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Tyson do MMA feminino, Ronda pavimenta o caminho. Mas não depende só dela

Maurício Dehò

08/10/2015 06h01

Vídeo: Só conhece Ronda? Veja mais meninas talentosas

Esperar madrugada adentro um combate, envolver-se nas polêmicas e provocações pré-luta, sentar na beira do sofá nervosamente e assistir a mais um combate relâmpago e a mais uma vitória arrasadora. Por fim, pegar-se pensando, "mas por que ficar acordado até esta hora, se sei que vai acabar rápido assim?". E, teimosamente, fazer a mesma coisa na próxima luta. Poderíamos estar falando de Mike Tyson, nos anos 80 e inícios dos 90. Mas é Ronda Rousey quem tem feito isso com seu público.

ESPECIAL – Como as mulheres foram do desdém ao topo no MMA?

ronda-rousey-ao-lado-de-mike-tyson-1362777207329_300x420Pode parecer um exagero comparar o astro do boxe com a nova estrela do MMA. Mas já é um fato que ver a norte-americana, campeã peso galo do UFC, é acompanhar a história sendo escrita diante dos nossos olhos. A primeira grande campeã entre as mulheres das artes marciais mistas, reinando com um domínio até agora inalcançável, com uma arma indefensável (suas chaves de braço) e um controle emocional inabalável dentro do octógono.

Um dia ela – provavelmente – vai perder e, segundo suas palavras, faltam só três anos para sua aposentadoria, mas, quando se falar do começo da jornada para as mulheres no MMA, seu nome estará em letras garrafais. E aí, o que acontecerá sem Ronda? É isso o que tentamos responder neste especial do UOL Esporte sobre MMA feminino e neste post.

Ronda e o UFC têm feito muito em nome das mulheres. É até surpreendente notar como uma organização que se negava a ter lutas femininas em 2011 chega a 2015 colocando dois combates com cinturões de mulheres em seu maior evento em termos de público no ano – no UFC 193, em um estádio de futebol na Austrália, espera-se bater o recorde de espectadores, atualmente de 55 mil pessoas em 2011.

Ronda foi o "abre alas", com o UFC investindo pesado na sua imagem, para que ela virasse sua nova estrela. A companhia não podia imaginar os problemões que Anderson, GSP e Jones trariam e tão pouco poderia saber que esse processo com a lutadora seria tão rápido, drástico. Se ela era cotada como a quarta força há algum tempo, agora é a número 1 disparada – só Conor McGregor pode tentar empatar com ela, se vencer José Aldo.

Mas, além deste abre alas, o Ultimate precisa de um desfile completo para não perder força quando sua estrela for embora. A empresa tem feito isso: montou uma segunda categoria, a palha, colocou suas lutadoras em posição de destaque, botou as moças para dar entrevistas, realizou edições do TUF com mulheres e agora montou o UFC 193.

O que falta? As outras garotas provarem que podem assumir esse papel. Principalmente tecnicamente, é notável a disparidade entre Ronda e suas desafiantes. O mais fácil é encontrar personagens, lutadoras com boas histórias e, claro, alguns intrigas e rivalidades – algo bem básico quando se pensa em uma boa promoção de lutas. Mas elas terão, sim, que provar seu valor no octógono.

No peso galo, a coisa ainda está difícil. Ronda já bateu todo mundo que parecia que podia lhe causar perigo. Encara Holly Holm em novembro, mas a rival ainda parece verde, com apenas duas lutas no UFC – e nenhuma delas triunfos impressionantes. Há bons nomes como Jessica Eye, a brasileira Amanda Nunes e Julianna Peña. Todas seriam enormes zebras. Cris Cyborg, por outro lado, ainda é uma realidade distante, por conta do peso, alongando essa novela já cansativa de um combate com a campeã.

No palha, por outro lado, brotam revelações. A própria campeã, Joanna Jedrzejczykm, tem o pacote completo de carisma e jogo atraente de se ver. Como a categoria é muito nova, há muitos nomes que lhe oferecem perigo, a começar com Claudia Gadelha, brasileira que derrotou numa polêmica luta encerrada por pontos. Paige Vanzant, Tecia Torres e a próxima desafiante Valerie Letourneau são nomes com potencial de brigar com Joanna e fazerem este peso mais concorrido e – de certa forma – mais emocionante.

Como vimos: há uma estrela liderando a tropa, investimento e novas garotas com potencial. Agora a bola está na mão destas últimas. Se elas mostrarem estar à altura do que Ronda criou, o MMA feminino tem um futuro promissor pela frente.


Nas palavras de Ronda, em seu livro "Minha Luta / Sua Luta", ela já está pronta para entender que um dia vai parar. Mas ainda não se vê pronta para, de fato, se aposentar, e não considera o MMA feminino maduro o suficiente para viver na sua ausência.

"Mal posso esperar pelo dia em que eu possa abdicar do meu cinturão e deixas outras duas garotas lutarem por ele. Mesmo que eu saiba que eu poderia vencer aquelas garotas e tomar o cinturão de volta, vou aceitar que é a sua vez de carregar o cinturão, o título e tudo o que ele representa. Quando esse dia chegar, não será mais apenas minha responsabilidade. Quando isso acontecer, o MMA feminino será autossustentável. Quando isso acontecer, quero ser como Royce Gracie, observando a próxima geração de lutadores com uma geração de satisfação. Quero ser aquele cara, na primeira fila, apresentando os meus filhos a todos. Esse dia está em algum lugar no horizonte, mas ainda não está aqui. Eu não acho que o MMA feminino está pronto para eu ir embora. Eu também não estou pronta."

Sobre o blog

Saiba o que acontece dentro e fora do octógono, relembre as grandes histórias e lutas que fizeram o vale-tudo se tornar o MMA. Aqui também será o espaço para entrevistas, análises, debates, polêmicas e tudo que faz do MMA o esporte que mais cresce no mundo.
Contato: nagradedomma@gmail.com

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