Lutador-empresário, Belfort transforma entrevista em palestra e filosofa sobre religião, esporte e negócios
UOL Esporte
06/12/2012 15h16
Por Maurício Dehò
O veterano Vitor Belfort fez sua carreira colocando os punhos em ação, mas nos últimos anos, seu comportamento fora dos ringues também passou a ser parte fundamental de sua imagem. E não por polêmicas ou confusões. Desenvolto para falar, ele gosta de fazer de suas entrevistas oportunidades para filosofar, citar ditados, dar exemplos e falar de seus negócios extra-ringue. E foi isso que ele fez na quarta-feira, em São Paulo, transformando uma coletiva de imprensa do UFC São Paulo em uma palestra não só sobre esportes, mas também religião, política e business.
>> Blog no Facebook: FB.com/NaGradedoMMA
>> Todas as notícias sobre lutas no UOL Esporte
>> Siga o blog no Twitter: @NaGradedoMMA
Como é notável, Belfort é religioso – virou evangélico há alguns anos – e gosta de falar sobre suas crenças e, principalmente, sua família. Mas não só. Fora do ringue, o carioca se considera um homem de negócios. Já criou uma espécie de luva de dedo para o manuseio de tablets e apareceu à coletiva na capital paulista com uma capa de celular em forma de soco inglês. "Vou ver se faço um desse para vender", anunciou ele, empolgado.
O lutador é capaz de fazer propaganda do cabelereiro que lhe modelou um moicano e, em poucos segundos, trocar de assunto para comentar a diretoria do Flamengo ou falar de temas motivacionais. "A gente tem que sorrir mais, amar mais, superar as dores com mais alegria. Falar: 'que bom que tá sol', 'que bom que tá chuva', 'que bom que está vento (sic)'. É dessa maneira que vivo", prega ele.
Belfort define o MMA como sua prioridade e vê como uma vida paralela o business. "Os meus negócios são hobby: (dou) palestras, tenho percentual em algumas empresas como investidor e também invisto em atletas", afirma ele, que tem Cesar Mutante, campeão do TUF, como principal pupilo.
O lutador ainda aproveita para fazer um "merchan" de um dos patrocinadores, e promover sua academia, que é voltada ao MMA para a família. "Terá o sistema Belfort Kids, o Belfort Fitness, será para a família. Quem quiser doar dinheiro para a obra… Como tudo no Brasil é caro… Vamos baratear, pessoal!", reclama ele, depois voltando atrás e dizendo que estava apenas brincando sobre o pedido de doações.
"O problema é talco na bunda"
Belfort diz que adora ler e recita uma frase antiga de Senna, falando sobre a busca não por vitórias nas pistas, mas pela perfeição. E filosofa: "A diferença do Zico para os outros é que ele acabava o treino e ia cobrar faltas. O Michael Jordan ia cobrar fundamentos. O problema para mim, hoje, é "talco na bunda". O que é talco na bunda? Hoje está todo mundo querendo chegar lá sem conquistar. Estão mimados. E o mimo vem quando você acha que é alguma coisa. Então você não tem que achar, tem que buscar o que é perfeito."
A "consciência social e mundial" volta ao assunto ao Vitor perguntar aos jornalistas se eles sabem a posição do Brasil em um recente ranking de educação. "Penúltimo", exclama ele, em um país com a sexta economia global. "Sabe o que vai acontecer nos próximos 20 anos? O Brasil vai ser 'estrupado' (sic) pelo mundo. E ninguém faz passeata sobre isso. Ninguém mais pinta a cara. Tem passeata para a maconha, para tudo. Mas ninguém sai para defender a família", brada.
Aqui e ali, ele volta a comentar sua luta. Fala das mudanças do vale-tudo após 15 anos de sua última luta em São Paulo – aproveita para exaltar as mudanças pessoais neste período e falar da esposa, Joana Prado e dos três filhos – e foge veementemente de comentar outros rivais que não Bisping. "Eu quero saber de inglês (Bisping)". Comenta o tamanho do ginásio do Ibirapuera, dizendo que poderia lutar até dentro de uma quitinete, e destaca que sua estratégia é apenas estar pronto para a guerra, comparando-se a um oficial da Marinha dos EUA, metáfora de mais um livro que leu.
A inteligência de Belfort é que ele aprendeu a falar de suas crenças sem apelar para pregações baratas ou discursos religiosos. "Um dia, vai estar alguém no nosso velório. Anteontem perdi meu padrinho, recebi a ligação tomando café da manhã. Depois de jogar beach tennis, ele teve um ataque cardíaco. Um dia você vai estar num caixão, ou cremado, e o que fica é o que você deixou para o próximo. Por isso eu preparo meus filhos não só para a vida, mas para a sociedade", diz ele.
Em outro momento, completa: "Quando puxa a ficha lá em cima, meu amigo, se prepare para apertarem a tecla 'delete'. Eu não quero ser deletado pelo homem lá de cima, não. Eu quero que ele aperte enter."
Vitor é assim: um lutador em primeiro plano, mas, colada à essa imagem, está seu lado de homem de negócios e "conselheiro profissional". O encerramento da entrevista é sintomático: "E aí, pessoal? Estou eleito?", pergunta, para depois negar que tenha intenção em mudar de carreira do esporte para a política. Será?
Sobre o blog
Saiba o que acontece dentro e fora do octógono, relembre as grandes histórias e lutas que fizeram o vale-tudo se tornar o MMA. Aqui também será o espaço para entrevistas, análises, debates, polêmicas e tudo que faz do MMA o esporte que mais cresce no mundo.
Contato: nagradedomma@gmail.com