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Na Grade do MMA

6 lições que Ronda e Holm ensinam para Aldo e McGregor

Jorge Corrêa e Maurício Dehò

19/11/2015 06h01

Depois de um UFC 193 bombástico, a expectativa não é menor para a próxima edição numerada da organização, o UFC 194, em dezembro. Não é á toa. A espera pelo duelo entre José Aldo e Conor McGregor, que deveria ter acontecido no meio do ano, já vai aumentando a ansiedade para vermos no octógono se o falastrão irlandês tem o que precisa para derrotar um campeão dominante como o brasileiro.

Mas, além da proximidade no calendário, esses dois combates tem muito mais relações entre si. Ao menos no que o desfecho do primeiro pode ensinar aos envolvidos no segundo. A derrota da campeã, que por sinal tentava empatar a série de 7 defesas de cinturão que Aldo tem hoje, é um alerta para José Aldo, assim como a vitória de Holm pode render lições a ambos – ainda que Aldo não admita isso.

Contexto – Os panos de fundo dos combates são diferentes. Ronda chegou ao UFC 193 como grandessíssima favorita, em alta, embalada por um nocaute em 34 s. Holm veio "mineirinha", uma ex-campeã mundial de boxe com duas vitórias mornas no Ultimate.

Já Aldo tem uma sombra maior de dúvidas. O cancelamento do combate que aconteceria no meio do ano vai fazê-lo ficar a mais de um ano da sua última luta. A falta de ritmo pode pesar. Já McGregor vem em alta, tanto pelo nocaute em Chad Mendes, quanto pelo talento em vender lutas. Não é errado dizer que os olhos estão até mais voltados a ele do que ao brasileiro, já que ele sabe muito bem roubar a cena.

As lições

1. Trash talk também decide luta: até onde provocar?
Ronda e Holly foram respeitosas até a pesagem do UFC 193. Lá em Melbourne, o pau quebrou. E a culpa foi da campeã. Ela admitiu que botou as mãos na posição em que Holm costuma colocar. A desafiante acabou encostando o punho no rosto de Ronda e elas trocaram empurrões. Tanto a ideia de fazer isso quanto o desfecho mostraram uma Ronda instável, e a provocação parece ter se voltado contra ela. No caso de McGregor e Aldo, o que está em jogo é saber se de fato o irlandês "entrou na cabeça" do manauara, ou se o brasileiro tem foco e controle para passar por cima disso – como Anderson fez com Sonnen.

2. A importância da estratégia – e de se ter rebolado
Estratégia, Ronda Rousey e Holly Holm tinham. Mas, só a da nova campeã funcionou – perfeitamente, diga-se de passagem. Por parte de Holm, o que se tira de positivo é a prova de que uma tática perfeita baseada nas falhas de seu rival é meio caminho andado para o sucesso. Já Ronda mostra que, se o plano A não funciona, é preciso ter jogo de cintura para limpar o sangue do rosto e tentar mudar tudo, seja com planos B, C e D, ou lendo a luta e improvisando.

3. Ter um corner consistente é fundamental
Sério mesmo que os treinadores de Ronda Rousey disseram que estava "tudo bem" no intervalo do primeiro para o segundo round? Não dá, né… Com visão mais ampla do que está acontecendo, o corner não pode ser apenas motivador, mas precisa dar uma análise clara e solucionar os problemas de seu lutador. No caso de Ronda, seguir como lutou no primeiro round determinou o revés. Para Aldo, esse termômetro será importante. McGregor é especialista na luta em pé, assim como o brasileiro. Mas, se a trocação não funcionar para o campeão, ele tem de ter alternativas (vide lição nº 2) e ser encorajado a usá-las.

4. Confiança: vantagens, riscos e o perigo da soberba
Varia só a porcentagem, mas qualquer lutador garante que o lado mental é mais de 50% do que garante uma vitória. Isso, claro, gira em torno da confiança. Mas, acreditar em si mesmo pode chegar ao nível da soberba. Ronda acreditou tanto em si mesma, que pode ter se esquecido de dar a atenção devida a Holm e suas armas. Aldo é um cara que nunca subiu no salto, sempre foi humilde e tem de continuar assim, encarando sua superioridade com naturalidade, sem subir o tom. Já McGregor é o contrário, infla seu ego e a crença no seu potencial na lábia, mas pode cair do cavalo se seu talento não se equiparar ao que fala.

5. Achar a distância pode ser a chave da vitória
Ainda mais em um combate em que será entre dois especialistas na luta em pé, uma das chaves do jogo será a distância. Foi nesse quesito, apresentando um jogo de pernas perfeito, que Holly Holm se destacou. A mobilidade no octógono permitiu que a nova campeã conseguisse escapar das investidas e cansasse Ronda. Aldo, assim como Ronda, é menor que seu rival. Então, terá de conseguir entrar e sair sem ser atingido, como a norte-americana foi, ou terá de encontrar o momento certo para encaixar quedas, neutralizando os 5 cm de altura e 10 cm de envergadura a mais do irlandês.

6. Respeitar o histórico do rival
Assim como José Aldo tem de respeitar o histórico de nocautes de McGregor – afinal, são 16 em 18 vitórias -, McGregor também tem de medir suas palavras, já que encara um rival com 11 anos de carreira, seis anos como campeão (contanto o WEC) e que já esteve em todo tipo de situação no octógono. No caso de Ronda, a experiência da desafiante, que soma 48 lutas entre boxe e MMA, foi subestimada.


Em tempo, isso é o que Aldo falou sobre aprender algo com a derrota de Ronda:

"Não tomei lição. Acho que o MMA feminino é uma coisa muito nova. Um atleta com grande qualidade acaba dominante. O MMA feminino é isso. A Ronda é uma grande campeã, mas com os homens é uma coisa mais alto nível. Os atletas não são atropelados por uma modalidade. Não se sobrevive só com um tipo de luta no MMA. É preciso estar bem para onde a luta for. Procuro me atentar a isso".

Há de se respeitar as palavras do campeão, mas outra lição é que, quando se está no alto – e ele é o melhor lutador do ranking peso por peso do UFC -, todo cuidado é pouco…

Sobre o blog

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