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Brasileiro faz pausa no UFC por drama da mulher e vai se lançar escritor

Maurício Dehò

29/03/2015 06h00

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Há menos de três anos, contei no UOL Esporte a história do Igor Araújo, um cara que chegou como lutador de jiu-jítsu à Europa com 25 euros no bolso, morou com Alistair Overeem e mais tarde virou um talento do TUF nos EUA e uma esperança de bons resultados dentro do UFC. Mas, a trajetória crescente teve de ser interrompida. A decisão foi dele próprio. O momento era de olhar para quem estava próximo, sua família. E foi por conta de um caso de câncer de sua mulher que Igor pediu uma pausa de alguns meses para o UFC e, o mais duro, para o sonho de ser campeão.

O mineiro sabe bem o que é superar dramas, mas não estava preparado para o que passaria com a mulher, Mariana, em Genebra, Suíça. Há três anos, em uma consulta de rotina durante a gestação do último dos três filhos do casal, um médico sentiu um nódulo no pescoço dela. Bem mais tarde, foi descoberto que se tratava de um tumor, maligno, e houve metástase para três partes do corpo: cabeça do fêmur, cérebro e uma vértebra.

O tratamento feito é com iodo radioativo e cirurgias. E é por conta das operações que Igor percebeu que não poderia se ausentar. Ela já retirou a cabeça do fêmur, trocada por uma prótese. Agora, em maio, fará uma cirurgia de 12h, em que uma de suas vértebras será substituída. O procedimento é delicado, e ter o marido segurando as pontas em todo o processo de recuperação é fundamental.

A família Araújo completa. Quinteto mora em Genebra, na Suíça, o que foi uma sorte no câncer de Mariana. Igor planejava se mudar para os Estados Unidos, mas acabou ficando e hoje usufrui do plano de saúde para não gastar com o tratamento da mulher.

Hoje com um trio de filhos de 1, 2 e 3 anos, Igor admite que perdeu o chão com tudo o que aconteceu. A ponto de ir lutar o UFC em Brasília só pelo dinheiro, mas sem motivação ou preparação suficiente. Ele acabou nocauteado por George Sullivan.

"O Joe Silva (matchmaker do UFC) está até me dando uma força com isso tudo. Ele sabia que eu tinha aceitado a luta em Brasília, mas estava sem foco. A Mariana é mais forte do que eu. Eu saía na rua para chorar, você pensa nos filhos, e ela é nova… Foi um baque mesmo. Essa terceira luta que fiz no UFC foi só pela grana mesmo", explica ele.

Igor foi parar no hospital depois de ser nocauteado e perder pela primeira vez no Ultimate. E viu que tinha de se afastar. "Depois disso eu falei: 'não cheguei pra ficar perdendo. A Mariana disse que apoiaria qualquer decisão, então eu vi que, se não podia me dedicar 100%, não lutaria. Não quero sair e falar que sou um ex-UFC", conta Igor, que também tem de lidar com o sofrimento que é para os filhos ver a mãe com problemas de saúde. Ele tem uma academia em Genebra e dá aulas, como forma de complementar o que ganha lutando no UFC.

Só agora o mineiro retomou treinos mais fortes, motivado pelo título de Rafael dos Anjos, um amigo próximo e parceiro de treinos na juventude. Igor mira um combate em junho, no Brasil, com sua mulher já prontamente recuperada.

Pai inspirou o 'novo' Igor: escritor

Acompanhando por um tempo Igor Araújo nas redes sociais, é notável que ele faz parte de um grupo menor de lutadores bem esclarecidos, com senso crítico e que gosta de assuntos fora do esporte – como política e saúde, sendo que, sobre este último, ele estudou muito assuntos relacionados a câncer para ajudar no tratamento de sua mulher. O surpreendente é que ele quer virar escritor.

Igor Araújo morou com Alistair Overeem em seus primeiros momentos na Europa. Hoje, mora na Suíça e faz parte da preparação nos EUA, com a equipe que lançou Jon Jones

Igor cresceu em redações e estúdios. Seu pai era jornalista, e ele herdou esses "genes". "O sonho do meu pai era escrever um livro, mas ele morreu sem conseguir. Eu tive muito problema quando cheguei na Europa. E falei: 'quando eu chegar ao UFC vou ter meu livro'."

O lutador chegou a entrar na faculdade para cursar jornalismo e também publicidade, mas as lutas o tiraram desse rumo. Ainda assim, ele se diz um viciado em telejornais, e tem facilidade para escrever, então quer contar sua história sem intermediários. "Quero ser como o Sylvester Stallone, fazer um livro e depois minha história ir para o cinema", sonha o peso meio-médio.

A facilidade e o gosto pelo jornalismo fazem de Igor também um cara com facilidade de aprender línguas – e também de soltar a língua para falar de política e muitos outros assuntos nas redes sociais.

"Desde 2005 aqui na Europa, eu aprendi o francês e o inglês sozinho, na rua mesmo. Tenho uma facilidade para essas coisas", diz ele, que defende que os lutadores busquem o conhecimento. "Já me falaram que falar o que pensamos, de política e outros assuntos, não é guerra nossa. Que lutador só tem que lutar. O pessoal pensa isso, que jogador tem que jogar, ator só tem que fazer novela. Essas pessoas, se você vê na Europa, atuam na sociedade como qualquer outra pessoa. No Brasil separam as classes", critica Igor.

O livro de Igor não tem prazo para ser lançado, mas o lutador já planeja iniciar a parte de escrever assim que Mariana se recuperar. Tudo para ser exemplo para outros brasileiros com suas histórias de superação, e para orgulhar a memória do pai.

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