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Na Grade do MMA

Nocaute em 5s fez brasileiro do UFC virar queridinho de rei... da Jordânia

Maurício Dehò

29/05/2015 06h01

Francimar Bodão nocauteia em 5 segundos na Jordânia

Xapuri é uma cidade de menos de 15 mil habitantes, localizada há cerca de 200 km de Rio Branco, no Acre. Pode parecer um local longe demais, pequeno, pouco populoso, mas o município vai ter o nome ouvido no mundo todo neste sábado, durante o UFC. Filho daquela terra, o meio-pesado Lucimar "Bodão" Barroso faz sua terceira luta na organização, trazendo consigo um histórico que o levou da humildade no interior acreano à riqueza da Jordânia.

Órfão de pai e líder da família desde os nove anos, Bodão batalhou muito para ser lutador. Teve de convencer a mãe, sair de sua cidade, trabalhar de segurança e, quando ainda não estava convencido de que teria uma grande chance, uma viagem à Jordânia, um nocaute em 5 segundos e um convite para dar aulas mudou tudo, com o rei da Jordânia batendo à sua porta para que ele treinasse o exército local.

Mas, antes de chegarmos à fase rica de sua vida, é preciso passar pela mais simples. A morte do pai, tão cedo, foi um fator que mudou tudo para a família de Francimar. "Ele sempre falava que eu seria o líder da família e isso ficou na minha cabeça. Então, eu liderava mesmo, fazia as compras, cuidava das minhas irmãs… Minha mãe me educou pra cuidar deles mesmo", conta ele.

Francimar Bodão - Julio Cesar Guimarães/UOL - Julio Cesar Guimarães/UOL
Imagem: Julio Cesar Guimarães/UOL

As primeiras oportunidades no esporte apareceram por seu gosto por futebol. Alto e esguio, o garoto foi convidado a treinar lutas. Começou no kickboxing, escondido da mãe. "Na primeira competição que fiz, saiu uma notinha no jornal e ela viu…", relembra ele. As condições eram precárias. "Era todo mundo de sunga, e trocava porrada mesmo, sem luva. Não tinha tatame, era no chão. Ficava com o rosto cortado, machucado, mas feliz por poder treinar. Com 17 anos, eu ainda não podia lutar, mas, logo que completei 18 anos convenci minha mãe a assinar um termo e foi a melhor coisa da minha vida."

Bodão morou também em Rio Branco e em Fortaleza. Enquanto treinava e lutava, também trabalhava como personal trainer, dando aulas de luta e de segurança. "Trabalhava em boate no Ceará. E várias vezes tive que separar o pessoal que estava saindo na porrada, imobilizar a galera. Era uma guerra. Chegou uma hora que eu não conseguia mais treinar e lutar e, só treinando, a vida melhorou. Passei muitas noites chorando, muitos dias difíceis. O que tenho hoje foi uma conquista, dou muito valor ao que tenho.

O salto em sua carreira veio depois. Ele passou a treinar na Nova União – academia de José Aldo. Mas não foi no Rio de Janeiro que ele seria reconhecido. No fim de 2010, ele foi convidado de última hora para um combate na Jordânia. A surpresa geral foi quando ele nocauteou seu rival em apenas cinco segundos.

"Aquela vitória foi muito badalada, chamou a atenção do rei. E, na mesma noite, tocou a campainha no hotel. Quem era? O rei… Ele me convidou para dar aula no exército, me ofereceu contrato, carro, apartamento, salário. Olhei para os lados e nem acreditava. Foi um choque, porque eu estava morando no Rio, passava dificuldades…", relata o meio-pesado.

Bodão, é claro, aceitou. Tornou-se o primeiro técnico de jiu-jitsu e MMA da linha de frente do exército jordaniano. Além dos luxos e do trabalho proposto, ele ainda abriu uma equipe de MMA e criar um evento. Depois de dois anos construindo seu pequeno império por lá, retornou ao Brasil, conquistou o cinturão sul-americano do Shooto e o título do WOCS e, enfim, foi chamado pelo UFC.

O acreano venceu sua estreia contra Ednaldo "Lula", por pontos, e perdeu da mesma maneira o combate seguinte, contra Hans Stringer. Agora, em Goiânia, encara Ryan Jimmo – canadense que tem três derrotas nas últimas cinco lutas. Ainda é só um começo de uma caminhada que precisa de muitos para ele virar uma estrela do Ultimate.


Lidando com os jordanianos

Francimar Bodão teve de conviver com uma cultura bem diferente na Jordânia, um país com maioria de muçulmanos. Apesar de alguns casos curiosos e engraçados, o brasileiro disse que não teve dificuldades de lidar com quem cruzou seu caminho por lá.

"É um mundo totalmente diferente, é uma cultura forte, que não parece nada com nada do mundo, mas por incrível que pareça, foi uma experiência de vida muito boa, de respeitar a cultura e a religião deles", explica ele.

Sobre os causos, ele detalha um engraçado. "Na primeira vez que fui dar aula, começa uma fila de 50, 60 homens, todos vindo me dar beijo no rosto. É que eles estavam dando boas-vindas (risos). Falei: 'Amanhã vamos parar com isso'", brincou.

Em outro caso, pregaram uma preça nele. Na onda de fama de seu nocaute-relâmpago, ele foi ao shopping e era assediado por muitas pessoas. Bodão tinha sido avisado, com certo exagero: nada de pegar na mão ou olhar no rosto das mulheres. Assim, quando uma fã se aproximou querendo tirar fotos, ele saiu em disparada para o estacionamento. "Mas era só brincadeira. Eu saí correndo que nem um maluco, mas podia ter tirado a foto (risos)".

Sobre o blog

Saiba o que acontece dentro e fora do octógono, relembre as grandes histórias e lutas que fizeram o vale-tudo se tornar o MMA. Aqui também será o espaço para entrevistas, análises, debates, polêmicas e tudo que faz do MMA o esporte que mais cresce no mundo.
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