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Entenda como Anderson Silva quer sair ileso da acusação de doping

Maurício Dehò

12/08/2015 09h41

Anderson Silva não quer que o caso de doping que se envolveu no começo do ano, em sua luta com Nick Diaz, atrapalhe ainda mais sua carreira. O ex-campeão do UFC fará nesta quinta-feira, diante da Comissão Atlética de Nevada, uma estratégia na linha "a melhor defesa é o ataque", para sair da audiência quase que totalmente inocentado e pronto para voltar ao octógono.

O senso comum nesse tipo de caso dizia que o lutador poderia, por exemplo, admitir o uso de substâncias ilícitas e tentar tomar uma suspensão mais branda, mas não é isso que a defesa liderada pelo advogado norte-americano Michael Alonso tentará. O curioso é que a alegação do uso de um remédio à la viagra virou a novidade "bombástica" que o lutador levará à comissão.

O documento enviado pela defesa à Comissão Atlética de Nevada – dado em primeira mão pelo Combate e divulgado por completo pelo MMA Fighting – apresenta um pedido de liberação de Anderson das acusações, integralmente. Pede que "Silva não seja multado financeiramente", que a "comissão não cometa ações contra a licença de Silva para lutar" e até que "Silva não seja requerido a pagar os custos dos procedimentos, inclusive custos de investigação, laboratórios e de advogados".

Em três pontos principais, entenda como Anderson e sua equipe pretendem conseguir isso:

1. Contaminação por estimulante sexual
Esqueça a hipótese de Anderson admitir ter usado alguma substância para curar a perna fraturada – o que passou pela cabeça de sua defesa. A equipe do lutador alega que houve contaminações que acabaram gerando o positivo para os esteroides encontrados em seu organismo: drostanolona e androsterona.

Nick Diaz será julgado, também nesta quinta-feira, já que foi pego com maconha no combate. Mais uma vez…

Quanto ao primeiro: "Silva estava administrando ou usando um suplemento com o propósito de melhora na performance sexual, e o teste deste suplemento mostrou que ele estava contaminado com drostanolona. O suplemento contaminado é a causa da presença de drostanolona na urina de Anderson", diz o documento. A defesa deverá apresentar exames que comprovem que este estimulante realmente resulta em um positivo para o esteroide em antidopings.

2. Segunda contaminação
Além do "viagra" citado, Anderson alega que outro (ou outros) suplemento (s) também foram contaminados, o que também deverá ser apresentado pela defesa detalhadamente frente à comissão.

Isso justificaria o positivo para a outra substância encontrada nos exames pré e do dia da luta, a androsterona.

3. Exames em xeque
A defesa de Anderson alega que a acusação contra o lutador "não inclui todos os fatos relevantes", citando especificamente o resultado de um exame feito por um laboratório diferente do que flagrou o uso de esteroides, que voltou limpo. Este teste não havia sido anexado ao caso.

Para entender: antes de subir ao octógono para enfrentar Nick Diaz Anderson fez um exame antidoping pelo laboratório de Salt Lake City. O resultado foi positivo. O que não se sabia era de um segundo exame, feito com uma amostra de urina colhida apenas dois minutos ANTES do teste que deu positivo. Neste antidoping, feito pelo laboratório Quest, o resultado foi negativo exatamente para as mesmas substâncias testadas em Salt Lake City.

A Comissão explica que resultados negativos não são base para se fazer uma denúncia, mas sim os que dão positivo. Ou seja, ela não é obrigado a incluir esse exame nos autos e optou por não fazê-lo. O exame nunca tinha vindo a público por um simples motivo: ninguém nunca pediu por isso. A estranheza disso tudo, inclusive na realização de dois exames, uma prática incomum, fez com que virasse mais um aspecto a ser usado pelo time do Spider.

"O conflito dos testes faz com que a comissão falhe em acusar Anderson e, sendo assim, ele pode ser liberado."

4. Ansiolíticos e a mentira
A admissão de Anderson se dá no caso do uso de ansiolíticos. Ele confirma que usou remédios na véspera da luta para se livrar da insônia e do nervosismo e conseguir dormir. A Comissão afirma que ele mentiu ao não citar o uso à entidade.

O positivo, neste caso, flagrou as substâncias temazepam e oxazepam – essas substâncias não são proibidas pela Agência Mundial Antidoping (WADA), porém, não são permitidas pela Comissão Atlética de Nevada. Para a defesa, como o documento em que o lutador informa o uso ou não de medicamentos foi assinado e entregue antes da utilização dos ansiolíticos, ele, portanto, não mentiu.

Se a comissão aceitar todo o restante da linha de defesa e o considerar culpado apenas quanto aos ansiolíticos, a pena deve ser branda – e talvez ele possa inclusive já ter cumprido o prazo.

***

O tipo de defesa usado por Anderson, alegando contaminação, não é incomum. Foi usado, por exemplo, por Cesar Cielo, que não foi penalizado em um caso de 2011, quando foi flagrado com furosemida e culpou uma farmácia de manipulação. Já o ciclista Alberto Contador foi pego com clenburetol, disse que a substância pareceu por conta de uma carne contaminada, mas foi suspenso por dois anos.

Como o caso do brasileiro é mais complexo, com três exames – alguns conflitantes -, diferentes substâncias e a alegação da Comissão de que o brasileiro mentiu ao não citar o uso de ansiolíticos e outros possíveis medicamentos, é difícil prever o que acontecerá com o astro. Fato é que ele apostou alto, gritou truco… E até se dá ao direito de ser punido pelo uso de ansiolíticos e ainda assim ter pouco prejuízo moral e esportivo.

A definição desta novela digna de um episódio de "Better Call Saul" nós vemos nesta quinta-feira.

Sobre o blog

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