Como brincadeira de faculdade virou crime e cadeia para rival de Glover
Maurício Dehò
04/11/2015 06h02
Patrick Cummins é um cara bem humorado, alegre e sorridente até quando tira uma prótese que revela ter um dente da frente faltando em sua boca. Quem vê pode não imaginar que ele viveu um período obscuro de sua vida e chegou a ser preso e cumprir oito meses de regime semiaberto nos Estados Unidos. E tudo por causa do que começou como uma brincadeira, uma pegadinha.
Cummins, hoje o nono melhor meio-pesado no ranking do UFC e prestes a encarar o número 4, Glover Teixeira, em São Paulo, entrou no MMA só em 2010. Antes disso, em 2008, vivia uma fase descontente com o wrestling. Junte isso a algumas "más influências", e aquela brincadeira saiu das proporções imaginadas.
"Foi uma parte da minha vida complicada. Quando aconteceu, não queria falar disso, fiquei muito envergonhado, isso é totalmente fora do que sou", disse ele, ao Na Grade.
"Começou como uma pegadinha. Fomos a uma fraternidade, tiramos coisas da parede e, lentamente, a coisa foi aumentando, a adrenalina correndo e virou algo maior", adicionou. Os jovens acabaram vandalizando a fraternidade em questão e roubaram diversos objetos.
Pego pela polícia, Cummins e um colega acabaram recebendo penas em regime semiaberto. Ele cumpriu oito meses. "Eu podia trabalhar, na época me deram um trabalho em construção, então, basicamente eu só dormia lá", relembra ele, que salienta: "Mas não era nada bom! Foi duro lidar com isso, eu fui criado para ser melhor do que isso, não sou essa pessoa. Isso me deu uma nova perspectiva. Inicialmente, eu olhava para as pessoas que erravam julgando. Mas acredito em segunda chance, isso me fez dar um passo atrás, não rotular as pessoas. E desde então faço tudo para provar que aquilo ficou para trás."
Uma particularidade de Cummins está no sorriso banguela dele. Bem na frente, um buraco chama a atenção, e ele não liga muito para isso. Usa uma prótese com um só dente, porque os consertos que tentou fazer falharam.
"São 11 anos que não tenho esse dente. Eu tomei uma cotovelada na qualificatória para as Olimpíadas de 2004 e foi embora. Não quebrou tudo, quebrou três quartos do dente. Eu até consertei na época, mas quebrou de novo e então eu resolvi não fazer outro e usar essa prótese", afirma ele, que na festa de lançamento do UFC de São Paulo posou brincando com o "defeito" no visual.
Velho conhecido do Brasil
Em meio às complicações de seus atos, Cummins ainda era considerado um bom nome no wrestling e chegou a treinar com King Mo – hoje do Bellator. Em 2010, o empresário de Mo o convidou para um programa do Strikeforce, que auxiliava os lutadores de wrestling na troca para o MMA. Isso, curiosamente, envolvia treinar no Brasil.
"Brasil é um lugar especial para mim. Não só porque tenho ganhado lutas aqui. Eu comecei aqui. Quando vim ao Rio pela primeira vez, aprendi jiu-jítsu e MMA, fiquei dez dias, e sempre que volto me lembra os primórdios".
A estreia de Cummins no MMA foi em dezembro de 2010, com vitória por nocaute. No ano seguinte, ele cumpriu sua pena pelo vandalismo e, recuperado, deslanchou até chegar ao UFC.
Veja alguns golpes de @OfficialDurkin ! Ele enfrentará @gloverteixeira no #UFCSP! Não perca: https://t.co/uLrVd5g6p8 pic.twitter.com/pIWUmN5WMd
— UFC Brasil (@ufc_brasil) November 1, 2015
Até aqui, Cummins tem 8 vitórias e duas derrotas no MMA. Ambos os revezes foram no UFC, sendo o primeiro na estreia no evento, contra Daniel Cormier – em uma luta para a qual foi chamado de última hora – e a segunda para Ovince St. Preux. Ele se recuperou deste último revés nocauteando Rafael Feijão em agosto e agora uma luta definitiva contra Glover, que pode elevar seu status e colocá-lo na fila pelo cinturão.
Sobre Glover, ele é só elogios. Vê no brasileiro um rival como ele, que não desiste nunca, e que isso é sinônimo de show para os fãs. "Ele é similar ao Feijão, então eu venho parecido. Preciso ser veloz e usar meu wrestling, misturar tudo o que tenho. Dependendo de como vencer, pode ser que leve a um title shot. Estou ansioso!".
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