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Na Grade do MMA

Jon Jones: ascensão e queda de um gênio indomável que perdeu para si mesmo

Jorge Corrêa

30/04/2015 12h40


Não são raros os casos de atletas que ao encontrarem o sucesso – e o dinheiro, principalmente – se perdem do caminho do esporte. E o final da história quase nunca é feliz. O título acima poderia ser com um sem-nomes na história do esporte. Apenas para ficar em caso próximo a nós, temos o Adriano Imperador. Agora parece que isso finamente bateu à porta do UFC e, para seu azar, com o grande astro da companhia.

Com apenas 27 anos, Jon Jones encontrou o fundo do poço na mesma velocidade com que se tornou o mais jovem campeão do Ultimate. Ao ter seu cinturão retirado após um acidente com contornos tragicômicos e ver escorrer entre os dedos alguns recordes que o colocariam na história do esporte, o norte-americano escancarou o que muito alertavam: ele sempre se equilibrou na linha entre o certo e o errado, tendo como único equipamento de segurança seu talento. Não era o suficiente, uma hora ele iria cair.

Quando "Bones", apelido que ganhou por sua compleição física, foi campeão ao atropelar Maurício Shogun em 2011, com apenas 23 anos, Dana White fez um alerta que agora soa como previsão. "Ele foi incrível como lutador, mas a batalha maior começa agora, contra a pressão e contra todos aqueles que vão tentar se aproveitar dele", falou o chefão logo após a luta. Era como se soubesse que o então novo campeão tinha alguma tendência a sair de seu caminho.

Jones nunca foi um astro do UFC por fazer média, por ser muito simpático com fãs ou jornalistas. Não que fosse rude ou grosseiro, mas sempre foi muito sincero. Nunca se submeteu a um treinamento de mídia para parecer "legalzão", tanto que não era pequena a torcida contra. Ele sempre foi um lutador que atraiu multidões por amor e também por ódio. É algo comum dentro do MMA, mas ele se incomodava menos que o normal com quem era contra. Suas provocações contra rivais eram ríspidas e diretas, não tinha a encenação típica de Chael Sonnen, por exemplo.

Ele alcançou o status de astro com genialidade e talento. Com um porte atlético invejável, mostrou desde que cedo que tinha nascido para lutar. Sempre usou técnicas pouco ortodoxas tirando proveito de sua envergadura e da capacidade de dar cotoveladas em qualquer situação. Foi sendo lapidado pelos técnicos Greg Jackson e Mike Winkeljohn até se tornar praticamente invencível. Mas não era apenas treino, sempre tinha uma carta na manga, um golpe que ninguém imaginava. Era o lado do gênio falando, algo que apenas Anderson Silva fazia no UFC.

Mesmo dentro do octógono, mostrava o lado monstro do médico. Jon sempre foi alvo de críticas por alguns de seus golpes. Pensou-se em proibir cotoveladas no chão principalmente por sua causa. Sempre usou chutes no joelho de cima para baixo, torções de cotovelo, algumas dedadas no olho supostamente sem intenção. Tudo dentro da regra, mas eticamente questionável. Ele ter deixado Lyoto Machida cair no chão após apagá-lo com uma guilhotina mostra bem isso.

Mas suas principais chagas estavam em sua vida fora do UFC. Não que devêssemos nos importar com o que atletas fazem quando não estão trabalhando, é a vida pessoal deles, mas o Ultimate tem um estrito código de conduta e Jones o feriu em pelo menos três oportunidades. Foi como no beisebol. No terceiro strike sofrido, acabou excluído. Dana White deixou claro que essa era a última chance do agora ex-campeão.

O UFC não conseguiu relevar um novo tropeço. Fugir de uma batida em que uma grávida quebrou o braço ficou sem socorro era demais para os chefes do Ultimate passarem novamente a mão em sua cabeça, ainda mais depois de ele já ter batido o carro enquanto dirigia bêbado, além do flagrante com cocaína em um exame antidoping surpresa. Dana White teve de cortar na própria carne e afastou sua maior fonte de lucro, principalmente nessa época sem Anderson Silva e Georges St-Pierre.

A grande vantagem para Jon Jones em relação a outros casos parecidos no esporte é a idade. Ele levou essa queda ainda novo, há muito tempo para se recuperar. Mais que isso, ele ainda tem todo o apoio do UFC, não foi demitido e sim apenas afastado por tempo indeterminado. Ele tem espaço para se recuperar e retomar o caminho para ser o maior de todos os tempos. Mas a principal questão neste momento é: será que ele vai querer?

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Saiba o que acontece dentro e fora do octógono, relembre as grandes histórias e lutas que fizeram o vale-tudo se tornar o MMA. Aqui também será o espaço para entrevistas, análises, debates, polêmicas e tudo que faz do MMA o esporte que mais cresce no mundo.
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