Um metaleiro morto no palco e o dia mais maluco da vida de Matt Brown
UOL Esporte
23/07/2014 06h00
Por Maurício Dehò
8 de dezembro de 2004. Era só mais uma noite de show para Dimebag Darrell, guitarrista que virou lenda com o Pantera e seguia carreira na banda de heavy metal Damage Plan. Mas seria a última. Um homem invadiu o palco. Com arma em punho, puxou o gatilho. Três vezes. A terceira bala matou Dimebag instantaneamente, deixando órfãos os fãs que o viram mudar a cena da música pesada em duas décadas de carreira. A tragédia completa dez anos em 2014, mas ainda é uma memória vívida na cabeça de Matt Brown.
Brown, um norte-americano de 33 anos, faz a luta da vida neste sábado, em San Jose (EUA). Encara Robbie Lawler para ganhar a chance de encarar o campeão dos meio-médios Johny Hendricks. Em entrevista ao blog, ele falou de luta, é claro, mas também aceitou repassar os momentos de pânico provocados pelo atirador Nathan Gale – que era um fã descontente com o fim do Pantera.
Dimebag Darrell ficou famoso por seu trabalho no Pantera, revolucionando o mundo das guitarras e gravando clássicos como "Vulgar Display of Power" e "Cowboys From Hell". Quando morreu, a banda havia acabado e o americano tocava com o Damage Plan. Dimebag tinha 38 anos quando foi morto.
O Matt Brown de 2004 não era este cara que pode treinar, comer e dormir, apenas se preparando para vestir suas luvas e entrar no octógono. Com um comportamento errático, ele já teve de lutar contra as drogas e chegou a sofrer uma overdose por consumo de heroína. Achou nas lutas um caminho para se reerguer, indo do boxe para o jiu-jítsu e chegando ao MMA.
À época do incidente com Dimebag, Brown trabalhava em uma empresa que fabrica molhos para salada na cidade de Columbus, situada no estádio norte-americano de Ohio. Fã de metal – aprecia grupos como o brasileiro Sepultura e, atualmente, o Avenged Sevenfold -, ele não sabia que o guitarrista se apresentaria com o Damage Plan naquele dia. Por ironia do destino, ele foi punido em seu trabalho por repetidos atrasos. Vagando pela rua, viu o anúncio na casa de shows Alrosa Villa. Ele já tinha visto o Pantera, então porque não curtir outra apresentação dos irmãos Dimebag e Vinnie Paul (baterista)?
A festa durou pouco, quase nada. Já na primeira música, tragicamente chamada "Breathing New Life" (Respirando Vida Nova), a vida de Dimebag foi interrompida.
Brown relata: "Estava quase na grade, só uma pessoa na minha frente, o segurança e a banda. Eu acho que era a primeira, e o som começou a abaixar, ficar embolado. Estava olhando para o vocalista e então os vi começando a parar, Vinnie Paul abaixando as baquetas… Olhei para Dimebag, vi que estava caído. Não ouvi tiro, então, achei que tinha sido esfaqueado. Depois começaram a dar outros tiros. Eu me escondi atrás de um pilar e uma pessoa próxima de mim levou um tiro no braço."
Quem vencerá a luta principal do UFC deste sábado?
O lutador não queria simplesmente sair correndo. Ainda em liberdade, o atirador fez novas vítimas. Mais três pessoas morreram. Sete ficaram feridas. Brown queria tentar pará-lo. Por sorte, não chegou a tentar. A policia chegou e foi um policial que entrou pelas portas do fundo que atirou e matou o assassino.
"Eu apenas fiquei por lá, chocado, não sabia o que fazer, para onde ir. Ainda voltei para dentro da casa de shows. Vi Dimebag no chão, com a guitarra na mão, sangue por todo lado… Depois fiquei no estacionamento algumas horas, até a polícia ouvir todo mundo."
A morte de Dimebag é uma das mais trágicas da cena metal, e para quem viu ao vivo, a cicatriz é ainda maior. "Dimebag era um cara que me inspirou, eu já toquei guitarra. Eles trouxeram positividade para minha vida, eu ouvia desde moleque. Foi a primeira grande banda de metal pesado mesmo que senti aquela energia. Nunca vou esquecer… Foi a coisa mais maluca que já vivi", definiu o lutador.
A luta
Bom, mas vamos falar de luta também. Matt Brown é aquele cara brigador, queixo duro, que não se entrega. Robbie Lawler não foge dessa característica e a expectativa é de uma batalha sangrenta na trocação. É claro que, se depender só de Brown, a coisa será decidida com menos drama.
Drama, aliás, foi a marca de seu último combate, quando ele teve de virar o jogo contra o brasileiro Erick Silva e por nocaute técnico no terceiro assalto. "Foi uma luta muito importante. Mas todas são. Eu fiquei feliz com o resultado, mesmo tendo sido como foi. Sempre há um problema ou outro, nunca é fácil vencer, mas é como as coisas são".
Será diferente quanto a Lawler? "Eu apenas amo lutar. Não tenho preferência em como acabar a luta. Se vier nocaute, finalização, tudo bem. Sempre tento acabar logo, mas não importa como venha".
O curioso sobre a carreira de Brown é que o norte-americano foi ao fundo do poço antes da acelerada e embalada que podem levá-lo à disputa de cinturão dos meio-médios: entre 2010 e 2011, ele perdeu 4 de 5 lutas, sendo finalizado em todas. Depois disso, já são sete triunfos em série, todos no UFC, sendo seis por nocaute.
Mas, para ele, nada mudou: "Não houve algo especifico. Eu apenas fiquei trabalhando duro, fui para a academia, acreditei e as coisas aconteceram". E o trabalho será bem testado neste sábado, já que Lawler é, sem dúvidas, o grande desafio da carreira de Brown até hoje.
Sobre o blog
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