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Na Grade do MMA

Brasil vê maior frustração em casa e até vencedores ficam na corda bamba

UOL Esporte

10/10/2013 14h14

Por Maurício Dehò

Não há muito mistério. O torcedor brasileiro gosta de ver seus compatriotas vencendo. E, se não se pode dizer que os cards do UFC no país são "feitos para brasileiro ganhar", o medo dos lutadores gringos de viajar e encarar a torcida verde-amarela costuma ser tanto que na maioria das vezes que o Ultimate desembarcou por aqui se viu um show de vitórias dos atletas da casa – principalmente no Rio. Mas Barueri presenciou algo bem diferente. Não só as duas lutas principais acabaram com vitórias estrangeiras, como até os venceram tiveram atuações discutíveis.

Geralmente os sites especializados em MMA gostam de fazer listas de "os maiores vencedores e perdedores" de cada evento. Desta vez, a lista pende para o lado dos perdedores, com um maior número de atletas que saíram com um saldo negativo do que positivo.

Se Jake Shields e Dong Hyun Kim são, visivelmente, os lutadores que têm mais a comemorar, a lista de quem não se deu tão bem não tem apenas quem somou uma derrota no cartel, como os favoritos para triunfar Demian Maia e Erick Silva.

Isso porque as vitórias de Thiago Silva, Fabio Maldonado e Toquinho tiveram alguns fatores que mancharam a festa. Por outro lado, o brasileiro que tem muito a celebrar é Raphael Assunção, que dá passos largos na aproximação do cinturão dos pesos galos.

Vamos então a uma análise mais detalhada desses resultados, falando das principais lutas, para ver quem seu deu bem em Barueri, quem não teve tanta sorte neste card e quem está na corda bamba do UFC:


Shields vence Maia: Brasileiro recua

Nos últimos meses, falou-se que uma vitória de Demian o colocaria na disputa de cinturão dos meio-médios, depois de ele vencer três combates seguidos desde que estreou na categoria. Contra Shields, Demian teve lampejos daquele lutador arrasador, mas deixou o rival o derrubar e, com as costas no solo, pouco pôde fazer. A derrota – polêmica ou não nas papeletas – e a performance foram um balde de água fria. Mas o brasileiro ainda pode se recuperar. Se tiver grandes lutas pela frente e contar com um pouco de sorte, ainda pode reencontrar o caminho do cinturão. Já Shields venceu sua segunda luta seguida em decisão dividida. O norte-americano segue sem impressionar, mas vai ganhando espaço para voltar a lutar pelo título.

Kim vence Erick: Golpe de sorte e decepção

Sempre cotado como a grande revelação do país, Erick Silva ia bem quando deu de encontro com aquele único soco de Dong Hyun Kim e sofreu o primeiro nocaute da carreira. Erick não chega a ser um "grande perdedor" da noite. Ele mostrou mais uma vez seu potencial e vencia a luta, portanto o golpe com uma boa dose de sorte não ficará lembrado com muita decepção. Erick recua alguns degraus, mas pode voltar com força. Com três vitórias seguidas, o sul-coreano começa a virar realidade nos meio-médios.

Thiago Silva vence Hamill: Quase nocauteou, mas cadê o gás?

Se até Dana White caçoou da forma física de Thiago Silva, a coisa não está boa para o lado do (meio-)pesado. Para um lutador que já foi suspenso duas vezes por doping, ter falhado na pesagem de sexta-feira, em Barueri, foi um duro golpe. Restava para ele vencer bem para apagar o erro. Thiago venceu, quase nocauteou Matt Hamill, mas o resultado não chega a fazer tudo isso por sua imagem, já que o brasileiro cansou rapidamente e terminou a luta se arrastando. Depois do combate, o chefão do UFC postou uma mensagem no Twitter com uma foto com algumas guloseimas, dizendo que Thiago fez uma dieta como a sua. É claro que o UFC não acha graça de um lutador que não consegue cumprir suas obrigações mínimas, então a ironia de Dana White diz muito sobre como o brasileiro segue na corda bamba.

Maldonado vence Beltran: Venceu, mas não tinha direito de provocar

Dois lutadores que batem muito e tem bons queixos. Mas o encontro de Maldonado e Beltran não soltou as faíscas esperadas. Além de terminar por pontos, em decisão discutível em favor do brasileiro, a disputa foi morna. Maldonado ainda resolveu ficar provocando Beltran e chamando o rival para a grade – em cena à la Anderson x Bonnar -, mas para quê? O paulista fez muito pouco para justificar a atitude. Mesmo com a vitória, sua segunda seguida, Fabio Maldonado pouco subirá dentro dos meio-pesados do Ultimate. Ainda está devendo.

Toquinho vence Pierce: Grande vitória manchada

Toquinho estreou bem nos meio-médios, depois de uma semana muito emocional, em que ele até chorou ao bater o peso. No octógono, tomou um susto com alguns golpes de Pierce, mas fez seu arroz com feijão, pegou o pé do norte-americano e levou para casa. Mas foi ali no fim que a coisa ficou feia para ele. Toquinho demorou a soltar a finalização, mesmo que o rival o estapeasse e o árbitro já fizesse a intervenção. Resultado: multa pesada, agravada pelo fato de ele já ter sido repreendido anteriormente em outro combate. Foi uma grande estreia na categoria, mas a falta de ética a manchou. Resta ao mineiro esperar a poeira baixar e ver se esse detalhe é esquecido em sua nova jornada pelo cinturão.

*Atualização: Toquinho foi demitido na tarde desta quinta-feira pelo UFC e, de acordo com Dana White, nunca mais lutará pela organização devido ao incidente. Leia mais

Assunção vence Dillashaw: Já pode sonhar com o cinturão

Raphael Assunção foi o grande vencedor para o Brasil em Barueri. Se ele chegou ao evento como 5º no ranking dos galos, sua atuação contra um rival muito duro só faz com que sua série de cinco triunfos seguidos ganhe ainda mais importância. Eddie Wineland e a volta de Dominick Cruz ainda aparecem como prioridades para Renan Barão, mas o cinturão está ficando mais próximo para ele. Pode começar a sonhar.

Card preliminar

Se você acompanhou o noticiário do UFC Barueri, deve ter começado a contar no dedo as histórias de superação de Igor Araújo: foi morar na Europa com 25 euros no bolso, quase desistiu do MMA quando recebeu o convite do Ultimate, passou perrengue para voar para o Brasil e não foi avisado de que sua mulher passaria por uma cirurgia. Ainda assim, bateu o peso e estreou com vitória sobre o duro Ildemar Marajó. O termo "grande vencedor" não é só como resultado, mas por tudo o que o meio-médio passou, e agora ele inicia bem este novo capítulo da carreira, no sonhado UFC. Yan Cabral e Allan Nuguette também tem muito a comemorar com suas estreias vitoriosas, enquanto no duelo contra demissão dos pesos mosca, Chris Cariaso levou a melhor sobre Iliarde Santos, que provavelmente será cortado do plantel do Ultimate.

A frustração em casa – O card de Barueri representa o pior resultado brasileiro em casa desde que se realizou o primeiro UFC Rio. Foram nove eventos no país e o único outro em que o gringo levou a melhor na luta principal foi a primeira edição em Belo Horizonte, em junho de 2012, quando Wanderlei Silva foi derrotado por Rich Franklin. Some-se isso ao fato de também a luta co-principal ter uma vitória de um estrangeiro, e o resultado realmente foi de frustração para a torcida brasileira.

Sobre o blog

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