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Na Grade do MMA

Pezão, doping, Tannure e TRT

Jorge Corrêa

19/12/2013 07h36


Foi com esse simples emoticon que Dana White reagiu em sua conta no Twitter à notícia de que Antônio Pezão tinha sido flagrado no exame antidoping feito depois da luta contra Mark Hunt, na Austrália, no último dia 7. O presidente fez questão de chamar o empate de "melhor luta de pesos pesados da história do UFC". A frustração não poderia ser maior para ele.

Mas esse novo caso de doping não afetou apenas o chefão da franquia. A explicação dada por Pezão expôs a relação bem nebulosa que importantes lutadores do Ultimate têm com Márcio Tannure, diretor médico da Comissão Atlética Brasileira de MMA (CABMMA) e, por consequência, médico responsável pelo UFC no Brasil. No meio esportivo, ele também trabalha como médico do Flamengo e ajuda muitos famosos a melhorarem a forma física.

Assim que foi anunciado o flagrante por doping por elevados níveis de testosterona, Pezão se defendeu em sua página no Facebook, explicando que fez apenas o que foi receitado pelo médico. Pela primeira vez ele fez uso da polêmica terapia de reposição de testosterona (TRT) depois de ter sido identificada uma queda na produção natural do hormônio. Antonio disse que apenas usou o remédio da maneira indicada por Tannure.


"Meses antes da minha luta procurei o medico do UFC no Brasil, Dr. Marcio Tannure, para que eu pudesse dar inicio a reposição hormonal devidamente autorizada e reconhecida por um profissional. Então dei inicio ao tratamento e dias semanas antes de minha luta fiz todos os exames exigidos pelo UFC e mesmo assim meu nível de testosterona continuava baixo. Com isso, fui recomendado pelo médico a aumentar a dosagem de aplicação e assim fiz. Apenas fiz o que foi recomendado. Tenho consciência que não tentei fazer nada de errado para minha luta, estou tranquilo por que sei que o erro não foi meu."

A consulta de Pezão com Marcio foi particular, mas o lutador partiu do princípio de que ninguém mais recomendado que o médico que trabalha com o UFC no Brasil para indicar a melhor maneira de fazer o tratamento. Revoltado com o ocorrido, o lutador disse que processará o médico. "Agora, infelizmente, eu tenho de encontrar os caminhos legais para tentar mudar essa situação, ou, ao menos, provar que não sou culpado. Eu quero provar que não foi culpa minha. Quando tiver todos os exames dos médicos [um dos EUA e um do Brasil], eu que processar [o médico] por prejuízo moral e financeiro que ele me causou."

Mesmo com Tannure trabalhando diretamente com o UFC no Brasil, o Ultimate explica que ele é apenas um dos membros da CABMMA e a entidade trabalha de forma independente nos eventos no Brasil e, por isso, a franquia não teria porque se posicionar ou se relacionar com o caso. Já a CABMMA também se exime de qualquer questionamento já que a consulta e o tratamento de Pezão com Márcio foi particular e não teve intermédio da comissão.

Não estou entrando no mérito da competência médica Tannure, seja como médico do Flamengo e do UFC, como diretor médico da CABMMA, ou como médico particular. No entanto há um claro conflito de interesses nessa relação, ainda mais por envolver o polêmico uso do TRT. Ele é a mesma pessoa que receita o tratamento para lutadores que vão atuar fora do Brasil e depois quem aprova o TRT para quem quiser utilizá-lo no Ultimate por aqui, por liderar os médicos da CABMMA.

Além de ser médico pessoal de muitos lutadores, também é amigo de vários deles, faz questão de declarar sua torcida em redes sociais. Ao mesmo tempo, vai para dentro do octógono para trabalhar no UFC e situações estranhas podem acontecer. Por exemplo: um de seus pacientes ou amigos sofreram um profundo corte durante uma luta e pode perder por conta disso. Ele que terá de avaliar a condição do lutador em continuar ou não no combate.

Isso também prova que o TRT precisa ser mundialmente regulamentado para que seu uso se mantenha dentro do UFC. Não há um padrão para seu uso, cada país (ou seja, cada comissão atlética) tem seu parâmetro. Dana White, por exemplo, diz que Vitor Belfort passa por testes periodicamente por testes durante sua preparação para que ele use a testosterona. Mas o mesmo não aconteceu com Pezão. Não há uma isonomia, nem por parte do UFC e nem por parte das comissões. Lutadores ficam reféns apenas das indicações de seus médicos.

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O blog tentou entrar em contato com o médico Márcio Tannure nos últimos dois dias, mas ele está na Califórnia participante da preparação de Anderson Silva e deixou seus telefones locais no Brasil. Também pedi alguns esclarecimentos por e-mail em um endereço que ele sempre me respondeu, mas também não tive nenhum retorno. Deixo aberto o espaço para as explicações sobre o que aconteceu com Pezão e sua relação com os lutadores.

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