, análises, debates, polêmicas e tudo que faz do MMA o esporte que mais cresce no mundo.
Contato: nagradedomma@gmail.com

Blog Na Grade do MMA