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Sacríficio na balança e “monotemática” do jiu-jítsu causam outro tropeço Gracie

UOL Esporte

10/07/2013 15h00

RogerGracie

Roger Gracie lamenta derrota em sua estreia no UFC, vindo do Strikeforce (Foto: Donald Miralle/Zuffa LLC/Zuffa LLC via Getty Images)

Por Maurício Dehò

O sobrenome Gracie ainda é – e provavelmente nunca deixe de ser – um dos mais fortes no mundo das lutas, ainda mais no MMA, já que Rorion criou o UFC e Royce foi seu primeiro campeão. Mas as novas gerações ainda não conseguiram criar um ídolo como os que passaram, ainda na época do vale-tudo. Roger Gracie é a mais nova esperança, mas começou com o pé esquerdo no Ultimate, neste sábado, ao perder por pontos para Tim Kennedy, na edição 162. Dois fatores foram chave no revés: seu peso e a falta de gás causada por ele, e a insistência de que o jiu-jítsu sempre os salvará.

Comecemos falando do peso, que acabou sendo o diferencial no decorrer do combate. Ver um cara de 1,93 m de altura lutando no peso médio, de 84 kg, e encarando um rival 13 cm mais baixo é pensar que Roger teria uma vantagem incrível. Mas não foi o que se viu. O brasileiro cansou após apenas um round, deixando a dúvida se, mesmo com bons resultados anteriores na sua carreira, a opção de se sacrificar tanto não tenha de ser trocada por uma incursão no peso meio-pesado.

O faixa-preta de jiu-jítsu acabou deixando muito claro que o esforço de chegar tão leve para uma pesagem é arriscado demais. Ele consegue? Sim, é claro. Mas o que adianta cortar tudo isso de peso se não houver uma recuperação também boa e que lhe permita lutar com 100% da sua disposição?

O fisiologista Claudio Pavanelli, que trabalha com nomes como Minotauro e Toquinho, falou deste processo. Sem falar especificamente sobre Roger Gracie, analisou de maneira geral o processo de corte de peso:

"Essa questão depende de uma série de fatores. A altura importa, mas a constituição física como um todo é que determina a categoria de um atleta. O importante é que não se pode ter a preocupação apenas com a perda de peso. Ela não pode ser muito agressiva e o que importa e recuperar o peso com qualidade. É isso que define se um lutador vai suportar um combate de três, ou cinco rounds, com a intensidade que é necessário", explicou.

Em Las Vegas, Roger se cansou, também, porque logo no primeiro round teve uma boa chance ao pegar as costas de Kennedy e forçou o que pôde para finalizar. Não deu, e a chance perdida custou ao ex-Strikeforce. A partir daí, arrastou-se no octógono, dando espaço a tomar golpes do norte-ameicano e já não conseguindo fazer o necessário para levar a luta ao chão.

Era difícil de imaginar este cenário, mas Kennedy é quem acabou por algumas vezes colocando Roger Gracie em risco no solo, algo que não se esperava ver do dono de medalhas de ouro no Mundial de Jiu-Jítsu por sete edições consecutivas.

Tudo isso ainda trouxe uma impressão antiga quando se vê os Gracie em geral no vale-tudo. É claro que quando um integrante da família sobe no ringue, fala mais alto o sentimento de defender o legado do clã e mostrar a força da arte suave. Afinal, foi para mostrar isso que Rorion criou o UFC.

Mas não dá. Não basta ter o melhor chão do planeta. É aquela ladainha velha: todos os lutadores sabem todas as artes hoje em dia. Mas parece que os Gracie não se deram conta, ou simplesmente nenhum deles ainda conseguiu mostrar que pode se virar em pé.

Os números do Fightmetric, que faz as estatísticas oficiais do UFC, são quase vergonhosos. No primeiro round, seu melhor, Roger acertou 7 golpes significativos contra cinco do rival. No segundo, Kennedy acertou 26 golpes significativos contra apenas 4 do Gracie, e no terceiro foi 23 a 1.

O revés certamente fará com que ele e seu time analisem o futuro com atenção. Pode ser a deixa para que ele tente lutar na categoria de cima, mesmo que nunca seja fácil um lutador subir para encarar rivais mais pesados. No meio-pesado, com 93 kg, Roger ainda teria uma vantagem na altura e ainda poderia ganhar massa para equiparar a força com os possíveis oponentes.

Roger tem agora 8 lutas na carreira, com seis vitórias, sendo cinco por finalização. É jovem, com 31 anos, e ainda tem tempo para dar a volta por cima. Mas será preciso rever este fator da balança e, tanto quanto isso, afiar bem as mãos, pés, joelhos e cotovelos. Só assim poderá reverter os fracassos dos Gracie nos últimos anos e levar o sobrenome de volta ao topo do MMA.

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