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Na Grade do MMA

Ela construía robôs e estudava astrofísica. Agora, enfrenta sensação do UFC

Maurício Dehò

02/09/2015 06h51

Quando olha para sua rival e vê um golpe chegando, Alex Chambers tem de tentar tirar da cabeça as leis e fórmulas da física para não perder o foco e evitar levar um soco na cara. A australiana é uma estudiosa de carteirinha – ou o certo seria dizer "de diploma" -, que cursou astrofísica, chegou a montar robôs que lutavam boxe na faculdade, mas preferiu seguir o instinto de lutadora. Neste sábado, pega a sensação Paige Vanzant, uma prova de fogo em seu terceiro combate no UFC.

Chambers, uma nerd assumida de 36 anos, tem apenas sete lutas no MMA profissional, com cinco vitórias e duas derrotas. No UFC, perdeu na estreia, mas venceu Kailin Curran em maio, de virada, por finalização. E a idade mostra como ela se dividiu entre as carreiras. As coisas nunca foram fáceis para as mulheres no mundo das lutas, e ela ficou perto da aposentadoria.

Mesmo se parasse, ela certamente não morreria de fome, já que seu nível universitário não deixa dúvidas da sua capacidade intelectual. Alex sempre gostou de números. Por isso, na hora de escolher sua faculdade, enredou pelo caminho da física. Na Universidade de Sidney, conseguiu diplomas em ciência e engenharia mecatrônica. Também caminhou pela carreira de astrofísica, com um pé na robótica.

"Ciências sempre foi algo que amei, então, estudei física e matemática na universidade, e a astrofísica foi um dos assuntos que me interessou", contou ela, ao Vice.

Ao mesmo tempo, a opção de apostar no seu lado lutadora, desenvolvido desde os 8 anos no caratê – hoje é 3º dan na faixa preta – e com algumas experiências internacionais, martelava sua mente. "Quando comecei a lutar mais a sério, eu larguei tudo", contou ela, ao Courier Mail. "O plano original era ser uma engenheira, trabalhar com robótica. Mas, ao mesmo tempo, eu competia internacionalmente no caratê. Quanto mais longe eu ia, mais deixava os estudos em segundo plano. Mas, ainda gostava de física e astronomia, então, peguei meu diploma, apesar de querer apenas lutar MMA."

Sobre o ponto em que as carreiras se cruzam, ela disse, ao site do UFC, que construía robôs que lutavam boxe: "Eu sempre falo que tudo é física. Tem coisas quem vem para a luta, como a força ser massa vezes aceleração, então, estou sempre pensando nestes conceitos. Mas isso é meio que um problema. Quando penso demais, viro minha pior inimiga. Por outro lado, lutar é se preparar em todas as áreas que puder, para acionar uma memória muscular que vai funcionar ali na hora. Sempre pensei nessas coisas enquanto estava no laboratório construindo robôs lutadores. Quem sabe no futuro eu não retome."

No esporte, a transição do caratê para o MMA aconteceu quando ela descobriu uma academia em um fórum e apostou em fazer alguns treinos e se testar na modalidade. A estreia profissional aconteceu em 2010. Lutando principalmente como peso átomo (até 48 kg), categoria que não existe no UFC, teve como ponto de virada sua entrada no InvictaFC, evento só de mulheres. O convite a salvou de se aposentar do esporte e hoje ela luta no peso palha, até 52 kg.

"Eu fiquei perto da aposentadoria tantas vezes… Via os homens da academia deslanchando, mas para as mulheres era mais complicado. Eu não tinha adversárias na Austrália e uma lesão de ligamento me deixou seis meses parada. Então, parti para o Japão, onde o MMA feminino é um pouco mais forte. Mas eu estava tão desesperada para competir, que enfrentei uma rival duas divisões mais pesada e fui finalizada. Em outro momento, quando já voltava a falar do MMA no passado, meu técnico me ligou e quase derrubei o telefone. O Invicta queria assinar comigo."

O Invicta serviu como ponte para o UFC – os eventos são parceiros – e, depois de apenas uma luta na liga feminina, ela entrou no primeiro TUF feminino da história, conseguindo se manter na organização na sequência, ainda que não tenha vencido o reality show.

Hoje, Chambers treina nos Estados Unidos, na American Top Team, ao lado de nomes como a brasileira Amanda Nunes. Ainda assim, é azarão contra Paige Vanzant, a loirinha de apenas 21 anos que já é sensação na categoria palha. "Em toda a minha carreira, nunca fui a favorita. Isso não me pressiona", afirmou ela, que tem buscado um retorno às suas raízes de carateca e focar menos no muay thai. "Veja o que Lyoto Machida faz. Quero voltar a usar minha arte marcial."

Enquanto a luta não chega, Chambers às vezes recorre às suas paixões paralelas. "Ler novos estudos e observar as estrelas são ótimas maneiras de relaxar depois de um treino."

Chambers e Vanzant abrem o card principal do UFC 191, neste sábado, em Las Vegas, às 23h. A luta principal terá a disputa de cinturão dos moscas, com o campeão Demetrious Johnson enfrentando mais uma vez John Dodson.

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