Vitor deixa chance final de título com amnésia de jiu-jítsu e mancha do TRT
Maurício Dehò
25/05/2015 06h00
Poucas semanas antes do UFC 187, Chris Weidman foi condecorado com sua faixa-preta em jiu-jítsu. Apesar de já ser um lutador reconhecido por finalizações, com boas posições lhe rendendo vitórias, pareceu curioso, até engraçado, ele receber sua faixa na mesma época em que pegaria um pupilo de Carlson Gracie, que ganhou a honraria quando o atual campeão dos médios nem pensava em ser lutador de MMA. Mas, foi justamente a arte suave a área mais frustrante no jogo do carioca neste fim de semana, o detalhe que não apenas definiu seu resultado, mas também deu fim ao que certamente foi a última chance de cinturão de sua carreira.
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Vitor Belfort, aos 38 anos, teve uma performance que acabou sendo muito abaixo do que se esperava dele, mas ainda pode ter mais algum tempo no UFC. É legítimo querer se despedir por cima, aceitar lutas no peso de cima, pegar veteranos, resolver questões antigas… Mas, falar em título já é coisa do passado para ele, que tem que se "contentar" com seu título no GP dos pesados aos 19 anos e o cinturão nos meio-pesados. Lenda, Vitor já era. E vai se manter. Mas sem o feito de ter cinturões de três categorias no escritório de sua casa.
Qual deve ser o futuro de Belfort?
Um problema na derrota de Vitor é que ele dependia dela para apagar uma sombra, praticamente uma mancha em sua carreira, que foram os "asteriscos" que surgiram em suas últimas vitórias, quando seu físico era beneficiado pelo uso do TRT. Apesar de nocautear brutalmente e enfileirar três rivais com seus chutes, muita gente – inclusive Weidman – não engoliu os resultados obtidos durante a fase de reposição hormonal.
Assim, vencer Weidman sem o TRT era provar que não era a testosterona quem estava falando no octógono. Que, como Belfort diz, o TRT não havia lhe ensinado a chutar. O que se viu no octógono foi primeiro um Vitor com seu instinto clássico. É difícil dizer o quão perto do nocaute ele ficou contra Weidman, logo no começo da luta. Mas ele fez o norte-americano balançar e sangrar e só não ampliou o castigo porque não pegou de jeito o campeão – ou porque faltou potência nos golpes, o que seria fruto, talvez, do bendito TRT…
Mas, voltando ao jiu-jítsu, o que Belfort sofreu no chão contra Weidman é que deixou a derrota melancólica. Apesar de falar de uma lesão no ombro, o modo como foi derrubado e a total falta de ação deram a impressão de que toda a garra que o brasileiro prega fora do octógono se esvaiu quando suas costas tocaram o chão e ele entrou no jogo de Weidman.
O Fenômeno já chegou a ser chamado de Vitor Belfort Gracie, por seu "pai" nas lutas, Carlson Gracie. Treinava com gente do nível de Wallid Ismail, Amaury Bitetti, Zé Mario. E agora tomou uma indireta-direta de Anderson pela internet e levou críticas de lutadores brasileiros e gringos, como a de Jacaré. "A performance do Belfort foi muito abaixo do esperado para um atleta da Carlson Gracie, ele foi derrubado e não fez uma reposição de guarda."
Realmente, Vitor quase nada fez por ali – totalmente diferente do que aconteceu quando foi derrubado por Jon Jones, e quase finalizou o campeão dos meio-pesados. No chão, Vitor segurou um pouco Weidman na meia-guarda, mas logo acabou permitindo a montada. Levou golpes limpos, tentou, de baixo, responder com socos – dificilmente a melhor opção para alguém com sua técnica – e, tantos foram os murros do campeão e tão notável era a falta de reação de Belfort, que não restou nada ao árbitro Herb Dean a não ser parar a luta. Chamou a atenção também o abatimento do carioca com o resultado, bem maior do que se poderia esperar de alguém que sempre disse estar curtindo toda a jornada e que tem discursos motivacionais tão fortes.
O resultado mais provável do combate deste fim de semana sempre foi a vitória de Weidman, por seus recursos técnicos, inteligência e confiança. Mas esperava-se que isso acontecesse após cinco rounds amarrados, por pontos. O atraso que Belfort tomou e a forma com que isso aconteceu mostram que ele não precisou/precisa só de uma reconstrução física. Uma lenda por seu passado, Vitor Belfort terá se reinventar se quiser ter um futuro, mesmo que breve, no UFC e se despedir por cima, à altura do legado que construiu.
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