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Na Grade do MMA

Como tocar tuba e ser esfaqueado fizeram de um 'magricela' lutador de MMA

UOL Esporte

27/11/2014 12h00

Por Maurício Dehò

Marcone Muniz já tocou tuba numa banda marcial. Já jogou tudo para cima, frustrado com o mundo da música. Abriu lan house. Trabalhou de motorista. Abriu um lava-jato e lá viu um cliente sacar uma faca e lhe atingir três vezes… Parece roteiro de filme, mas é a realidade de uma trajetória que forjou mais um lutador de MMA brasileiro que busca espaço entre os grandes. Este magrelo brasiliense que chega a pesar 52 kg quando luta como peso palha tem oito lutas como profissional e usa sua história de superação para tirar forças nesta jornada.

Marcone, de 31 anos, teve um ano perfeito, com três vitórias, sendo duas por pontos – a mais recente no Coliseu Extreme Fight 11 -, e uma por finalização. Deve voltar ao ringue em janeiro e, em seguida, mira iniciar uma carreira internacional, viajando para buscar um espaço na elite do MMA. Curiosamente, foi uma viagem que iniciou toda aquela sequência de eventos que o hoje lutador viveu.10815687_938165716211958_1192476049_n

Um jovenzinho de 12 anos, Marcone era ganancioso e metido a espertalhão. Ele ficou sabendo que a banda marcial de seu colégio faria uma viagem para se apresentar no Chile. De olho apenas no passeio, ele analisou suas opções e foi certeiro: escolheu o instrumento que ninguém queria. Foi assim que passou a tocar tuba, o mais grave do setor dos metais.

"O pessoal queria outros: trompete, trombone, percussão. Eu fui esperto, e escolhi o que ninguém tocava. Me dei bem", ri ele, relembrando os momentos.

Deu certo. Ele viajou e acabou gostando da turma e do instrumento. Passou a tocar cada vez mais, buscar espaço em orquestras e fez concursos. O problema sempre foi não ter dinheiro para comprar a sua própria tuba. Os preços para se importar um bom instrumento podem chegar a R$ 30 mil, então ele sempre contou com o material de escolas de música e orquestras em Brasília.

Ser músico foi também o que o aproximou das lutas e mudou sua vida mais à frente. Com 23 anos, passou a fazer jiu-jítsu para aumentar a capacidade respiratória e tocar melhor. A recomendação era pela natação. "Mas o jiu era mais barato", conta ele. Na mesma época, Marcone teve uma passagem frustrada pela Aeronáutica, quando foi reprovado para ser sargento por 0,25 ponto.

A música também já não rendia o que ele queria. "Fiquei revoltado, estava frustrado e joguei tudo para cima", desabafa. Sua sorte é que um outro foco para jogar sua energia estava bem à sua frente. "Entreguei tudo para a luta. Não queria cometer os mesmos erros. Como estava um pouco velho para o jiu-jítsu, casado e com família, precisando de dinheiro urgente, migrei para o MMA", explica.

É claro que sair de uma carreira e trocar por outra não seria algo fácil. Dá-lhe procurar empregos e outros meios de ganhar dinheiro… Primeiro, Marcone foi motorista do jornal Folha de S.Paulo, levando jornalistas para suas matérias. Foi também corretor de imóveis. Depois, investiu em negócios próprios. Abriu uma lan house. Não deu certo. Tentou um lava-jato. Acabou em tragédia.

"Tive um desentendimento com um cliente, tomei três facadas, e fiquei seis meses sem lutar. O menino foi preso, está preso até hoje, mas fiquei uma semana internado. Foram duas facadas que pegaram pulmão e fígado e uma na nuca. Não sei nem como estou vivo", admite.

O meio ano que precisou ficar em recuperação só aumentou a gana de Marcone, que agora soma seis vitórias e duas derrotas em seu cartel profissional no site Sherdog (o primeiro revés, na estreia, ele afirma ter sido em uma luta amadora, e ainda tenta corrigir o erro).

"Passar por esse incidente me fez começar a dar mais valor a algumas coisas. Essa decepção com a música, esse momento afastado das lutas me deu gana para voltar cada vez mais forte. Cada dia que passo eu evoluo, tento me realizar por mim e a minha família", explica o brasiliense, que dá aulas de jiu-jítsu para completar a renda.

Nos ringues, uma das dificuldades de Marcone é o fato de seu peso, o palha, não ter espaço em eventos grandes. A categoria até 52 kg é pouco vista, então ele aposta suas fichas em lutar no mosca, para lutadores de até 57 kg. Com 1,72, ele é alto em relação a boa parte dos rivais – as pernas finas e o corpo à la Jon Jones, mais musculoso da cintura para cima, o permitem ser tão leve – e isso costuma ser uma vantagem para ele conseguir soltar o jogo, principalmente o de chão. No fim, o objetivo é chegar ao UFC e buscar um espaço entre os grandes – o campeão é Demetrious Johnson. Aos 31 anos, Marcone Muniz sabe que não tem tempo a perder…

Sobre o blog

Saiba o que acontece dentro e fora do octógono, relembre as grandes histórias e lutas que fizeram o vale-tudo se tornar o MMA. Aqui também será o espaço para entrevistas, análises, debates, polêmicas e tudo que faz do MMA o esporte que mais cresce no mundo.
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