Por Maurício Dehò

Anderson Silva, ele próprio, disse que não acha que pode vencer Jon Jones. Medo, sinceridade, desespero do campeão dos médios do UFC? Provavelmente nenhum dos três. Se é possível pensar que o Spider resolveu falar do seu maior potencial rival da atualidade para mostrar que esse "medinho" é um obstáculo e deve esfriar o combate, as suas atitudes também deixam abertura para se ver tudo isso da maneira inversa.

Em plena semana do UFC 162, em que encara o jovem e um bocado desconhecido Chris Weidman, Anderson não consegue parar de falar em Jon Jones e no que é uma das superlutas mais esperadas pelos fãs de MMA. E ouvir o "maior lutador de todos os tempos" dizer que se vê em desvantagem contra um rival foi algo que pegou a todos de surpresa.

"Em sua categoria, ele é o melhor. Se eu lutar com o Jon Jones, não acredito que eu iria vencer. Jon Jones é diferente de todos. Ele é grande, ele é jovem. Além disso, quando ele luta, vejo em Jon Jones a mim mesmo muitos anos atrás. Ele é muito esperto. Não sei onde eu levaria vantagem. Na minha opinião, eu tenho muito mais experiência que Jon Jones, mas acho que essa é a única grande vantagem", disse o Spider.

Mesmo com todo esse discurso, vale lembrar que Anderson resolveu soltar essa pequena "bomba" logo no começo de uma fight week, momento exato em que passa a ter maior visibilidade da imprensa e dos fãs. E, mesmo ultra favorito contra Chris Weidman, será que ele deixaria aparecer um aspecto de fraqueza bem agora?

O fato é que, se Anderson quisesse realmente falar isso para esfriar a superluta, ele teria escolhido outros caminhos e outras palavras. No manual do boleiro – usado amplamente pelos novos astros MMA – este capítulo detalha uma regra simples para se evitar falar do futuro: é só dizer que "meu foco está apenas no meu rival/minha cabeça está voltada para Chris Weidman" ou algo do estilo.

"Falem bem ou falem mal, mas falem de mim", diz aquela frase famosa. Ao botar lenha na fogueira, falando a favor ou contra a superluta, Anderson chamou toda a atenção para o tema mais uma vez.

Mais que isso, mais uma vez ele mexe com o imaginário do torcedor, que se pega pensando se o experiente Spider de hoje poderia encarar a uma nova versão dele próprio – "vejo em Jon Jones a mim mesmo muitos anos atrás".
A resposta de Jones foi educada, elogiosa, mas também com um tom de desafio.

"Fiquei honrado de ouvir a declaração que Silva fez sobre uma superluta comigo. Não muita muito, continuarei trabalhando duro… Acredito que sou talentoso e trabalho duro o suficiente para conseguir vencer qualquer um".

E, para deixar bem clara sua posição – e definitivamente deixar de lado qualquer 'esfriada' na superluta -, Anderson tratou rapidamente de voltar a falar no assunto, e para esclarecer que isso não é um 'não'. No UFC Tonight, ele explicou que não teme o norte-americano.

"Minha opinião é essa: eu luto com Jon Jones, com todos os caras da minha divisão, todos os caras do UFC. Eu respeito os lutadores. Respeito Jon Jones. Respeito Chris Weidman. Mas estou aqui para trabalhar. Não tenho medo de Jones, de Weidman, de ninguém. Estou aqui para lutar. É isso. É simples".

Uma nova semente foi plantada e durante toda esta semana e a próxima – se ele vencer – o tema vai ser recorrente. Jon Jones tem luta marcada contra Alexander Gustafsson para outubro, em Las Vegas, e antes disso é difícil que se confirme qualquer coisa. Mas o presidente Dana White já prometeu que um triunfo de Anderson o levará a uma superluta, seja com GSP – essa superluta sim esfriada pelo canadense -, seja com Jones.

Qualquer que seja este futuro mais distante, o bom mesmo é Anderson Silva deixar este barulho um pouco de lado. Se cair diante de Chris Weidman, nada de todo esse marketing permanecerá em pé.