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Na Grade do MMA

GSP e Anderson: a fama enche o saco

Jorge Corrêa

14/12/2013 13h43

Post com Maurício Dehò

Um dos maiores dramas da carreira de um atleta de alto nível é saber a hora de parar. A maioria deles não está preparada para esse momento, nunca parou para pensar o que vai fazer depois ou, pior, não sabe fazer mais nada além de atuar em seu esporte. Além disso, sempre há a pressão para se manter em alta, em continuar ganhando dinheiro e a chance de enfrentar uma derrota depois de tanto tempo conhecendo apenas vitórias. Um único tropeço que pode manchar toda uma jornada.

Pois bem. Ainda jovem, apontado como um dos melhores da história do MMA e o maior de todos em sua categoria, Georges St-Pierre surpreendeu a todos na última sexta-feira ao anunciar uma pausa por tempo indeterminado do MMA, abrindo mão do cinturão dos meio-médios do UFC, que estava com ele de forma ininterrupta desde 2007. Ele disse que existe a chance de voltar, mas pode ser uma aposentadoria definitiva com apenas 32 anos.

(Rápido parênteses: a grandes surpresa não é tanto pela decisão, que ele já tinha deixado encaminhada depois de sua polêmica vitórias sobre John Hendricks no mês passado, mas sim por Dana White não ter conseguido fazê-lo mudar de ideia, já que o presidente ficou extremamente irritado com essa situação.)

A decisão de GSP é um grande exemplo da pressão que um atleta profissional e mundialmente famoso sofre. Ele explicou que simplesmente precisava parar. Ele não tem que provar mais nada a ninguém e conseguiu sobrepujar a necessidade inerente ao homem de se auto-afirmar diante de seu público, seja ele qual for. Com o dinheiro que ele já ganhou e com tudo que já conquistou, ele tinha espaço suficiente em sua vida para tomar uma decisão drástica como essa.

Se voltarmos alguns meses no tempo, outro campeão do UFC mostrou o mesmo sentimento: Anderson Silva. As palavras do ex-campeão dos médios – que era o campeão mais longevo, à frente de GSP – indicavam justamente isso. Que a pressão de vencer e de deter um cinturão por tanto tempo o incomodavam. Mais que isso, chegou a dizer que perder foi um alívio.

A diferença é que mesmo sendo mais velho e ter uma pressão ainda maior que a do canadense, já que é considerado o maior lutador de MMA da história por muitos, Anderson encontrou – ou Dana White achou para ele – a fome para não se entregar a uma despedida. Ego, dinheiro, seu espírito de lutador ou o justíssimo objetivo de não acabar sua trajetória com um revés, tudo isso podem ter motivado o Spider.

Sobre seu caso, GSP explicou: "Tenho lutado por muito tempo. Tenho 22 lutas no UFC e 15 como campeão do mundo. Estou trabalhando há muito tempo em alto nível, com muita pressão e muitas críticas. Então decidi que precisava ficar um tempo fora. Não sei o que vou fazer, mas sinto que estou deixando tudo agora, mas tenho de parar para cuidar da minha vida pessoal. Tenho de fica fora um pouco, é isso". O canadense disse que sequer está conseguindo dormir.

St-Pierre deixou claro que não precisava enfrenta toda essa pressão e escancarou esse drama na vida de esportistas de alto nível. Ele deu uma enorme lição para quem não sabe a hora de parar, mostrou que podemos fazer sacrifícios em nossa carreira. Ele abriu mão do seu maior bem como lutador profissional, o cinturão do UFC, simplesmente para poder voltar a respirar como pessoa comum.

Claro que muitos vão criticá-lo por tomar essa decisão, falar que é fácil parar e reclamar da pressão, mas olhando as declarações de GSP, seu semblante e a maneira que ele deu sua entrevista após a última luta, quase chorando, acredito que ele mandaria um enorme "f*da-s*" para os críticos. Até mesmo o mais educado e paciente dos grandes campeões fica de saco cheio de tudo. E é bem assim que St-Pierre está. De saco cheio de tudo.

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