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Na Grade do MMA

Pioneira no UFC, árbitra é confundida com ring girls. Mas não gosta

Maurício Dehò

28/05/2015 06h00

Quase Camila Albuquerque passou despercebida, em um momento histórico para o MMA brasileiro. Durante o UFC de Porto Alegre, em fevereiro, ela se tornou, discretamente, a primeira brasileira a arbitrar um combate da organização. E se saiu bem. Neste sábado, ela retorna ao octógono em Goiânia, para o card liderado por Thiago Pitbull x Carlos Condit. E, apesar de apreciar o carinho do público, só tem uma objeção: ser confundida com ring girl.

Calma. Camila não tem nada contra a profissão das ring girls e nem quer criar polêmica com as garotas da placa. Muito pelo contrário, é só elogios. "Eu não me acho nem um terço do que elas são. Eu ser chamada de ring girl é uma ofensa para elas", ri a cearense, que, quando não está arbitrando, trabalha numa clínica veterinária.

Mas, então, por que ela não gosta da confusão feita pelo público, se ela surge como um elogio pela sua beleza? "Sou fã das ring girls, respeito muito o trabalho delas, mas é um trabalho diferente. Ser árbitra exige concentração. É uma função séria, estudei pra caramba para virar árbitra", diz ela, que gosta de ser levada um pouco mais a sério por quem a segue.

E isso não é novo. "Já teve evento em que eu ouvi gente gritando: 'olha a ring girl, olha aring girl'. E querendo tirar foto, gritando linda". Os amigos árbitros de Camila já até aproveitaram esse detalha para brincar com isso. Em um evento no Ceará, eles pediram para um garotinho a atazanar. "Eles já estavam vendo que eu ficava com raiva. Aí, eu tinha acabado de fazer uma luta de 15 minutos, e quando eu desço tem um menino: 'ei, você é garota da placa?'. Só escutei eles me zoando de longe."

Para virar árbitra, Camila começou, é claro, como lutadora, um requisito para se trabalhar nos ringues e octógonos. Mas, ela nunca chegou a buscar uma carreira profissional, até pelo fato de levar como primeira profissão a veterinária.

Foi na faculdade que Camila conheceu uma colega que queria praticar lutas. Primeiro, resistiu. Mas foi acompanhar uma aula. E entrou para a turma de sanda, o boxe chinês. Quatro anos depois de começar, ela passou a competir, mas se afastou por seis meses por conta de uma lesão que precisou de cirurgia.

Com o tempo parada, ela fez seu primeiro curso de arbitragem. "Me apaixonei, descobri que era o que eu queria. Não competir, mas ser árbitra", contou a cearense. Camila passou a intermediar eventos locais de sanda, depois passou a árbitra de MMA e foi para Manaus fazer um curso com Mário Yamasaki, brasileiro mais tradicional neste cargo no UFC. Hoje já chega a quase 50 eventos, com mais de 130 lutas em que trabalhou.

Foram precisos três anos em eventos locais até ser chamada pela Comissão Atlética Brasileira de MMA e poder estrear no Ultimate. Em Uberlândia, em 2014, foi "sombra", uma espécie de estagiária, com funções menores. Em Porto Alegre, ela estreou de fato e participou de dois combates.

A primeira luta foi com o peso galo brasileiro Douglas Silva vencendo Cody Gibson, por pontos. No segundo round, D'Silva conseguiu um knockdown, e ela não se afobou em encerrar a luta rapidamente. Depois, voltou para Jéssica Andrade x Marion Reneau e teve de trabalhar para separar as atletas, já que a norte-americana encaixou um triângulo e finalizou a brasileira no primeiro round.

"Nunca tinha imaginado entrar no mundo do esporte. Eu jogava futebol , mas nada sério. Depois, quando entrei nas artes marciais, também nem passou pela cabeça", afirmou ela. Camila conta que ficou nervosa na estreia, mas que isso foi bom. "Eu estava muito atenta, isso ajudou bastante. A adrenalina me deixou alerta. Quando subi no octógono e o Bruce Buffer me anunciou, eu senti. Mas na hora da luta eu relaxo, fico tão concentrada em seguir as regras, que relaxo."

Hoje, quando está na sua clínica veterinária, Camila tem de falar muito sobre arbitragem. Muitos pacientes ficaram sabendo de seu trabalho paralelo, e a curiosidade é grande para saber mais da função e de curiosidades.

"Já vi de tudo. Teve atleta tão empolgado, ganhando e batendo no rival, que quando mandei parar eu que levei as porradas. Tive que gritar, empurrar o cara. Na hora não senti nada, mas depois que o sangue esfriou…", contou Camila, sobre as dores.

A cearense ainda não sabe quais lutas arbitrará neste sábado, mas espera manter o bom momento, para não trocar os elogios de ser chamada de ring girl pelos xingamentos que a inglória profissão pode render.

Sobre o blog

Saiba o que acontece dentro e fora do octógono, relembre as grandes histórias e lutas que fizeram o vale-tudo se tornar o MMA. Aqui também será o espaço para entrevistas, análises, debates, polêmicas e tudo que faz do MMA o esporte que mais cresce no mundo.
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