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Na Grade do MMA

Por que Belfort NÃO deve ser liberado para enfrentar Sonnen

Jorge Corrêa

09/06/2014 06h01


Não foi exatamente uma surpresa quando Vitor Belfort admitiu, na última sexta-feira, que foi flagrado em um exame surpresa feito em fevereiro, a pedido da Comissão Atlética do Estado de Nevada. O resultado? Níveis do hormônio testosterona acima do normal.

A falta de espanto se deve (1) pelo fato de que na época ele ainda fazia uso do polêmico tratamento de reposição de testosterona (TRT); (2) já era sabido de um exame surpresa feito e que o resultado não seria divulgado pela comissão por ele não ter pedido licença para lutar – Dana White chegou a dizer que isso era "irrelevante"; (3) e Joe Rogan, comentarista do UFC nos EUA, já tinha revelado no início da semana que o brasileiro tinha sido flagrado nesse exame.

Agora, Vitor entrou com um processo para ter licença para enfrentar Chael Sonnen no UFC 175 em 5 de julho. No dia 17 de junho a comissão julgará seu pedido e ele já avisou que estará lá para dar todas as explicações necessárias, inclusive sobre o resultado anormal deste teste surpresa. Se tudo transcorrer dentro da normalidade e forem utilizados os princípios básicos do combate ao uso de substâncias proibidas em qualquer esporte, Vitor NÃO será liberado.

Essa será uma ótima chance para a Comissão Atlética do Estado de Nevada, farol para outras entidades similares em todo o mundo, mostrar que o MMA é um esporte sério e pode se enquadrar no que já é feito em modalidades olímpicas. Banir o TRT, por exemplo, foi um grande começo.

De acordo com sua carta, Vitor Belfort acredita que esse flagrante de fevereiro não será levando em consideração porque ele não estava em período de luta e não tinha pedido uma licença. O que ele precisa entender é que esse é o princípio básico de um antidoping surpresa: pegar quem está fora da normalidade em um período de preparação e não apenas na competição.

Uma das maneiras mais conhecidas de se fazer uso do doping são os ciclos: o atleta usa um produto por um determinado período na preparação e para a tempo de ficar limpo nos exames da época da competição. Foi exatamente por isso que os testes surpresa foram implementados pelas modalidades olímpicas.

Não são poucos os casos de famosos atletas que caíram em antidoping fora de competição. No Brasil, ninguém menos que a ex-ginasta Daiane dos Santos já caiu. Ela acabou punida com um gancho de cinco meses. No famoso caso da Rede Atletismo, quando cinco atletas foram flagrados em exames em 2008, todos os eles também passaram por testes surpresa.

Para manter esse processo de moralização do MMA, que tanto sonha em um dia estar em uma Olimpíada, nada mais correto que a comissão leve em consideração esse exame de fevereiro – QUE FOI ELA MESMA QUE FEZ – e indefira o pedido de Vitor para poder lutar contra Sonnen. Mais que isso, ele deveria ser punido com uma suspensão de forma retroativa à época do exame, lembrando que ele é reincidente, o que é um agravante. Em 2006, caiu no antidoping por um anabólico da testosterona e pegou nove meses de gancho.

Quando se trata de doping, não existe pouco ou muito acima. Existe apenas ACIMA. Ou você foi flagrado fora da normalidade ou não foi. Vitor diz que é normal quem usa TRT ter os níveis de testosterona "um pouco" além do normal – podemos ver na imagem abaixo que não era tão pouco.

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Como podemos ver aqui, quase dois meses depois de parar de usar TRT, ele está com níveis de testosterona bem baixos.

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Não estou falando que Belfort deva ser banido do esporte ou que ele fez/faz ciclo de alguma substância ilícita, mas agora ele precisa assumir os riscos do tratamento que ele escolheu fazer e já pensar no ano de 2015, quando acabaria uma possível punição. Não se pode abrir exceções ou ter algum tipo de afrouxamento quando falamos de doping.

No entanto, não se assustem se a Comissão Atlética do Estado de Nevada liberá-lo. Há muita política por trás desse julgamento e o brasileiro é um importante personagem do UFC. Tê-lo em um card tão importante seria bom para todos, ainda mais contra Chael Sonnen. Essa luta venderia muito.

Mas se isso acontecer, será um passo para trás. O MMA mais uma vez mostrará que ainda não está pronto para atingir o patamar olímpico e muita explicação terá de ser dada. Até mesmo pelo UFC que, apesar de não ser responsável por exames antidoping ou licenças de luta, está bancando o combate e já disse que está apoiando Vitor Belfort nessa empreitada.

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