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Na Grade do MMA

Quem é a surpreendente nova rival de Ronda e que riscos ela traz à campeã

Jorge Corrêa e Maurício Dehò

21/08/2015 10h48

Ronda Rousey já venceu ex-campeã de MMA (Miesha Tate), medalhista olímpica (Sara McMann), talentos invictos da nova geração (como Bethe Correia). Mas, ninguém chega com credenciais tão perigosas para desafiar a campeã peso galo do UFC quanto Holly Holm. Multicampeã mundial de boxe e com uma carreira 100% no MMA, a norte-americana que treina com Jon Jones em Albuquerque (EUA) é um dos maiores desafios da carreira de Ronda.

Ainda que o timing para o combate marcado para 2 de janeiro seja questionável, já que Holm venceu apenas dois combates mornos em seus primeiros compromissos no UFC, a nona do ranking tem um histórico de vida e de luta que comprovam que seu lugar, mais cedo ou mais tarde, seriam mesmo disputando o cinturão.

Holly Holm é uma apaixonada por lutas. Só isso explica o fato de ela largar sua carreira em que se confirmou como campeã do mundo de boxe por 18 vezes, detendo cinturões em três categorias. Norte-americana de 33 anos, ela construiu sua carreira em Albuquerque, sua cidade-natal. A "Filha do Pastor", seu apelido como lutadora, foi por muito tempo a estranha no ninho na academia Jackson's, em que treina o campeão dos meio-pesados do Ultimate, Jon Jones. Enquanto parte das estrelas fazia seus treinos de MMA, ela trabalhava não só o boxe, mas fazia kickboxing com o técnico Mike Winkeljohn.

Se antes a fama veio com as mãos, no MMA ela já mostra que tem pernadas perigosas. Até aqui, são nove vitórias, sendo seis por nocaute. Destes seis, cinco foram usando chutes, provando que ela não é meramente uma ex-pugilista no MMA.

A trajetória de Holm como pugilista foi de muitas lutas e rápida ascensão. Em quatro anos como profissional, em 2006, conquistou seu primeiro cinturão, no meio-médio, batendo Angelica Martinez. A partir daí, deslanchou: conquistou os cinturões de todas as principais entidades, bateu até a sérvio-brasileira Duda Yankovich por nocaute e só foi perder para Anne Sophie Mathis em 2011, dando o troco na revanche, seis meses depois.

Sua carreira de 33 vitórias, duas derrotas e três empates o levou a ser indicada para o Hall da Fama de Boxe e a ser eleita duas vezes a boxeadora do ano, pela conceituada Ring Magazine. Lindo, não é?
Era para ser. Mas Holm percebeu que, enquanto o boxe feminino seguia sendo menosprezado por eventos e empresários, um caminho aberto estava ali ao seu lado, na mesma academia, e nomes como Jon Jones o trilhavam com sucesso. "O MMA feminino está em um ponto em que não pode ser ignorado, isso é ótimo. Sou abençoada por tudo o que vivenciei no boxe. Mas tive tudo o que precisava. Se você é uma boxeadora, só pode fazer isso por amor, mas devia haver mais retorno. Agora com o MMA, minha vontade é a mesma, e terei a mesma paixão de antes", afirmou ela. "Meu técnico, Mike Winkeljohn, me encorajou a ver que portas se abririam. Queríamos ver o que apareceria, mirando o melhor, que é estar no UFC."

Foi assim que ela começou no MMA profissional em março de 2014, ainda em paralelo com o boxe, até 2013. No UFC, já exclusiva dos octógonos, ela venceu por pontos Raquel Pennington e Marion Reneau. Não empolgou, mas avançou para ser a nona do ranking. Era esperado que Holm lutasse mais algumas vezes, mas o UFC mudou de planos e lhe deu de bandeja a vaga que a princípio era tida como de Miesha Tate como desafiante da campeã.

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Riscos para a campeã

Mas Ronda corre algum risco? Sim. Provavelmente muito maior do que contra a maioria de suas rivais até aqui. Holly é a rival mais experiente que a campeã já enfrentou desde que estreou no MMA. E não falo apenas de idade, mas de rodagem no mundo profissional das lutas.

É óbvio que a principal tática de Holm é o boxe, de onde veio e foi campeã mundial, mas ela conseguiu anexar de maneira muito eficiente os chutes ao seu jogo com o técnico Mike Winkeljohn – metade menos conhecida da famosa academia Jackson's MMA em Albuquerque, a mesma de Jon Jones. Assim, ela se tornou uma kickboxer de primeira linha.

O que Ronda vai encontrar em Holm – que não encontrou em Bethe ou Zingano – é um enorme pragmatismo tático. Nessa luta, podem ter certeza que não vamos ter uma correria e qualquer uma das duas partindo com tudo para a porrada. A ex-campeã de boxe ataca apenas no momento certo, sempre com a guarda MUITO fechada. Tende a zero a chance de uma nova vitória-relâmpago da campeã do UFC.

Rousey terá mais do que nunca de usar sua experiência vinda do judô, para atacar e tentar derrubar apenas na hora certa. Mais do que nunca sua arma da chave de braço deve lhe ser útil, afinal, entrar na trocação contra uma pugilista profissional pode ser a pior das ideias. Mais que isso, Holly Holm tem uma mão muito pesada e algum golpe sofrido – como aconteceu contra Bethe Correia – pode ser fatal.

A campeã já mostrou que está atenta: "Ela é a trocadora mais condecorada que temos em todo o MMA feminino. É definitivamente o meu maior desafio até hoje. Holly Holm é do tipo que pode aguentar 12 rounds de boxe, ela não é como as garotas com quem eu lutei. Ela é a melhor trocadora que eu já tive como rival, e a trocação é algo que aprendi tarde na minha carreira. Nunca espero que lutas sejam fáceis e rápidas. Ninguém sabe como uma luta vai rolar, é por isso que as pessoas ainda compram os pay per views."

Sobre o blog

Saiba o que acontece dentro e fora do octógono, relembre as grandes histórias e lutas que fizeram o vale-tudo se tornar o MMA. Aqui também será o espaço para entrevistas, análises, debates, polêmicas e tudo que faz do MMA o esporte que mais cresce no mundo.
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