Quando o UFC flerta com o circo

Esse é o mais novo contratado do UFC (Crédito: Divulgação/WWE)

Depois de cinco semanas de merecidas férias, tempo em que esse espaço foi muito bem ocupado pelo amigo Maurício Dehò, volto com uma notícia que me causou – no mínimo – estranheza, para não falar alguma irritação. Antes do UFC 181 no último sábado, Dana White anunciou que tinha contratado CM Punk.

Quem?!?!

Phil "CM Punk" Brooks, 36 anos, foi um dos maiores astros do WWE na última década. Não sabe o que é WWE? É aquele evento gigantesco de lutas armadas, de mentirinha, que tem uma enorme legião de fãs nos Estados Unidos mas que, por aqui, nunca pegou – tirando alguns poucos momentos de sucesso com os programas de TV Telecatch e Os Reis do Ringue nas décadas de 60 e 70.

É isso: o maior e mais importante evento de MMA do mundo, aquele em que lutadores profissionais podem batalhar uma vida inteira para conseguir chegar, contratou um atleta que nunca fez um único combate de artes marciais mistas. Seu cartel é 0-0.

Dana White sabe muito bem o que está fazendo com essa contratação. Depois de um 2014 para se esquecer, está atirando para todos os lados para trazer de volta no próximo ano a atenção que perdeu nesta temporada. Sim, nesse caso ele apelou mesmo. Vai aproveitar a enorme base de fãs que CM Punk traz do WWE e ainda aproveita toda a publicidade em cima de ter a luta de estréia de um cara que fazia apenas combates de mentirinha. Todos os fãs de MMA vão ter a curiosidade de ver essa luta tão sui generis.

"Ele vem a todos os eventos, é um grande fã do UFC. Assim que acabou seu contrato com o WWE, ele me ligou e disse 'eu quero lutar no UFC', e falei que ele não tinha nenhuma luta. Mas ele quer tentar e já é uma grande estrela. Resolvi lhe dar uma chance. Concordo com o que todo mundo está falando e também estou cético, mas ninguém vai saber se não tentarmos. Ele merece essa chance", explicou o presidente do UFC.

Mas não há como negar que isso pode ser um tiro no pé na credibilidade do próprio Ultimate. É quando ele flerta com o circo que é o WWE – que é apenas entretenimento e não esporte. Quer dizer então que os caras que fazem aqueles malabarismos estão prontos para lutar MMA? Mais que isso, houve muita chiadeira de atletas – de dentro e de fora do UFC – questionando se CM Punk merece estar na maior franquia de lutas do mundo, enquanto outros experimentados lutadores seguem em compasso de espera.

A grande questão é que Dana White e seus pares tem um exemplo parecido com esse e que deu muito certo quase sete anos atrás. Ainda na época das vacas magras, principalmente entre os pesos pesados, eles trouxeram o astro do WWE Brock Lesbar, então com uma única luta profissional de MMA. Apesar da derrota na estréia no UFC, rapidamente se recuperou, se tornou campeão da categoria e é, até hoje, o recordista de venda de pacotes de pay-per-view da franquia.

(Dizem as más línguas que essa vinda de CM Punk pode azeitar um possível retorno de Brock ao UFC, já que seu contrato com o WWE acabou de expirar.)

O novo contratado agora tem alguns meses para treinar e mostrar se será um novo fenômeno como Lesnar ou vai passar vergonha no octógono – junto de seus contratantes. Dificilmente haverá um meio termo entre essas duas possibilidades.

"Eu quero, na minha infinita sabedoria do alto dos meus 36 anos, ser menos cabeça quente e ver de onde estão vindo as provocações. E eu entendo. É a opinião delas, demais isso. Meu trabalho será mudar a mente deles, apesar de que não será fácil. Mas não trabalho com negatividade. Acho que faz parte do jogo ter lutadores me provocando e dizendo isso ou aquilo. Só espero que sejam criativos, porque me chamar de lutador de mentirinha é um pouco óbvio", rebateu o lutador.