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Na Grade do MMA

Pecou pela soberba. McGregor lembra Spider e acha limite de sua megalomania

Maurício Dehò

06/03/2016 07h46

Há uma lição que parecia já ter sido aprendida no MMA: a soberba pode ser a maior inimiga de um lutador. Quando a confiança ultrapassa o limite, já vimos lendas caírem do cavalo – e de cara no chão. Anderson Silva que o diga, seja quando foi nocauteado por Chris Weidman ou na recente derrota contra Michael Bisping. Conor McGregor faltou a essa aula. E, por resultado, acabou finalizado na luta principal do UFC 196, por Nate Diaz.

Conor McGregor, uma espécie de Chael Sonnen com melhores resultados, tem seu estilão de desafiar a tudo e a todos, provocando até pesos pesados que tem quase o dobro do seu tamanho. Isso o levou ao combate deste sábado lutando como meio-médio, 11 kg acima da divisão em que é campeão, a dos penas (66 kg). E aí foi o limite para o irlandês, que terá de baixar a bola e dar um passo atrás para retomar sua vencedora carreira.

Não é que McGregor foi um desastre em toda a luta. No primeiro e em boa parte do segundo round, fez boa apresentação. Atacou de todos os ângulos, machucou o rosto de Nate Diaz e começou a deixar o norte-americano – que não o encontrava no octógono – grogue.

Mas foi então que três fatores entraram em ação: o cansaço, a soberba e o punch de um meio-médio. McGregor foi consistente no começo da luta, mas pareceu pesado, com menos velocidade de costume e bem menos preciso. Ainda assim, dava jogo e minava Nate Diaz. Mas, quando começou a achar que poderia encerrar a luta no momento em que quisesse, passou a exagerar na provocação e até baixou a guarda e estendeu seu queixo ao rival, veio a queda.

Não é à toa que as categorias de peso existem. A mão de um lutador mais pesado – Nate Diaz é originalmente um peso leve, mas ainda assim bate mais forte que os penas – faz a diferença. E, quando sentiu na pele, McGregor bambeou. Mesmo assim, fazia cara de quem não estava sentido nada, mesmo que as pernas tremessem.

Deu pra sentir o desespero quando McGregor entrou nas pernas e tentou quedar o faixa-preta Nate Diaz. O irlandês se colocou na armadilha, indo justamente para o ponto mais fraco de seu jogo. E aí foi uma moleza para Nate Diaz conseguir sua finalização.

É difícil não comparar o que ocorreu com McGregor com as derrotas de Anderson. São dois lutadores que acabaram privilegiando o show e acharam que poderiam ganhar como e quando quisessem. E se esqueceram de que colocar um ponto final em um combate é mais importante que esse espetáculo.

O cansaço de McGregor, que sequer cortou peso para o combate, também demonstra que ele pode ter relaxado na preparação, por considerar Nate Diaz um rival inferior. Pagou o preço.

E assim a megalomania de McGregor tem suas asinhas cortadas. Dana White admitiu que já pensava em colocá-lo em ação contra Robbie Lawler no UFC 200, pelo cinturão dos meio-médios. Se já soava insano antes, agora virou impossível, até porque Lawler é um caminhão perto de Nate Diaz. E olha que nem vimos o que Rafael dos Anjos, que já atropelou Nate no UFC, poderia ter feito com o irlandês…

McGregor teve certa humildade após a luta. Admitiu erros, afirmou que tomará lições. E agora não há mais o que fazer, a não ser realmente assumir que, por ora, sua única obrigação é voltar a lutar nos penas e defender seu cinturão, para provar que a derrota desta madrugada foi apenas porque ele se empolgou demais com seu talento e sua fama. José Aldo já está esperando.

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