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Cigano revela que problemas pessoais e de saúde afetaram sua atuação e desabafa sobre 'entregada'

Jorge Corrêa

11/01/2013 13h31

Quase duas semanas depois da luta, já fisicamente recuperado e sem inchaços no rosto, o agora ex-campeão dos pesados do UFC Junior Cigano já conseguiu fazer uma auto-avaliação de sua derrota para Cain Velasquez. Ainda nos Estados Unidos, onde está cumprindo compromissos com patrocinadores, ele teve uma conversa aberta com o blog sobre o que aconteceu – antes e depois da luta no UFC 155.

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Em um papo via Skype, ele revelou que dois problemas afetaram sua atuação: um pessoal – que ele não quis entrar em detalhes ou falar o que era – e outro de saúde: ele treinou demais (o overtraining), o que pode ter afetado sua condição física no combate. "Eu estava tão bem que acabei cruzando a linha. Essa foi a explicação dos médicos. A minha é que não estava com a cabeça boa, estava com problemas pessoais e não entrei bem mentalmente na luta."

Cigano ainda aproveitou para desabafar, mandar um recado para quem disse que ele teria entregado o combate, de olho em uma terceira e lucrativa luta. "O principal motivo é o respeito que eu tenho comigo mesmo e depois pelo respeito que eu tenho pelos meus fãs e com o próprio UFC, com a instituição UFC."

Ele ainda falou sobre melhorias em sua preparação, sua possível mudança para São Paulo em seu próximo ciclo de treinos e como vai ficar sua equipe técnica.

Como você está agora, 13 dias depois da luta? Estou bem. Digo, fisicamente. Claro que fiquei muito triste, mas já estou melhorando. Fisicamente não tive problema nenhum durante a luta, não tive grandes lesões, só fiquei muito inchado, porque tomei muitos socos e ele me acertou facilmente.

Já conseguiu assistir algumas vezes ao combate para avaliar o que aconteceu? Eu assisti e tentei entender o que se passou. O Velasquez fez muito bem o jogo dele, impôs sua tática, mas eu não reagi. Eu estava lá, mas mentalmente parecia que eu não estava. Tinha coisas que aconteceram na luta que eram normais para mim, que nos treinos na academia eu respondo muito bem, mas ali não consegui.

Mas onde estava seu erro? Eu só o seguia e me defendia, não fazia mais nada. O forte, em todas as minhas lutas, sempre foi atacar e ir para frente, mas dessa vez eu só andava para trás e me defendia, não fazia mais nada. Eu revi a luta e percebi essas coisas acontecendo, vendo as oportunidades que eu tinha de fazer algum outro movimento e não fazia. Realmente foi muito frustrante.

E o que aconteceu? Por que você teve essa atuação tão abaixo das anteriores? Realmente foi minha cabeça. Estava com algumas coisas pessoais acontecendo, um pouco da minha atenção faltou por causa disso. E tem outra coisa. Logo depois da luta eu fui para o hospital e fiz um exame, que deu que minha creatina estava muito alta. O normal é ficar até 300, a minha estava em 1400. Também tive problema na urina e nos rins.

Mas os médicos falaram o motivo desse problema de saúde? A explicação dos médicos é que eu passei da linha, tive um overtraining, e os problemas podiam ter acontecido até antes da luta. E esse nível elevado da creatina também pode ter como reação tirar a atenção da pessoa. Eu estava tão bem que acabei cruzando a linha, treinei demais. Essa foi a explicação dos médicos. A minha é que não estava com a cabeça boa, estava com problemas pessoais e não entrei bem mentalmente na luta.

Nota do blogueiro: "A enzima creatina quinase (CK) atua na geração de energia muscular. Quando ela é detectada em um nível muito elevado, pode mostrar um impacto muito intenso na atividade muscular. É um indicador de sobrecarga, de overtraining, ou de lesão muscular. O principal sintoma de seu excesso é a perda de força" – Explicação do médico fisiologista Turíbio Leite de Barros, que trabalhou por muitos anos no São Paulo, ao blog

Avaliando tudo isso, o que você fará diferente daqui para frente? Daqui para frente vou tomar mais cuidado, não vai ser apenas só treinar e levar o corpo ao limite o tempo todo, preciso saber como meu corpo está reagindo àquilo tudo. Precisamos ser um pouco mais profissionais em relação a isso. Vou fazer exames durante a preparação. Essa luta também me ensinou que temos de estar com a cabeça mais forte, pensar melhor nas coisas de estratégia e acompanhar melhor a parte tática.

Se você puder escolher, prefere enfrentar o Cain direto, novamente, ou fazer uma outra luta antes? Para falar a verdade, eu quero o Cain. Eu ganhei a primeira, ele fez um bom trabalho na segunda e acho que essa terceira luta tem que acontecer. Ele é o campeão e eu quero lutar com ele. Eu sei que tem gente na fila, tem o Overeem e o Pezão. Se eu tiver que enfrentar alguém antes dessa revanche com Velasquez, eu vou enfrentar. Mas o que eu quero mesmo é o Cain, agora.

Queria que você falasse sobre algumas pessoas estarem o acusando de ter entregado a luta… Nunca. Eu nunca faria isso. O principal motivo é o respeito que eu tenho comigo mesmo e depois pelo respeito que eu tenho pelos meus fãs e com o próprio UFC, com a instituição UFC, que é muito séria. Eu nunca faria isso de entregar uma luta, nem que fosse o maior dinheiro do mundo. Tudo que eu conquistei na minha vida foi com muita dificuldade, foi com muito trabalho, e indo contra a opinião da maioria, sempre. Provando que eu era capaz, mesmo que as pessoas não acreditassem. Eu perdi essa luta porque o Velasquez foi melhor dessa vez.

Você mantém a ideia de se mudar para São Paulo em seu próximo treinamento? Vai manter o Luiz Dórea e o Ramón Lemos à frente do seu time? Posso ficar em São Paulo sim. Vou visitar o Corinthians quando voltar e tive uma bela estrutura lá. Se avaliar que será bom para mim, vou ficar direto em São Paulo. Na minha equipe não muda nada. Meu time é muito empenhado, que trabalha sempre muito duro. Vou apenas acrescentar, trazer mais pessoas para passarem suas experiências. É um aprendizado, ninguém sabe tudo. Todos aprendemos muito.

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