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Werdum bate inteligência com inteligência e acerta a própria previsão

Maurício Dehò

15/06/2015 06h03

Werdum fala sobre conquista de cinturão: "Uma luta duríssima"
Era difícil não ficar ressabiado com o discurso ultraconfiante de Fabrício Werdum antes do combate contra Cain Velásquez. Afinal, como o brasileiro tinha tanta certeza de que venceria um rival que vinha passando o trator em seus rivais? Mas, está aí, finalização e cinturão unificado em uma baita luta. Como o próprio falou, não era prepotência, ele apenas sabia que o trabalho havia sido feito antes de entrar no octógono. Um trabalho não apenas físico – o que contou muito – mas mental. Werdum bateu o inteligente Velásquez com inteligência.

Muitos são os fatores que se somaram para Werdum sair com o braço erguido na Cidade do México, num resultado que pagou cerca de US$ 350 para quem apostava US$ 100 no azarão gaúcho. O principal deles, definitivamente, foi ter junto ao técnico Rafael Cordeiro uma excelente leitura de quem era Velásquez, do que ele tinha como armas e do que poderia acontecer na altitude mexicana. A ponto de prever exatamente o que aconteceria na luta.

Dez dias antes do UFC 188, ele falou ao blog: "O Cain Velásquez é um cara atlético, que impõe um ritmo muito forte… Mas acho que ele vai sentir bastante esse tempo (sem lutar) e a altitude. Acho que vai ser uma luta de longo prazo, em que vou poder fazer meu jogo no terceiro ou quarto round. Vou fazer desde o começo, mas ele vai vir com tudo. A estratégia que traçamos está certinha para conseguir nocautear ou finalizar o quanto antes". Batata.

Velásquez é um dos lutadores mais cerebrais do peso pesado, com sua tática de abafar no clinch, derrubar e abusar do ground and pound. Mas ele achou um rival à altura nesse jogo de xadrez que às vezes vira o MMA.

A inteligência da dupla Werdum/Cordeiro fez eles traçarem um plano até certo ponto ousado, mas que se mostrou fatal. O primeiro round foi um tanto assustador. Werdum tomou diversos golpes pesadíssimos do norte-americano, que realmente foi para cima. Aplicou socos que abalaram Júnior Cigano nas duas lutas entre Velásquez e o catarinense. E Werdum aceitou a força do seu rival. Sentiu sua mão, viu que poderia aguentar e ainda cansou Velásquez.

Sempre com boa visão de luta, Werdum não se assustou tanto quanto parecia, naquele primeiro round de trocação franca, apesar de certamente o papo de Cordeiro no córner ter sido fundamental para lhe dar confiança. Do outro lado, Velásquez, acertado por bons golpes retos (jabs e diretos), já foi para o intervalo com sangramentos relevantes. O gás, como se viu a partir do segundo round, também já tinha sido roubado pelos 2.200 metros de altitude da Cidade do México.

Aí somou-se o fator físico àquela inteligência de que já vínhamos falando. Cansado, mas menos cansado que Velásquez, Werdum pôde passar gradualmente a dominar com seu muay thai, coroando a evolução de sua luta em pé, que já vinha de muitas lutas. Ele usou chutões frontais para manter a distância, jabs, diretos e algumas joelhadas para ir frustrando as tentativas de Velásquez entrar em seu raio de ação.

O golpe de mestre veio quando Velásquez viu que na trocação não tinha mais jeito. Logo que tentou pegar as pernas e quedar o gaúcho, teve o pescoço envolvido. O sorriso de Werdum ao encaixar a guilhotina, antes mesmo do norte-americano bater, resumiu o combate – e o movimento, disse Werdum, foi ensaiado exaustivamente nos treinos.

Ah, temos de botar na conta ainda a provocação de Werdum, que foi o primeiro lutador a entrar na cabeça de Velásquez, quando disse que o rival é um "americano que achar que é mexicano". Parte da pressão imposta pelo então campeão no primeiro round deu-se muito pela vontade que ele tinha em calar o brasileiro, desperdiçando energia para conseguir sua vingança.

Enfim, que performance de Werdum, em uma luta que começou bem antes de Herb Dean os liberar no centro do octógono.

Aos 37 anos, mostrou que a maturidade o fez bem em todos os sentidos. Desde a evolução técnica de um campeão mundial de jiu-jítsu que achava que poderia se dar bem só com seu arroz com feijão à experiência que o levou a ser comentarista do UFC lá mesmo no México, provando que ele entende mesmo do jogo como um todo. E, quem diria, pode ser que este seja o início de uma nova era nos pesos pesados. Não se engane pela idade. Werdum tem chance de manter esse cinturão por um BOM tempo.

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