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Na Grade do MMA

Com dois cinturões, o que falta para Amanda ter a mesma atenção de Ronda?

Jorge Corrêa

01/01/2019 04h01

Não há mais como tirar o lugar de Amanda Nunes do panteão dos maiores da história do MMA. Com o nocaute sobre a até então invencível Cris Cyborg, no UFC 232 no último sábado, ela se tornou a primeira mulher a deter ao mesmo tempo dois cinturões do maior evento do mundo – apenas Conor McGregor e Daniel Comier tinham conseguido essa mesma façanha.

Mas então, por que da brasileira tão menos do que se falava de Ronda Rousey, quando a norte-americana reinava como campeã peso galo do Ultimate?

São várias as explicações, que passam tanto pela organização do UFC, quanto pela falta de autopromoção da própria lutadora, sem contar com o preconceito estrutural. Vou tentar dissecar abaixo essas situações.

O primeiro motivo é muito simples: Ronda Rousey é americana, loira, bonita e desde sempre se vendeu como um grande personagem, mesmo quando ainda era lutadora de judô apenas. Ela construiu toda sua carreira no bussiness do mundo das lutas e caiu como uma luva quando resolveu migrar para o MMA. Era o rosto perfeito para a introdução das mulheres no UFC.

Já Amanda é brasileira, baiana, lésbica, imigrante, até fala bem inglês, mas não é fluente. Ou seja, é uma personagem muito mais difícil de vender para o grande público do MMA, principalmente o norte-americano. E para ser um sucesso completo, qualquer lutador precisa se fazer na casa do Ultimate.

Brasileiros em geral tem mais dificuldade para se venderem como grandes personagens. Os americanos (e Conor McGregor, claro) parecem ter isso no sangue, na educação deles. Os grandes astros dos EUA têm sempre um pé no WWE (não por coincidência, para onde Ronda migrou após deixar o MMA), criam histórias, fabricam narrativas, constroem grandes adversários.

Os lutadores do Brasil de sucesso no UFC normalmente baseiam sua subida ao estrelato basicamente por seu desempenho dentro do octógono. Dou como exemplo José Aldo, que foi o mais dominante campeão dos penas e nunca falou em inglês no UFC. Isso prejudicou muito a construção de sua imagem como grande nome do evento. Amanda tem muito dessa linha. Ela é focada exclusivamente no seu desempenho e nas suas lutas.

Mesmo Anderson Silva demorou muito a encarnar um personagem de herói brasileiro, apesar de por muitos anos ter sido invencível no Ultimate. Mas ele é o exemplo perfeito de que é possível conciliar um grande desempenho no octógono com uma promoção de luta interessante para os fãs.

O UFC também tem de fazer a sua parte. Amanda Nunes precisa ser vendida pelo evento com um tamanho proporcional as suas conquistas. Chegou o momento de ela estar nas lutas principais de grandes cards, ter adversárias competentes e que vendam bem seus combates, colocar a brasileira em grandes programas de televisão no Brasil e nos Estados Unidos, contar a história de superação da baiana para o grande público. Ou seja, fazer com ela o pacote Ronda Rousey.

Por sua vez, Amanda Nunes também tem de fazer sua lição de casa. Ela precisa se mostrar mais aberta a trabalhar sua própria imagem com a mídia. É sabido que ela não é a pessoa mais fácil de se promover porque ela própria se recusa a fazer muito trabalho de base nesse sentido. Chegou o momento de ela perceber que ela é o maior nome do MMA brasileiro da atualidade e isso lhe traz uma enorme responsabilidade com o legado do esporte no país.

Sobre o blog

Saiba o que acontece dentro e fora do octógono, relembre as grandes histórias e lutas que fizeram o vale-tudo se tornar o MMA. Aqui também será o espaço para entrevistas, análises, debates, polêmicas e tudo que faz do MMA o esporte que mais cresce no mundo.
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