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Na Grade do MMA

McGregor e UFC vivem dilema: céu é o limite ou é hora de capitalizar?

Maurício Dehò

14/11/2016 08h24

Depois de fazer todos tirarem o chapéu para sua atuação e toda a história que construiu no UFC, culminando com a inédita posse de dois cinturões simultaneamente, Conor McGregor tem um amplo cardápio de opções para seu futuro – algo que pode demorar, já que o irlandês anunciou que será pai. Mas, definir o próximo passo é viver um dilema: arriscar tudo, a cada luta, como ele tem feito, ou dar passos mais seguros e pensar com o bolso?

Se, por um lado, só a ousadia de McGregor o levou tão longe, lutando em três categorias e ganhando o direito de nocautear o então campeão dos leves Eddie Alvarez em Nova York, num dos cards mais importantes da história do Ultimate, por outro, a chance de ver tudo ruir, também aparece muito próxima. Basta relembrar as duas lutas com Nate Diaz.

A tendência de McGregor é achar que o céu é o limite. Usar seu papel simbólico de "dono" do UFC para seguir metendo banca e, se der na telha, até querer mais um título. Mas, pensando friamente, com a cabeça dos donos do UFC, por que colocar seu maior astro toda hora no "all in", apostando todas as fichas em um sucesso bastante possível, até provável, mas incerto?

Evento após evento, McGregor prova que o Ultimate precisa dele. Em um momento pós Spider e GSP, com Ronda em recuperação e com Jon Jones metido em cilada atrás de cilada, o irlandês apareceu como um presente dos céus. Mas, se ele sair de cena ou perder seu poder, a coisa complica.

Talvez seja o momento de McGregor olhar com mais calma para o cenário que vê pela frente, ou de o UFC tomar mais as rédeas e proteger seu astro. Fazer o que acho um pouco mais comum no boxe, em que se dosa mais o nível dos rivais, até chegar a hora certa para as unificações de cinturão – que na nobre arte acontecem no mesmo peso, já que há quatro grandes entidades que dão títulos mundiais.

Que McGregor vai render dinheiro, isso já é óbvio. Mas a bolada de uma superluta pode ser menor do que se ele conseguir fazer mais combates, garantir mais vitórias e uma longa carreira no octógono. MMA é isso. Quanto mais o cara lutar, mais grana vai ganhar…

Dito isto, vamos às opções. E os riscos que McGregor correria:

Há dois caminhos especialmente complicados, se Conor McGregor quiser seguir o percurso megalomaníaco de agora. A primeira, quase surreal, é desafiar o campeão dos meio-médios, Tyron Woodley, que empatou com Stephen Thompson neste mesmo UFC de Nova York, em sua defesa primeira defesa de cinturão. Seria muito diferente lutar com Woodley nos meio-médios do que foi enfrentar Nate Diaz. Risco total.

Abdicando do cinturão dos penas e permanecendo como leve, que parece algo natural a se fazer, até pela saúde do irlandês, o grande nome que aparece é o de Khabib Nurmagomedov. O russo venceu com pompa Michael Johnson em Nova York e já pediu sua chance. O problema aqui está no fato de os estilos de luta não casarem. Pior para McGregor. O jogo de derrubar, amassar e finalizar de Nurmagomedov são horríveis para o novo campeão. Seria a luta mais arriscada a se fazer no peso leve.

O caminho que, na opinião deste que vos escreve, seria boa para capitalizar e ainda proteger a galinha dos ovos de ouro, seria dar uma ignorada em Khabib e jogar como primeiro desafiante ao cinturão Tony Ferguson. O norte-americano vem de boa vitória contra Rafael dos Anjos, tem incríveis nove triunfos consecutivos e, portanto, tem credenciais para essa posição. Se venceu Alvarez, não há por que não crer que McGregor passaria por Ferguson, o que já não seria possível dizer no caso de Khabib.

E, por fim, há a opção menos provável de McGregor voltar ao peso pena. Ele ainda não se posicionou sobre qual cinturão deixará de lado após esse UFC 205. Mas, voltar aos penas seria dar uma nova chance a Aldo, campeão interino, e isso faz menos sentido após a conquista deste sábado. Outros rivais do peso também não seriam de causar tanto medo – ou de vender tantos pay-per-views. Seria um caminho seguro, porém menos rentável.

Basicamente, são essas as trilhas que a encruzilhada de McGregor tem à frente. Resta saber se ele tem a paciência e a visão mais a longo prazo de construir um reinado de anos e anos, com chances de um dia ser chamado de melhor de todos os tempos, ou se o impulso pelos desafios grandiosos e a fama imediata o guiarão mais uma vez.

Por Mauricio Dehò

Sobre o blog

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