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Na Grade do MMA

Como Anderson transformou um 'farsante' em campeão do UFC e perdeu para ele

Maurício Dehò

23/05/2015 06h00

Chris Weidman não é o mais talentoso dos campeões do UFC. Não tem as vitórias mais impressionantes entre as estrelas da atualidade. Nem mesmo é o mais carismático dos lutadores. Mas, com apenas nove lutas no MMA, chocou o mundo ao nocautear Anderson Silva e virou um astro precoce. Mas, afinal, qual foi o segredo disso tudo? Confiança e trabalho seriam as respostas mais óbvias, e não estariam erradas, se não fosse um método diferente em que o norte-americano apostou: mentir para si mesmo. Weidman baseou toda a sua carreira em ser um "fingidor" e agora tem de provar mais uma vez, contra Belfort, no UFC 187, que é o cara. De verdade.

Weidman só começou a assistir MMA quando Anderson Silva humilhou Forrest Griffin no UFC 101, em 2009. Já praticante de wrestling, ele havia se machucado e não conseguiu ir às Olimpíadas em 2008. Em vez de esperar mais quatro anos, meteu-se em treinos de jiu-jítsu, refletiu e descobriu que queria sair na mão com outros caras – como havia feito na adolescência, ao crescer em um bairro de vizinhança pouco amistosa.

E foi aquela luta de Anderson que o inspirou em todos os aspectos. Weidman não mirou o UFC, um cinturão ou algum adversário de quem tinha raiva. Ele "apenas" colocou como objetivo bater o maior lutador da história.

"Quanto mais eu assistia às suas lutas, mais eu pensava: 'eu quero lutar contra esse cara, e eu quero vencê-lo. E eu posso, e eu vou'", escreveu Weidman, em um longo – e ótimo – texto sobre sua carreira no site The Players' Tribune.

Weidman sabia que precisava mudar muito, ou quase tudo em sua carreira, em busca do novo objetivo. E o primeiro estalo foi mudar como encarava mentalmente seus desafios. O norte-americano foi quatro vezes semifinalista no mais importante torneio de wrestling dos Estados Unidos. E perdeu em todas as vezes lutas que estava vencendo. Faltava seriedade e, principalmente, confiança.

Veja trechos do texto que explicam essa jornada e o que fez de Weidman o que ele é hoje.

Fingir para virar – "Foi aí que eu mudei tudo, ao entrar no MMA. Eu decidi que seria o garoto que trabalharia mais duro na academia. Eu não seria o garoto que não alcança o potencial ou que não usa o máximo de sua habilidade. Eu coloquei essa 'máscara' de ser o mais trabalhador, duro e determinado – que não era nem de perto o que eu era de verdade. Eu queria criar uma ilusão. E, depois de um ano fingindo que eu era o cara mais trabalhador, meu hábito mudou e eu me transformei naquela pessoa. Eu menti, até virar. E isso me deu a confiança de saber que eu não seria batido. Foi assim que parei de perder"

Foco em Anderson – "Eu sabia que para ser o melhor, eu tinha de derrotar o melhor, e Anderson Silva era o campeão da minha categoria. Eu usei o mesmo "finja isso e consiga" como estratégia para me convencer de que eu poderia derrotar Anderson Silva. Desde o começo, todo treino que eu fazia para a luta, não era para vencer meu rival. Eu treinava para vencer Anderson Silva. 'Ele é humano, ele pode ser vencido, e você tem o necessário para isso'. Comecei a acreditar, mesmo que ninguém mais acreditasse. Eu queria chocar o mundo."

Weidman e sua batalha contra um furacão

Weidman e sua batalha contra um furacão

Dificuldades em casa – "Depois de ter sucesso em algumas lutas, eu vivia um momento complicado. Não estava fazendo dinheiro. Vivia no porão da casa dos meus pais, com minha esposa e minha filha. Voltei à escola para me formar em educação física e dava algumas aulas particulares de wrestling para fazer algum dinheiro. Ganhava US$ 15 mil por ano, com uma filha para sustentar. Tudo isso e com uma costela fraturada. Fora do octógono, nada parecia estar no caminho certo. Eu quase desisti do meu sonho."

Já no UFC, drama com furacão – "Eu vivia em Long Island quando o fucarão Sandy nos atingiu. Com a tempestade, todo o nosso primeiro andar ficou debaixo d'água. Perdemos muita coisa material, ninguém esperava a enchente. Fui obrigado a me mudar de volta para a casa dos pais. Vivemos os quatro (Weidman, a mulher e os dois filhos) em um pequeno quarto. Não foi quase nada perto do que muitos passaram, mas foi uma época dura. E ainda estava treinando, buscando um rival, até que machuquei o ombro.

Lesões e Anderson – "Toda grande luta da minha carreira veio depois de uma lesão, com dificuldades para mim e minha família. Eu não lutava havia um ano por causa do ombro e então, é claro, o UFC me chamou e avisou que eu tinha de me preparar em dois meses para meu próximo rival. Claro, era Anderson Silva".

A luta com Anderson – "Eu treinei para Anderson como treinei para todas as minhas lutas. Mas, desta vez, em vez de fingir treinar para enfrentar o melhor do mundo, eu estava treinando de verdade para isso. (…) Eu sabia seus movimentos, seu estilo, suas tendências. Sua confiança era seu atributo mais perigoso. Mas eu estava preparado para jogos mentais. Eu sabia que ele não podia me vencer ao abaixar os braços e fazer piadas, então minha estratégia era ir para cima, tentar quedas e socar sua boca. Sem medo de trocar. (…) Eu vim acelerado no segundo round e, com um minuto, acertei uma esquerda. Ele dobrou os joelhos, fingindo ter sido atingido. Enquanto ele se preocupava em atuar, dei outra esquerda. Desta vez, ele balançou de verdade e com uma terceira esquerda eu consegui. Acertei o queixo e ele foi para o chão."

Weidman x Belfort – O competidor dentro de mim instantaneamente procura por novas metas. Agora, eu quero limpar a minha categoria, vencer um após o outro. Meu foco agora é dominar completamente Vitor Belfort no sábado. Quero deixar claro que estou acima de todos nos pesos médios. Quero provar mais uma vez a todos que duvidam de mim que eles estão errados. Eu quero enfrentá-lo, e quero vencê-lo. E eu posso, e eu vou. Esse é meu único objetivo."

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Serviço – O UFC 187, com suas duas disputas de cinturão em Las Vegas, começa às 19h30 (de Brasília), com as sete lutas do card preliminar. O card principal está marcado para as 23h, com cinco lutas, sendo Chris Weidman x Vitor Belfort a penúltima, seguida por Anthony Johnson x Daniel Cormier. O Placar UOL acompanha todos os momentos do evento. O canal pago Combate faz a transmissão ao vivo, e a Rede Globo terá as principais lutas em VT, com o habitual atraso, previsto no contrato com o UFC.

Card principal
Meio-pesado (cinturão): Anthony Johnson x Daniel Cormier
Médio (cinturão): Chris Weidman x Vitor Belfort
Leve: Donald Cerrone x John Makdessi
Pesado: Travis Browne x Andrei Arlovski
Mosca: Joseph Benavidez x John Moraga

Card preliminar:
Mosca: John Dodson x Zach Makovsky
Meio-médio: Dong Hyun Kim x Josh Burkman
Médio: Uriah Hall x Rafael Natal
Palha feminino: Rose Namajunas x Nina Ansaroff
Meio-médio: Mike Pyle x Colby Covington
Leve: Islam Makhachev x Leo Kuntz
Mosca: Justin Scoggins x Josh Sampo

Sobre o blog

Saiba o que acontece dentro e fora do octógono, relembre as grandes histórias e lutas que fizeram o vale-tudo se tornar o MMA. Aqui também será o espaço para entrevistas, análises, debates, polêmicas e tudo que faz do MMA o esporte que mais cresce no mundo.
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