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Na Grade do MMA

Ele não quer ser o Dana White do Brasil, mas já prevê UFC em novo patamar

Jorge Corrêa

08/04/2015 06h01

Giovani Decker entre Carlos Condit e Thiago Pitbull

Giovani Decker entre Carlos Condit e Thiago Pitbull

A ideia não era falar com a imprensa. Giovani Decker iria apenas fazer uma aparição na encarada entre Thiago Pitbull e Carlos Condit – ficaria entre os protagonistas do UFC Goiânia em 30 de maio. Era a primeira vez que ele representava o maior evento de MMA do mundo, era seu primeiro dia de trabalho à frente do UFC no Brasil.

Depois de dez anos trabalhando na Asics, onde seu último cargo foi o de presidente da marca no país, ele agora é o novo CEO do Ultimate no Brasil. No português mais claro, ele é agora o chefão da companhia por aqui, substituindo Grace Tourinho. Entre um sorriso e outro, além de muitos apertos de mão, ele se sentiu a vontade para dar sua primeira entrevista no cargo, apesar de ainda estar no início do contato intenso com o mundo do MMA.

Conversei com ele por pouco mais de 10min e, apesar de não estar 100% familiarizado com o evento, mostrou muita empolgação e que estudou bastante nas duas semanas entre ter sido anunciado e assumir o cargo. O gaúcho também fez questão de refutar qualquer comparação com seu chefe Dana White, por quem já alimenta grande admiração.

Quais foram suas primeiras ligações ou experiências com o UFC e o MMA? Eu era amante das grandes lutas, para ser sincero, principalmente no início do MMA, com o Royce e Rickson [Gracie], depois tive um tempo de limbo e voltei para ver as lutas de Cigano, Anderson, Murilo Bustamante. Todos os campeões eu acompanhava, mas não profundamente. Volto com tudo!

Mas você, como manager do mundo corporativo, já via algum potencial no UFC e no esporte? Eu tanto via tudo, que na minha antiga empresa eu tentei implementar um projeto para patrocinar e entrar no MMA, conversei com atletas, com os irmãos Nogueira. Tínhamos até acertados pontos, isso seis anos atrás. Então eu via o esporte com muito bons olhos. Não via como uma simples luta, via como esporte, via tudo que realmente acho que ele traz, como inclusão social, saúde através da preparação física, esses caras são grandes atletas, é impressionante a forma física deles. Eu via uma grande oportunidade. Se olhar o perfil do fã, é um cara jovem, apaixonado, muito próximo do torcedor de futebol. Tem todos os pontos para crescer.

Qual é seu primeiro objetivo ou principal meta como novo CEO do UFC no Brasil? Tudo na vida são oportunidades, a empresa fez um trabalho maravilhoso até aqui, necessário, fez eventos do zero, criou bons eventos. Agora é a hora de levar para outro patamar. Agora é sentar e conversar internamente para ver todas as oportunidades e criar um plano consistente para ir à frente. O que posso adiantar é que queremos fazer coisas diferentes para o público em geral, fazer coisas que agreguem e que sejam novas experiências para o consumidor do UFC.

Mas, para vocês, o quão longe o UFC pode chegar no Brasil? Eu quero ser o líder de uma equipe, que inclui os atletas e a imprensa, que vai levar o UFC para esse novo patamar. Se tem um esporte que pode chegar perto do futebol, é o UFC, é o MMA. Sempre brinco que futebol aqui é uma religião e o UFC pode chegar perto disso. Quem sabe ser lembrado lá na frente como o líder dessa mudança de patamar. É o tipo de legado que fica na memória das pessoas e é isso que eu quero.

Como foi seus primeiros contatos com o Dana White? Dana é um cara muito apaixonado, que mistura muito sua vida pessoal com o UFC, tem aquilo dentro dele, é um amor impressionante, isso serve de inspiração para todo mundo. O primeiro contato foi o melhor possível, ele tem um senso de humor apurado, um cara inteligentíssimo. No primeiro dia já saiu brincando comigo, aqui no Rio, que ficamos mais próximos foi demais. Ele é um cara super-humano, um cara que ama muito o esporte. Impossível um cara que defenda tanto esse esporte quando ele.


Mas você se vê como um futuro "Dana White do Brasil"? Não tenho nenhuma pretensão de ser o Dana White do Brasil, eu sou o Giovani. O que puder ajuda-lo na organização no Brasil, eu quero fazer. O Dana é o Dana, ele é insubstituível, um cara sensacional , ele parou as ruas no Rio, como uma celebridade mundial do futebol. Nem querendo vou chegar perto disso. O Dana tem uma coisa que as pessoas às vezes não entendem, de ele não ter frases prontas, ser espontâneo e completamente apaixonado. Diferente dos cartolas do Brasil, ele expõe os problemas. E isso faz 99% das pessoas gostarem dele.

O Dana White já te contou o sonho que tem de fazer um evento gigante em um estádio de futebol no Brasil? Sendo muito sincero, não sabia desse sonho do Dana então agora é meu sonho também. Não estou prometendo nada para ninguém, mas se o Canadá conseguiu colocar 55 mil pessoas, acho que o Brasil pode colocar muito mais gente em um bom evento, bem organizado, um bom card, quem sabe até bater o recorde do Pride, com 90 mil pessoal no estádio nacional do Tóquio. Por que não? É algo viável e vai remeter ao passado. É repetir algo que já fizemos na época do vale-tudo na década de 1960 e 1970. Com o amor que os torcedores tem pelo UFC, tenho certeza que é completamente viável.

Dana White tem um contato muito próximo com seus lutadores. Você pretende fazer o mesmo? Eu preciso ser próximo dos lutadores, ele são os principais ativos da empresa, são muito importantes, temos de ter carinho pelo atleta, ele que faz o show acontecer. Vou chegar com meu estilo e com minha seriedade para mostrar ao lutador o que quero dele e do esporte em geral.

Mas já iniciou essas conversas? Já está pensando, por exemplo, nos próximos títulos que o Brasil pode conquistar? Eu tive duas semanas de transição, fiquei estudando lutas, possíveis lutas, futuros card, fui para Flórida ver o Vitor treinar, já conversei com o Anderson, com o Barão, tive contato com o Aldo. Estou, na medida do possível , sentando com todos eles, ouvindo-os. Quero ter bastante humildade com vocês da imprensa, com o fã, com o atleta. Tem muita coisa rica e estou chegando agora. Vocês estão aí há muito anos. O Vitor é da época do vale tudo! Seria muita falta de inteligência se não ouvisse esses caras. Já estou torcendo por todos eles e me sinto muito incorporado ao UFC Brasil. Podemos viver agora um momento de ouro com até cinco cinturões. Algo inédito e incrível.

Sobre o blog

Saiba o que acontece dentro e fora do octógono, relembre as grandes histórias e lutas que fizeram o vale-tudo se tornar o MMA. Aqui também será o espaço para entrevistas, análises, debates, polêmicas e tudo que faz do MMA o esporte que mais cresce no mundo.
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