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Na Grade do MMA

Maldade ou adrenalina? Lutadores exageram no castigo e geram polêmica

Maurício Dehò

24/09/2015 06h01

Poucas coisas são mais condenáveis no MMA do que seguir batendo em um rival depois que ele já não tem condições de se defender. Mas, vira e mexe alguém exagera e acaba prolongando uma finalização ou socando além da conta após um nocaute. No último fim de semana, o russo Vagab Vagabov seguiu tentando agredir seu oponente com joelhadas e socos, mesmo após a luta ter acabado na intervenção do árbitro. Mas, por que isso acontece? É só maldade do lutador?

Se a prática é condenável, então tem de ser combatida e evitada pelos lutadores. Mas alguns fatores acabam levando a esses desfechos. O primeiro deles é o medo de interromper qualquer seja o castigo e a vitória não ser confirmada pelo árbitro. Há também o calor do momento, aquela adrenalina correndo e atrapalhando um pouco as ações e, claro, também existem os casos em que um soco a mais é dado apenas pelo bel prazer do agressor.

Toquinho contra Mike Pierce (Divulgação)

Veja o exemplo de Rousimar Palhares, o Toquinho, envolvido em diversas polêmicas por segurar finalizações e lesionar rivais.

O brasileiro – sempre com seu jeito simples -, jura  que não segura suas chaves para machucar, mas é constantemente detonado por conta disso, tem um processo aberto na Comissão Atlética de Nevada e pode ser punido por prolongar a finalização em Jake Shields no WSOF. Ele venceu o rival em agosto, no terceiro round, mas dias depois teve o cinturão cassado pela organização.

"Eu tenho meu ponto de vista, não fiz nada errado. Fui para fazer o que tinha em mente, que era vencer a luta", afirmou Toquinho, ao blog. "Na luta acontecem coisas muito rapidamente e pode ser interpretado de vários jeitos. Mas eu nunca entrei para machucar alguém. Nem com as provocações dele (Jake Shields). Quando você entra lá, fica tudo para trás. Eu estava só fazendo meu trabalho, e gosto de fazer bem feito."

Por "bem feito", Toquinho quer dizer que tenta garantir a vitória incontestável. Em uma luta no Rio, pelo UFC, ele viveu um momento embaraçoso, quando pensou ter nocauteado o rival e saiu comemorando. No entanto, o árbitro não confirmou e mandou ele voltar à luta – o mineiro acabou vencendo Dan Miller por pontos, em 2011.

Ele diz não ter ficado "traumatizado", explica que tenta seguir as instruções do árbitro. "Antes da luta com o Jake Shields, o árbitro falou para eu não largar até ele chegar. Na hora que ele chegou, eu parei", alega. "Acho que o juiz tem que ser mais rápido nesses casos, chegar e jogar o cara".

Entre os casos mais maldosos, há um emblemático. No UFC 100, Michael Bisping – como sempre -, falou pelos cotovelos e criticou muito Dan Henderson. O norte-americano conseguiu o nocaute com um soco brutal. Não contente com ver Bisping caindo, desmaiado, ele ainda saltou para cima do inglês e lhe deu mais um soco. "Ali foi maldade. Mas o Bisping falou demais…", relembra Toquinho.

O árbitro brasileiro Roberto Thomaz já teve trabalho com esse tipo de lance. Certa vez, finalizou um lutador que não parava de bater em seu rival, já nocauteado.

"Árbitro que não aparece na foto da cena final da luta estava errado e mal posicionado", defende Roberto, um policial que começou a praticar lutas e virou árbitro. "A obrigação da nossa função é proteger o lutador que se encontra em momento desfavorável. Então, eu separo, aparto, tiro de cima, seguro, imobilizo… Mas não deixo bater em lutador apagado ou indefeso."

Para ele, "a maioria bate mais devido ao calor da luta, a adrenalina. Mas já vi casos de excessos, até por orientação da equipe. Já desclassifiquei lutador vitorioso, por atitude incompatível com o MMA."

O trabalho para que isso deixe de ocorrer tem de ser feito desde a academia. O técnico Diego Lima, que treina Thomas Almeida e Felipe Sertanejo, entre outros, na Chute Boxe de São Pauilo, salienta que é fácil de notar as intenções dos lutadores. E que os casos extremos tem de ser punidos com vigor.

"Quando um lutador tem muitas lutas e aconteceu uma vez, é algo que pode ocorrer. Mas quando é repetido, 5, 10 vezes, aí é um absurdo. Estamos falando de um ser humano do outro lado, que tem seu corpo como instrumento de trabalho e pode perder sua carreira. Nesses casos, tem que ser banido do esporte", defende Lima, que vê na junção do papel do árbitro com um zelo do lutador para garantir a integridade de todos. "O Thomas, por exemplo, deu a joelhada voadora no Brad Pickett e já viu que ele caiu nocauteado. Percebeu e parou. O lutador tem noção do que está acontecendo lá."

No caso do fim de semana, além de ser suspenso pelo evento por cinco meses, Vagabov pode ser punido também pela comissão atlética que regulamentou esta edição do WSOF. Ele e sua equipe se desculparam pelo ocorrido, mas a organização preferiu manter a pena – como fizera com Toquinho -, para dar exemplo aos seus lutadores.

Sobre o blog

Saiba o que acontece dentro e fora do octógono, relembre as grandes histórias e lutas que fizeram o vale-tudo se tornar o MMA. Aqui também será o espaço para entrevistas, análises, debates, polêmicas e tudo que faz do MMA o esporte que mais cresce no mundo.
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