Por que Barão deve ignorar conselho de Aldo – e seguir passos de Anderson
UOL Esporte
24/05/2014 06h58
Por Maurício Dehò
Há cerca de dois meses, uma entrevista de José Aldo chamou a atenção por sugerir – em um tom de conselho – que seu amigo e companheiro de treinos Renan Barão acabaria deixando de lado seu estilo e instinto de acabar rapidamente suas lutas e adotaria estratégias mais seguras para se manter campeão por muito tempo. O assunto deu o que falar, gerando críticas em relação conservadorismo de Aldo, que já percorreu este caminho, vendo os nocautes diminuírem e as vitórias por pontos aumentarem*.
Nesta noite, Barão volta ao octógono embalado por uma finalização e dois nocautes para encarar o azarão TJ Dillashaw, dos EUA. Mas será que veremos o mesmo campeão dos galos de sempre? Será que ele será o lutador que pressiona, impressiona e acaba suas lutas o mais rápido que consegue?
Espero que sim.
Barão está numa curva ascendente dentro do UFC. Sua série invicta e justamente o jeito como encerra suas lutas, de forma arrasadora, é que tem colocado o potiguar cada vez mais próximo do topo do ranking peso por peso da organização. Ele é terceiro, atrás de Aldo e do líder Jon Jones. Dana White já o coloca à frente de Aldo e o cita brigando cabeça por cabeça contra Jones – apesar de isso ser um exagero, comparando o nível técnico dos rivais de cada um.
O campeão já não tem contado com desafios à altura em sua categoria, principalmente pela ausência do eternamente lesionado Dominick Cruz. Barão sequer é ameaçado dentro do octógono e evita que se crie alguma grande rivalidade que pudesse atrair ainda mais atenção à divisão. Assim, o espetáculo – e por espetáculo pode-se pensar também nos reflexos mercadológicos como a venda de pay-pre-views – depende das suas vitórias e de como elas acontecem. São os nocautes e finalizações de Barão que o elevarão de patamar – um patamar que Aldo já atingiu -, além de um investimento em sua imagem, carismática, mas ainda distante do público norte-americano, a base de fãs do Ultimate.
Quem vencerá a luta principal do UFC 173?
Além de tudo isso, o que deve encorajar Barão é a lacuna que Anderson Silva deixou com suas últimas derrotas e o hiato afastado por lesão. O Spider, aliás, ensina a principal lição que o campeão dos galos pode tomar: às vezes o processo para se tornar uma estrela é longo. Anderson foi campeão do UFC passados os 30 anos. E quando o fez, não tirou o pé até chegar ao topo. Foram nocautes e mais nocautes, atuações impressionantes e golpes inesperados. Anderson nunca deixou seu estilo, poucas vezes fez lutas morosas e até passou a se arriscar mais – o que culminou com a derrota para Weidman.
É claro que Aldo tem certa razão ao colocar na balança a importância de se manter como um campeão, formar uma dinastia, garantir seu pé de meia. Mas não é só vencer lutas que caracteriza uma carreira de sucesso no MMA. Todos os grandes campeões tiveram derrotas e muitas vezes elas são parte fundamental na história de quem quer ser "lenda".
No fim, o fato é que estamos falando de MMA. Sim, há épicos decididos por pontos. Mas um nocaute e uma finalização geralmente falam muito mais alto e são o atalho certo para que Barão vá ainda mais longe. Que o campeão deixe de lado a dica do parceiro Aldo, siga na "paraibagem", como gosta de falar, e não tire o pé do acelerador. A começar por TJ Dillashaw esta noite.
*Não que Aldo não vença bem, não convença e não dê show. Mas cada vez mais fica claro o quanto a estratégia tem um papel fundamental em suas vitórias, usando suas armas não só para atacar, mas para garantir a não-derrota.
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