O que esperar do novo - e real - Jon Jones no UFC?

"Eu acho, sim [que estava tentando ser alguém que eu não era]. Era realmente falso o que eu fazia. Crescer me ajudou a ver isso"

Foi preciso passar por um inferno: acidente de carro com uma grávida, porte de drogas, fuga da cena e uma prisão. Mas, enfim, Jon Jones mostrou sua real cara. Em uma entrevista de uma hora, feita pelo jornalista canadense Ariel Hewani para o site MMA Fighting, o ex-campeão dos meio-pesados do UFC resolveu soltar o verbo e, mais que isso, mostrar quem é de fato, como explicou na frase acima.

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Jones deixou claro que enquanto esteve no UFC, agia como ele achava que deveria agir, se comportava como parecia que um campeão tinha de se comportar. Até seus amigos e familiares perguntavam para Jones: "Por que você está fazendo isso?". Mas o que pudemos ver é que isso deve mudar daqui para frente. Provavelmente teremos um Jon Jones muito mais sincero e menos alinhado com a direção do UFC. Mas, a que ponto isso afetará sua fome de vencer e sua performance? O novo Jones será melhor ou pior do que o dominante campeão de antigamente?

Nos seus tempos áureos, Jones teve dificuldades em virar um ídolo fora do octógono. Sua técnica era inquestionável, todos estavam vendo o melhor lutador em atividade e foi assim que ele despachou uma lista de oponentes da mais alta qualidade. Mas sua personalidade não arrebatou os fãs. Ora extremamente respeitoso – com Lyoto Machida, por exemplo -, ora vivendo dramas e brigas – com Rashad Evans e Daniel Cormier -, seu comportamento nunca soou real.

Essa impressão começou a ser confirmada com uma detenção ao bater o carro quando dirigia bêbado, em 2012, e ao ser pego com cocaína em um exame antidoping no começo deste ano. E as dúvidas acabaram com a prisão em abril, pelo acidente em que feriu uma grávida.

"Crescendo eu via Michael Jordan e Tiger Woods e eram os campeões ideais para mim. Achava que não podia falar palavrão numa entrevista, mas com meus amigos falo o tempo todo. Achava que tinha de me vestir de uma certa forma, agir de uma certa forma e ser de uma certa forma. E tinha medo de ser eu mesmo. Levou um tempo para eu perceber que sou um campeão, com ou sem aquele cinturão. E sou um campeão imperfeito".

A Helwani, Jones parece se abrir. Não se exime de culpas, admite seus erros, fala pausadamente, pensando em cada resposta do seu uso constante de bebidas e maconha e de um estilo de vida que seria insustentável se ele não fosse um gênio do octógono. E ainda faz críticas ao UFC, principalmente por conta de um suposto acobertamento de caso de doping de Vitor Belfort antes da luta entre eles, em 2012.

Esta faceta de um Jones mais real, vale observar, apareceu só uma vez, na época em que recusou enfrentar Chael Sonnen em 2012 e com isso um evento inteiro teve de ser cancelado. Dana White e seus pares não pouparam críticas ao lutador e ele acabou falando algumas verdades, usando principalmente as redes sociais.

Falar sobre tudo o que passou abertamente é uma vitória para qualquer um em processo de recuperação. O que resta saber é se, internamente, Jon Jones será afetado de alguma forma. Lutadores não são feitos só de treinos e, como ele tem mostrado nas redes sociais, de puxar ferro. É preciso que a mente esteja funcionando junto e dê base para que o norte-americano volte a exibir todo o seu potencial.

Os vídeos de levantamento de peso, por sinal, são a principal mostra de um Jon Jones focado, faminto e pronto para retomar de onde parou. Jones chegou aonde chegou sozinho, lutando – e lutando bem pra burro. Não será diferente agora. Para retomar o posto de melhor do mundo, tudo depende dos seus próprios esforços, de como sua cabeça vai se comportar nesta nova fase e da resposta que será dada no octógono: o Jon Jones real é melhor que o Jon Jones inventado?