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Na Grade do MMA

Casada com técnico, Bethe era contadora que queria perder peso antes do MMA

Maurício Dehò

29/07/2015 07h10

Em dezembro de 2013, Bethe Correia, a Pitbull, chegou de mansinho ao UFC. Era a terceira brasileira em ação pela organização, invicta em seis lutas, faixa roxa de kung fu e azul de jiu-jítsu e com o desafio de encarar o fuso horário da Austrália para vencer manter a boa fase. Menos de dois anos depois, o estrondo feito pela paraibana de Campina Grande foi tão grande, que ela virou desafiante ao cinturão de Ronda Rousey no UFC 190 e fez a campeã chorar com suas provocações.

Se a gente perguntasse à Bethe de quatro anos atrás se era possível imaginar tal desfecho, certamente, ela diria que não. Naquela época, ela ainda deixava de ser uma contadora e trocaria o escritório pela academia, em uma trajetória que virou sua vida do avesso. Da garota que queria perder uns quilinhos à lutadora que se casou com seu técnico e tem a chance de chocar o mundo, Bethe venceu sete combates, sendo dois por nocaute, e tenta neste sábado ser a primeira brasileira a ter um cinturão do Ultimate.

Pra quem ainda não conhece essa jornada da paraibana, vale a pena saber como ela chegou tão longe, atraindo os olhos do mundo para a cidade em que vive, Natal.

Da contabilidade ao MMA

Natural de Campina Grande, Bethe Correia tinha uma vida tranquilinha. Tudo mudou com sua mudança para Natal, cidade em que começou a treinar MMA.

"Eu desde bebezinha nunca gostei de ficar presa em nada kkkkk", postou Bethe, no Instagram

"Em Campina Grande, eu tinha uma vida comum: faculdade, trabalho, namorava, nada ligado a luta (risos)… Sentia que faltava algo e encontrei em Natal onde me descobri como lutadora. Sou formada em contabilidade, trabalhei um tempo como contadora e deixei tudo para me dedicar a lutar. Hoje vivo só pra treinar", contou ela, em entrevista de 2013.

"Comecei treinando para emagrecer, daí passei a competir no amador e rápido fui para o profissional de MMA. Tudo foi rápido e foi uma grande surpresa chegar ao UFC". A profissionalização da paraibana tem tudo a ver com a relação com os irmãos Pitbull, Patricio e Patricky Freitas, lutadores de destaque do Bellator e que tem uma equipe em Natal.

Técnico que vira marido

O companheiro de todas as horas Edelson é técnico e marido de Bethe

O companheiro de todas as horas Edelson é técnico e marido de Bethe

Outro ponto fundamental para entender a carreira de Bethe está no seu corner. Ela é casada com seu técnico. Edelson Silva, lutador de boxe por 18 anos e técnico com experiência com lutadores como Anderson Silva, certa vez foi a natal para apresentar um seminário. A troca de olhares começou ali. Uma faísca se acendeu, mas foi apenas quando ele retornou para lá e passou a dar aulas na cidade que houve uma aproximação.

"Sempre quis ter uma mulher pra treinar. Certa vez estava em natal, ela estava treinando com uns casca grossa. Eu falei: 'essa menina, se cai na minha mão, eu faço campeã. Eu fiquei admirado pela parte de luta", contou ele, ao SporTV. A proximidade acabou em namoro, e eles moram juntos há um ano. "Eu me apaixonei, mulher apaixonada sempre muda. Só me trouxe coisa boa. Quando o conheci, já era lutadora de MMA, mas ter ele ao meu lado, ter alguém ao seu lado só faz crescer."

O mundo das lutas está tão presente, que às vezes o programa de sábado à noite é ver UFC ou uma luta de boxe. E Edelson admite que tem dias em que toma bronca, por ser técnico também em casa, quando deveria ser apenas marido. "Eu sou romântica, gosto de sair para jantar, essas coisas", disse Bethe. Além de romântica, também admite ser vaidosa. Gosta de arrumar os cabelos, fazer as unhas e aparecer sempre que possível de maquiagem, como mostrou em vídeo recente do UFC.

No UFC, amigas de Ronda caem

Bethe gesticula e provoca o time de lutadoras de Ronda Rousey. Deu certo.

A carreira de Bethe começou em maio de 2012, com uma vitória por pontos. Foram seis combates, sendo o último no Jungle Fight, até chegar ao UFC. Na primeira luta, ela bateu a experiente Julie Kedzie em decisão dividida.

Já na segunda, causou um estrondo que não pôde deixar de ser ouvido. Parecia ser uma luta normal contra a grandalhona Jessamyn Duke, queridinha de Ronda Rousey no TUF, mas um gesto ao fim do combate a fez chamar a atenção da Ronda. Ela mostrou quatro dedos e abaixou um: era um sinal de que vencera uma das "quatro amazonas", nome que Ronda deu ao seu time (em inglês, The Four Horsewomen).

Com a provocação certeira, ela encarou outra protegida de Ronda, Shayna Baszler. Por nocaute no segundo round, arrasou a rival e ganhou a chance de lutar pelo cinturão – com a vantagem de Ronda ter aceito lutar no Brasil.

Polêmica fora do octógono

Um caso movimentou a vida da paraibana fora do MMA, com uma briga no Rio de Janeiro. Ela e o marido se envolveram em uma confusão com um taxista em março. A disputa aconteceu depois de o casal pedir um táxi por um aplicativo no celular.

Bethe e Edelson sairiam para jantar, mas mudaram de ideia. O valor da corrida acabou gerando uma discussão, e isso evoluiu para uma briga, em que Edelson acabou agredindo o taxista Cleonardo de Freitas. Cada lado teve uma versão para os incidentes, com a lutadora alegando que o taxista os ameaçou com uma suposta arma que estaria no carro, e o agredido os acusando de calúnia.

O caso acabou na polícia, já que Cleonardo fez boletim de ocorrência e pediu uma indenização.

Entrando na cabeça da campeã?

Por fim, o fator que fez crescer o interesse no combate entre Bethe e Ronda foi o "trash talk". A troca de provocações sempre foi grande entre elas, e Bethe acabou causando uma enorme polêmica quando disse: "espero que Ronda não se mate depois de perder para mim".

O problema é que Ronda tem um caso de suicídio na família, justamente de seu pai, que se matou quando ela era garotinha – e enquanto ela estava em casa. A norte-americana não engoliu a provocação e nem o pedido de desculpas, já que Bethe alegou desconhecer essa parte da história da campeã. Mas a impressão que ficou é a de que a brasileira tentou entrar na cabeça da rival e desestabilizá-la.

"É algo bem documentado e sabido que meu pai se matou. Foi aí que ela passou do limite", disse, entre lágrimas, Ronda. "Entre mexer com minhas amigas e pegar uma chance de lutar pelo título, ela desrespeitou a maior tragédia que minha família já viveu. E deu risada. Isso não é promover a luta. Ela foi longe demais e eu não perdoo coisas assim."

Bethe se desculpou, mas manteve o ataque, "Chega de fazer imagem de menininha. Você não é uma coitadinha. Eu bati mesmo nas amigas dela, mas não falei do seu pai".

Ronda já prometeu dar uma longa surra, para garantir que Bethe "não saia do octógono como entrou", e isso já até gerou uma bronca de sua mãe, que quer um desfecho rápido. Já Bethe afirma que quer mostrar o que é ser nocauteada a Ronda. No sábado saberemos o desfecho…

Sobre o blog

Saiba o que acontece dentro e fora do octógono, relembre as grandes histórias e lutas que fizeram o vale-tudo se tornar o MMA. Aqui também será o espaço para entrevistas, análises, debates, polêmicas e tudo que faz do MMA o esporte que mais cresce no mundo.
Contato: nagradedomma@gmail.com

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