Hortência e Isabel, o bônus e o ônus
Jorge Corrêa
10/03/2014 09h52
A terceira edição do TUF Brasil começou no triste horário da madrugada desta segunda-feira com boas lutas. Com apenas metade dos combates preliminares, conhecemos os primeiros oito integrantes do reality show – quatro pesos médios e quatro pesados – em combates com nível técnico melhor que das duas primeiras temporadas.
Mas não foi isso que chamou mais atenção no episódio de estreia que foi ao ar na TV Globo, mas sim a participação das treinadoras auxiliares de Wanderlei Silva e Chael Sonnen, Isabel Salgado, ex-vôlei, e Hortência Marcari, ex-basquete. Foi isso o que mostrou a repercussão do programa nas redes sociais. Os nomes das duas chegaram a entrar no trending topics do Twitter.
De cara começou o embate entre os detratores e os entusiastas da participação das duas no programa. Ficou claro que os fãs mais antigos e mais fervorosos do MMA e do TUF se indignaram com o quão leigas as duas chegaram ao reality, enquanto muitos outros acharam interessante a visão de fora do mundo das artes marciais mistas.
Quando definiu essa mudança radical em relação ao formato original do programa, de colocar dentro dos times pessoas completamente alheias à modalidade, Globo e UFC Brasil sabiam os riscos que estavam correndo, e pudermos ver logo nos primeiros minutos qual será o – importante – papel das duas.
Você aprovou a participação de Hortência Marcari e Isabel Salgado no TUF Brasil 3?
Elas serão as responsáveis por apresentar o MMA para os iniciantes, mas na prática. O UFC imerge duas leigas e suas dúvidas são, naturalmente, as mesmas de quem nunca acompanhou o esporte de perto. "Mas pode dar essa joelhada?", indagou Isabel, que logo teve a resposta de Wanderlei. As explicações ficam mais naturais na narrativa e o TUF perde o tom enciclopédico de muitos momentos das duas primeiras temporadas.
Elas também terão a clara missão de atrair telespectadores que estão simplesmente interessados em vê-las fora de seus esportes de origem. Não há como negar que elas são mais famosas com o grande público do que o próprio UFC e o MMA. Hortência é a maior jogadora da história do basquete brasileiro, por exemplo. Assim, o TUF alcança uma gama ainda maior de espectadores de esporte em geral.
Além disso, Isabel e Hortência também vão dar um tom mais olímpico e profissional para o programa, principalmente por conta de suas experiências. O MMA é um esporte muito mais novo e muito menos difundido que o vôlei e o basquete, além de estar longe de ter o padrão de organização de esportes que fazem parte do quadro dos Jogos Olímpicos.
Mas não é só bônus. Também há o ônus dessa participação. A revolta ficou clara para os veteranos do MMA. Em mais de uma oportunidade, Isabel chamou momentos de algumas lutas de "muito violento", principalmente quando elas estavam no ground-and-pound. Isso vai contra a cartilha básica do defensor do MMA: "Não é um esporte violento, mas sim de contato", disse o manual não-oficial – e não escrito.
Não foram poucas as pessoas que falaram que vão deixar de acompanhar o TUF Brasil por conta das duas. É provável que isso afaste mesmo os torcedores mais fervorosos e quem acompanhar o programa há muitos anos em suas edições norte-americanas.
Sendo mais direto, vejo os seguintes pontos negativos: (1) As interjeições delas roubaram a atenção no meio da ação de boas lutas, (2) deixaram em alguns momentos a narrativa truncada e desconexa com os comentários feitos por Wanderlei e Sonnen, (3) muitas falas soam mais óbvias do que necessariamente dúvidas de leigas e (4) ficou muito forçadas a apresentação delas, assim como a suposta realidade.
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