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Na Grade do MMA

Por que o MMA é um esporte implacável e derruba tantos ícones?

Maurício Dehò

16/12/2015 13h16

Análise: Derrota não foi golpe de sorte, mas Aldo merece revanche

UOL Esporte

Em um mês, vimos dois ícones do MMA no chão, desacordados. Ronda Rousey e José Aldo, então dominantes com seus cinturões do UFC, perderam a majestade. Ela tomou uma surra, que se estendeu por seis minutos. Ele levou um único soco, no queixo, e viu o reinado ruir em 13 segundos. Em comum, a dupla mostra uma realidade dura da modalidade: o quão implacável é o MMA, que teima em não deixar que seus ídolos sejam eternos.

Uma certeza na cabeça de todos os lutadores é a de que, em certo momento, todos vão perder. Aconteceu com Fedor Emelianenko, Anderson Silva, Georges St-Pierre… Royce Gracie. Mesmo na hora de se aposentar, é difícil lembrar de casos em que, após uma longa carreira de conquistas, o adeus seja em alta. Randy Couture, BJ Penn, Minotauro…

Mas o detalhe é o quão destruidoras são as derrotas quando um astro está no auge. Parece que lutadores de MMA nunca perdem. São arrasados, atropelados e, no fim, até humilhados.

Um conjunto de fatores ajuda a desvendar a tal implacabilidade [sim, a palavra existe] do MMA e explicar como os tropeços nos cages e ringues são, boa parte das vezes, mais sentidos do que em outros esportes.

A primeira é o fato de ser um esporte individual. Como no tênis, natação, atletismo e tantos outros, quando um atleta só depende de si, as responsabilidades são maiores, a pressão sobre os ombros pesa e não há com quem dividir as desculpas por um fracasso.

É claro que mesmo nos esportes coletivos há lances individuais, um pênalti, uma cesta decisiva… Mas, no caso do MMA, um golpe, apenas, pode transformar um azarão em um vencedor. Mais que uma noite ruim, uma lesão ou qualquer outro impedimento, um atleta em 100% de condições, favorito, pode simplesmente ser surpreendido por um soco, que seja.

Certamente dá para comparar tudo isso com o boxe, por exemplo. Mas, na nobre arte, são tantas entidades com igual importância e tantos cinturões em disputa, que nem sempre os campeões enfrentaram seus melhores rivais. O boxe tem um histórico de lendas que se foram invictas, com a imagem límpida: Rocky Marciano, Floyd Mayweather – apesar de algumas vitórias polêmicas -, Joe Calzaghe…

O MMA é a mistura de artes marciais, como o nome diz, e traz especialistas em diferentes áreas. Um ás do jiu-jítsu facilmente encontrará alguém melhor em pé. Um senhor da trocação pode ser amarrado na grade e no chão e acabar "desarmado", sem ação. O campo de possibilidades é amplo, e exige superlutadores, que nem sempre poderão ter destreza em tudo.

Bote na equação, também, quantas chances um lutador tem para se recuperar de uma derrota. Novak Djokovic, número 1 do tênis, teve 88 partidas só em 2015. Perdeu seis, mas ninguém questionou o fato de ele ser o melhor do momento. No MMA, é difícil lutar mais de três vezes por ano. Encerrar a carreira com mais de 40 lutas é algo que só uma minoria alcança. Enquanto no futebol um jogador pode perder um pênalti no fim de semana, mas marcar o gol da vitória na quarta-feira, um tropeço no UFC rende meses e meses engasgado na garganta de quem caiu.

Pois é, o MMA ainda mexe com o brio. Perder, todos perdem. Mas só nas modalidades de luta você o faz com a cara no chão, retomando a consciência sem saber o que lhe acertou – e ainda pode ter um microfone colocado na sua cara para explicar o que aconteceu, instantes depois de ser nocauteado.

Do céu ao inferno, dez anos de invencibilidade podem ser derrubados em 13 segundos. José Aldo que o diga.

Quem ainda tenta brigar com essa realidade é Jon Jones. Até hoje, ele só perdeu para si, dentro e fora do octógono. Dentro, tem como único revés uma desqualificação, por desferir um golpe ilegal. Fora, teve retirado o cinturão por problemas com a Justiça. Na prática, segue invicto, ninguém o derrotou. Mas, se Jones nunca perder, será apenas a exceção que confirma a regra.

Esportes, é claro, são imprevisíveis. Nisso está a graça de todos eles. Mas que no MMA as surpresas na "caixinha" saltam mais do que em outras modalidades, acho que não há como negar… Qual será a próxima?

Sobre o blog

Saiba o que acontece dentro e fora do octógono, relembre as grandes histórias e lutas que fizeram o vale-tudo se tornar o MMA. Aqui também será o espaço para entrevistas, análises, debates, polêmicas e tudo que faz do MMA o esporte que mais cresce no mundo.
Contato: nagradedomma@gmail.com

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