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Tem apelido de canibal e é lutador, mas voltou ao Brasil por saudade da mãe

UOL Esporte

05/11/2014 12h00

Por Maurício Dehò

Seu nome é Claudio Silva, mas provavelmente qualquer um vai se lembrar mais facilmente do apelido: Hannibal. Isso mesmo, a inspiração é no personagem dos filmes de suspense Hannibal Lecter, consagrado com o ator Anthony Hopkins e famoso por comer carne humana. Natural de Rondonópolis (MT), mas criado em Uberlândia, o lutador (não-canibal) de 32 anos faz neste sábado seu segundo combate pelo UFC, em Uberlândia, pondo sua boa fase no MMA em jogo. O momento contrasta com as dificuldades que ele teve por muito tempo para vingar no esporte. E é disso que ele falou em um papo com o blog.

Claudio iniciou sua jornada no UFC com uma vitória sobre Brad Scott, em março, lutando na Inglaterra, onde morava naquele momento. O triunfo por pontos foi um bom passo inicial, e outro que ele teve de dar em seguida à luta foi sair do país europeu e retornar para o Brasil. Lá, Hannibal fez sua carreira, mas também passou seus maiores perrengues: sentiu o preconceito de ser um brasileiro em um MMA voltado aos ídolos locais, sofreu com lesões e chegou a enfrentar uma depressão, fruto disso tudo e das saudades de sua família, e mais especificamente da mãe.

No sábado, ele tem a chance de mostrar que as mudanças em sua vida pessoal e a mudança para o Rio de Janeiro, para treinar com Aldo e Barão na Nova União, terão um efeito positivo. Especialista em jiu-jítsu, ele quer tentar sua sétima vitória por finalização, em uma carreira em que triunfou 10 vezes e perdeu só uma, na estreia. O rival da vez é Leon Edwards (8v, 1d), estreante no Ultimate. Conheça um pouco do Hannibal brasileiro, e inclusive o porque da máscara e o apelido:

Claudio, como foi sua infância no Mato Grosso e depois Minas Gerais e como você virou lutador?
Claudio Hannibal: Me mudei de Rondonópolis antes de completar um ano. Sou de um bairro pobre de Uberlândia chamado Tocantins. Ele é conhecido pelo alto índice de violência e pobreza. Eu sempre estudei, completei o segundo colegial e comecei a treinar artes marciais muito cedo levado pelo meu pai. Meu pai era militar aposentado. Ele sempre levava a gente para praticar lutas. Ele não deixava a gente fazer outros esportes. A gente tinha que sabe se defender. Fiz caratê, capoeira e jiu-jitsu. Meu primeiro dinheiro foi ganhando 500 reais ao vencer um campeonato de jiu-jitsu.

Quando e por que você se mudou para Londres?
Me mudei com 24 anos. Na verdade, saí do Brasil para passar uma temporada de quatro meses com a minha tia na Itália. Depois, fui convocado para dar aulas de jiu-jitsu em Londres. Cheguei a ter mais de 70 alunos, entre eles alguns brasileiros. Meu ídolo era o Minotauro. Sempre assisti também o Arona, o Paulão, e sempre sonhei também lutar MMA.

10259786_467128713433712_4568687651888247038_nPor que você ficou conhecido como Hannibal?
Eu fui lutar um evento de MMA televisionado em Londres e meu tio me mandou entrar com a máscara para chamar atenção, dar mais repercussão mesmo. Ele dizia que ia ser um diferencial. E deu certo! O pessoal começou a falar muito sobre a máscara, o apelido pegou e eu não parei mais.

Você teve dificuldades quando morava na Inglaterra, não é? Por que isso ocorreu, e como era a vida lá?
A dificuldade que eu mais tive foi na parte de arrumar patrocínios e luta. Os matchmakers da Inglaterra eram sujos. Eles escolhiam e casavam as lutas para os seus lutadores, queriam transformá-los em heróis e depois colocar no UFC. Londres é desse jeito. Se você não é inglês, você não serve. E todo lutador inglês é frouxo! Eles gostam de virar garoto-propaganda e não lutadores. Eles nunca foram homens para aceitar meus desafios. Eu tinha "matado" todos os heróis deles. Só me chamavam para lutar com dois dias de antecedência e eu tinha que perder 10kg. E eu não queria fazer aquilo pelo dinheiro, queria fazer para mostrar meu potencial, construir minha carreira.

Você teve episódios não só deste preconceito, mas de depressão. O que levou a isso?
Saudade da família. Fiquei muito tempo longe da minha mãe e eu não queria ficar mais lá. Além disso, tive uma lesão no olho que contribuiu para isso. Foram três meses chorando e sem querer sair de casa, isso já depois da estreia no UFC.

Como foi voltar ao Brasil, em junho, e entrar na Nova União?
Eu falei para um amigo que queria vir para o Brasil e mencionei outra equipe de MMA. Ele disse que se fosse para vir que teria que ser na Nova União. Eles não me deixaram ir para outra equipe. Então, lá de Londres eu liguei pro Dedé e ele disse para conversarmos pessoalmente. Ele me acolheu. Minha vida é outra, minha motivação é outra e meus treinos são outros. Hoje, tenho motivação de acordar, treinar e evoluir.

O que você achou da sua primeira luta no UFC e o que promete para este combate em Uberlândia?
Me senti nervoso. Senti um pouco no segundo round. Na verdade, eu entrei para lutar com o nariz quebrado e ele era um cara duro, foi finalista do TUF e estava na terceira luta no UFC. Acabei sentindo a adrenalina. Sei que venci dois rounds e perdi um. Agora, na minha casa vai ser diferente e eu vou vencer com o apoio da torcida. Sei que meu rival é striker e, se está dentro do UFC, é porque é duro, né? Mas acho que ele não enfrentou nenhum grande desafio ainda. Eu quero acabar a luta rapidamente e sair vencedor mais uma vez.

Sobre o blog

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