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Michael Bisping: um Conor McGregor que bateu na trave

Maurício Dehò

27/02/2016 06h01

Hoje, todos querem ser Conor McGregor. Talvez não no estilo exageradamente provocador, mas com certeza no sucesso e na sua influência junto ao UFC. Há alguns anos, um "vizinho" do irlandês tinha o mesmo potencial para chegar ao topo e carregar um país em suas costas – no seu caso, a Inglaterra. Este cara é Michael Bisping, rival de Anderson Silva neste sábado.

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Nocauteador e falastrão – sugeriu que Anderson Silva está broxa por causa da desculpa dada no doping, de ter usado estimulante sexual -, Bisping começou com tudo no UFC, impulsionado por uma boa carreira em outros eventos. Na época, em 2006, estava invicto em dez lutas, nunca tinha deixado um combate ser decidido por pontos e pintava como uma revelação para a terceira edição do reality show The Ultimate Fighter.

Bisping recebe atendimento após derrota para Vitor Belfort, em São Paulo (Fernando Donasci/UOL)

Desde o programa ele já mostrava seu lado provocador, ainda mais pelo atrito com os norte-americanos daquele TUF. No octógono, fez bonito e faturou o título do reality, lutando como meio-pesado, com um nocaute sobre Josh Haynes.

Surgia a promessa que poderia levar o UFC para além-mar, invadindo a Inglaterra e expandindo seus tentáculos para a Europa. Com a vantagem de ser bem articulado, inteligente nas provocações e, portanto, capaz de vender suas lutas com facilidade, para um público apaixonado por lutas.

O roteiro é muito parecido com o do McGregor – e ainda contando com esse TUF para ajudar. Mas, faltou talento… Sua primeira derrota no Ultimate foi para Rashad Evans, mas ele se recuperou bem com três vitórias seguidas.

Foi no UFC 100 que ele começou a mostrar seu talento para perder as grandes chances que tinha de disputar o cinturão e passou a ser um "gatekeeper", uma expressão usada para falar dos lutadores que não chegam a ser campeões, mas fica em posição de lutar com os melhores e "mostrar" quem pode ou não chegar ao topo.

Naquele evento, ele pegou o veterano Dan Henderson. E tomou um nocaute memorável, um dos mais impactantes da história da organização. A luta era uma eliminatória para disputa de cinturão dos médios, e Henderson é quem enfrentou Anderson Silva. Eles seguiram se desencontrando, apesar de Bisping sempre demonstrar a vontade de enfrentar o brasileiro.

As outras ocasiões em que a disputa de título escapou por entre os dedos foram na derrota por pontos para Chael Sonnen, também numa eliminatória para lutar pelo cinturão, e no nocaute que sofreu contra Vitor Belfort. Os últimos anos foram de sobe e desce.

Ele afastou as críticas por supostamente ter "mãos de travesseiro" e nocauteou Cung Le. Perdeu para Tim Kennedy e Luke Rockhold. E vem de triunfos contra CB Dollaway e Thales Leites, mostrando uma melhora técnica e maturidade que serão testadas contra o Spider. Está em jogo, também, sua invencibilidade lutando na Inglaterra – o peso médio 16 vitórias em casa.

A maior diferença de Bisping para McGregor é que o irlandês até hoje não falhou. Falando mais alto que Bisping, prometeu como encerraria suas lutas, cumpriu, pavimentou seu caminho para o cinturão e o tomou com um nocaute relâmpago para cima de José Aldo.

Aos 36 anos, o inglês já não pode sonhar ser tão grande como o colega, mas, com a chance de realizar o sonho de enfrentar Anderson Silva, pode superar os reveses do passado e enfim chegar à sua luta de cinturão. Ainda há tempo de ele ser lembrado na história do MMA entre os grandes, e não os medianos. E uma vitória sobre o Spider faz toda a diferença para ele parar de meter bola na trave e, quem sabe, balançar as redes.

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