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Gordinho fanfarrão? Não, Cormier ameaça Jones com inteligência e superação

Maurício Dehò

25/05/2015 14h05

Novo campeão do UFC faz paródia e dancinha bizarra

Daniel Cormier é um grande fã de bolo e de frango. Não é só pela barriga saliente que se nota isso. É que ele estrelou um vídeo cômico veiculado durante o Oscar do MMA, no começo do ano, fazendo uma paródia de uma música e cantando sobre sua carreira e sobre seus gostos alimentares. Mas, não se engane, gordinho ele é mesmo. Fanfarrão, nem tanto. No octógono do UFC 187, ele finalizou Anthony Johnson em uma performance estarrecedora, que mostrou que ele está apto a uma nova chance contra Jon Jones.

O desempenho de Cormier que lhe rendeu o cinturão coroa uma série de fatores que construíram o novo campeão do UFC. Uma trajetória marcada por derrotas e mais derrotas, mas que a cada degrau descido, o norte-americano subiu outros dois na base da superação, do trabalho e de uma inteligência acima do comum no mundo do MMA. Algo que parece até ter lhe permitido apreciar ainda mais sua conquista.

"Ei, caras, falem baixo, por favor", provocou ele, falando aos jornalistas, quando a entrevista coletiva pós-luta começou. "O campeão está falando."

A inteligência – e o carisma

Não é à toa que Daniel Cormier foi contratado como um dos comentaristas das transmissões do UFC na FOX. O norte-americano de 36 anos é uma figura carismática, bem articulada, sabe rir de si mesmo – como vemos no vídeo de humor que gravou para a premiação da Fighters Only – e, principalmente, tem uma visão de luta no MMA acima da média.

Daniel Cormier vai longe como campeão do UFC?

E isso se vê no octógono. Cormier, com o passar do tempo, se aperfeiçoou em lutar com inteligência. Poder de nocaute, ele tem. Mas é com o seu wrestling, a luta que foi sua base no esporte e o levou a um quarto lugar nas Olimpíadas de 2004, que ele entendeu que podia desmontar seus rivais.

Foi o que aconteceu com Anthony Johnson. O norte-americano quase conseguiu o nocaute com um golpe que derrubou Cormier por metros. Sem sucesso em acabar a luta, acabou sendo agarrado pelo agora campeão, e aí começou o castigo.

"Ele me socou tão forte. E ele é rápido. Quando eu caí e virei, falei: 'p… m…, ele tá vindo me pegar'. Então tentei agarrá-lo e ele começou a me socar. Eventualmente, consegui segurá-lo. Não fiquei desacordado, mas foi a primeira vez que tomei um knockdown na vida. Anthony fez um ótimo trabalho no começo, mas quando cansou, vieram as oportunidades para cotoveladas e o mata-leão", explicou, sobre a luta.

Hoje, Cormier fala abertamente sobre um dos problemas que teve com Jones. Ele deixou suas emoções entrarem no jogo. Em uma próxima oportunidade, caso Jones resolva rapidamente seus problemas com a Justiça dos EUA e volte em uma luta diretamente pelo título, ele já sabe onde mudar para apagar sua primeira atuação – que foi em janeiro – e vencer uma revanche.

"Contra Johnson, eu foquei no wrestling, no que me trouxe até ao show. Eu sou um cara que te leva pro chão, faz você suportar meu peso enquanto tenta levantar, até que algo aparece e foi o que aconteceu. No wrestling, não é só uma luta, você enfrenta os rivais o ano todo. Talvez Jones tenha vencido a primeira, mas temos outras lutas a fazer", analisou. "Agora, estou mais comprometido com o que faço melhor. E tenho que ter certeza de que não estou afetado emocionalmente. Se eu conseguir manter as emoções de lado, eu tenho uma ótima chance". E há mais motivos para ele acreditar que chegou para ficar, como vou falar a seguir.

A superação – dentro e fora do octógono

A história de vida de Cormier e como ele superou adversidades dentro e fora do octógono para ser campeão do UFC também são uma mostra de como ele sempre retorna de seus tropeços mais forte. Antes da luta, ele citou diversos problemas: dívidas, um divórcio (antes de sua carreira no MMA), suas derrotas no wrestling e o revés para Jon Jones. E disse que sempre achou um jeito de se reerguer.

O primeiro grande drama da vida foi em casa. Seu pai foi morto a tiros. O atirador foi o pai da segunda mulher dele. Cormier tinha sete anos, e precisou lidar com a situação numa fase frágil da vida. O wrestling ajudou, e ele virou um competidor de alto nível.

Uma das decepções de Cormier foi com o wrestling, já que ele ficou a uma vitória de medalhar em Atenas, em 2004. Em Pequim-2008, um problema nos rins por conta do corte de peso o tirou de ação, e foi assim que ele trocou a luta olímpica pelo MMA.

Mas demorou a ele poder se dedicar como deveria, muito por causa dos problemas financeiros. Ao seu lado, sua mulher, Salina, e ele precisou até de ajuda dos pais para se manter.

"Eu não tinha nada. Minha mulher está comigo desde quando eu tinha uma luta só no MMA. E tivemos nosso bebê. Eu mal lutava. Minha família não tinha dinheiro, eu também não. A gente não tinha gás, não tinha nada… Então, lembro que liguei para meus pais; eles e meus irmãos tinham 575 dólares e mandaram para nós, até que o próximo cheque de patrocínio chegasse. Ela ficou ali comigo, sempre me suportou, acreditou em mim… Mesmo quando eu não acreditava, ela conseguia ver que eu poderia chegar lá", disse, emocionado, na coletiva de imprensa.

A sorte de Cormier é que seu nome forte no wrestling o levou diretamente ao Strikeforce. A estreia foi em 2009, e ele subiu rapidamente: foi campeão do GP dos pesados do evento em 2012, batendo Josh Barnett e Antonio Pezão. No UFC, manteve o embalo lutando primeiro no peso pesado e depois indo para o meio-pesado. Perder para Jones abalou o lutador. A volta aos treinos, com a exigência de ter o campeão dos pesados Cain Velásquez ao seu lado, fez com que tivesse forças para manter sua evolução, e não se deixar levar pelo mau momento.

"Sabe, eu não venci as Olimpíadas, não venci meu maior torneio de wrestling. Não ganhei muitas vezes na minha carreira. Mas venci o GP dos pesados do Strikeforce e este cinturão do UFC. Essa é a última grande conquista da minha vida atlética. Se eu olhar para meu currículo, estou satisfeito. Mas não vou a lugar nenhum. Agora tenho que dar uma surra em Ryan Bader e vou defender o cinturão. Tenho 36 anos, não posso esperar Jon Jones", concluiu.

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