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Anderson deixa lado astro para ser apenas atleta. Ele só quer ser ele mesmo

Jorge Corrêa

26/01/2015 12h00

É difícil prever como um atleta de altíssimo rendimento e considerado o melhor de todos os tempos em sua modalidade reagiria a uma lesão tão grave. Para Anderson Silva, foi simples. Após meses de dor e recuperação, ele resolveu voltar para casa. Ele decidiu que queria apenas ser ele mesmo.

Quem acompanha o ex-campeão dos médios com certeza reparou que nos últimos meses ele tem feito aparições bem diferentes das que fazia anos atrás, antes da fratura e quando ainda era dono do cinturão dos médios do UFC. No post da semana passada, mostrei que ele mudou os rumos de sua gestão de imagem, o que até fez com que seu principal assessor encerrasse a parceria.

O que podemos ver agora é um cara menos (para não falar nada) preocupado em como e quanto vai aparecer ou "fazer buzz"(gerar burburinho), como diz a gíria do marketing. Ele mostra mais sua família, está menos ligado a patrocinadores em suas redes sociais, sumiu dos programas de entretenimento na televisão.

Para esse seu retorno ao octógono contra Nick Diaz, mais de um ano após a lesão contra Chris Weidman, ele resolveu voltar às origens e ser apenas lutador, somente um atleta. Anderson não queria mais ser um grande astro, com aparições friamente calculadas e repercussões gigantescas.

Pela primeira vez pudemos ver mais sua preparação. Ele permitiu que uma equipe de TV gravasse importantes passagens de seus treinos no Rio de Janeiro e até uma sessão de sparing. Mas o mais marcante desta nova fase de Anderson foi ele ter dado protagonismo a sua família. Sua esposa e filhos finalmente saíram dos bastidores para serem personagens importantes da vida do lutador para o grande público.

"Tem alguns momentos da sua vida que você precisa se refazer. Eu entendi muita coisa que não tinha entendido por muito tempo, por conta de estar naquela correria, não ter tempo de parar e olhar para o Anderson lutador e para o Anderson ser humano. Isso ficou um pouco distante. A vida é assim, cheia de mudanças, o tempo todo, e você tem de se adaptar, ter a consciência do que você pode mudar. As que você não pode mudar é preciso ter um entendimento e aceitar isso", explicou o lutador.

A prova desta fase é o reality show que está publicando no YouTube, em que mostra os bastidores do treino e da sua casa. Esse programa era um sonho antigo do Spider e que nunca tinha saído do papel porque não condizia com a linha da gestão de seu marketing, como explicou o ex-assessor Hebert Mota.

Cansou da vida de astro?

Anderson Silva nunca fez nenhuma reclamação pública ou para seu estafe sobre a vida de holofotes que levou entre 2011 e 2014. Ele sempre acreditou no projeto de ter seu nome popularizado no Brasil e no mundo, o que ainda não tinha acontecido apesar de ele ser o campeão do UFC há bastante tempo. Mas aquele não era o Anderson Silva de verdade.

Não que fingisse ou montasse um personagem. Ele nunca ensaiou falas ou discursos, nem mesmo fez algo que discordasse apenas porque seus assessores pediram. Mas sua postura era uma amalgama de sua personalidade real com um intenso trabalho de treinamento de mídia, que vinha dando certo.

Mas as constantes mudanças de opinião – como apontar a aposentadoria do UFC para ser ator, ou falar que não queria mais ser campeão – mostravam essa batalha entre o Spider 100% real e o que era estritamente assessorado. Neste momento, ele sentiu que não precisava mais dessas amarras, que já tinha alcançado um patamar de fama e financeiro em que poderia ser apenas ele mesmo, já tinha conseguido construir a imagem que sempre quis.

A conta pode não fechar

Se por um lado, com essa nova fase, Anderson está se mostrando alguém mais próximo do público em geral, mais "povão" e, em muitos casos, menos arrogante, um ponto pode pesar contra. Uma grande mudança que vimos foi em seu patrocínio mais recente para a luta contra Nick Diaz. Ele fechou um acordo de R$ 240 mil por ano com Furnas. Nos anos como campeão, os contratos chegaram a R$ 1,5 milhão ao ano. Com uma grande equipe de apoio, uma grande família e casas em dois países e um alto padrão de vida, se ele não foi uma pessoa previdente, uma hora essa conta pode não fechar.

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