Em 13s, McGregor capitaliza afobação de Aldo e ganha novo status no UFC
Jorge Corrêa
14/12/2015 06h01
Ansioso para transformar em palavras os primeiros momentos da luta, olhei de soslaio para a tela do computador. Minha posição bem próxima ao octógono fez com que ouvisse o golpe e instantaneamente o grito dos milhares de irlandeses que lotavam a arena do MGM. Quando virei para frente, vi apenas Conor McGregor terminando o serviço, com José Aldo estatelado no chão, desacordado, levando mais três golpes antes de Big John McCarty intervir.
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Foi difícil de entender o que estava acontecendo, mas o resultado daquilo que não vi estava claro: José Aldo não era mais o único campeão dos penas do UFC. Em poucos segundos, encerrou-se uma invencibilidade de dez anos no MMA. O irlandês que fala muito, mas também luta muito, pulava de um lado para o outro do octógono, subindo na grade e confraternizando com seus conterrâneos ensandecidos.
O replay já estava no telão, mas o choque maior foi quando Bruce Buffer fez o anúncio oficial do resultado: nocaute em 13 segundos. TREZE SEGUNDOS. O mais rápido da história do UFC valendo um cinturão, superando os 14 segundos de Ronda Rousey contra Cat Zingano.
Aldo não foi o Aldo de sempre. Ele cometeu um erro que nunca tinha apresentado em sua passagem pelo UFC. Em nenhum momento estudou o que Conor pretendia fazer, não mediu distância, não chutou, nada. Apenas atacou. Partiu para cima com tudo, como nunca tinha feito contra ninguém no octógono. Tamanha afobação cobrou um preço alto e rápido.
Usando uma metáfora que o próprio brasileiro inventou no começo desde ano, o Bobo tomou o lugar do Rei. E se formos manter a comparação imperial, vimos até mesmo uma decapitação do antigo monarca. Por que para retomar essa posição, somente renascendo.
O técnico Dedé Pederneiras tentou relativizar o erro de José Aldo e colocou boa parcela de culpa no acaso. "Um golpe desse não tem o que você fazer, ninguém espera, não dá nem para falar o que aconteceria. Acabou a luta, acabou a luta", resumiu. Mas vendo as previsões que McGregor fez, ficam claros os méritos do novo campeão.
Agora, o irlandês poderá deitar em berço esplendido. Alcançou o status que ele tanto almejava – e que o próprio UFC tinha interesse. É oficialmente o novo grande astro do evento, posição devidamente chancelada por um cinturão linear, não apenas por um título interino e uma série de frases de efeito que o levaram às manchetes nos últimos meses.
Talvez apenas Ronda Rousey tenha assumido de maneira tão eficaz o papel de galinha dos ovos de ouro. Nem Anderson Silva, nem Georges St-Pierre ou Jones Jones. Nenhum deles teve um potencial de venda, de marketing e de expansão como Conor. Ele reluz a ouro e vai se aproveitar dessa situação.
Ele já começou a mandar seus recados: quer ser dono de dois cinturões (dos penas e dos leves), mas sem abrir mão de nenhum, algo que Dana White já avisou que não aceitaria. Mas alguém duvida que o cara que deu dois recordes de público e de bilheteria em Las Vegas ao UFC não pode bate o pé e convencer seus chefes? Hoje eu já não duvido.
Mas, e agora José? Aldo precisará primeiro recuperar do baque psicológico, entender se Conor entrou ou não em sua cabeça e como isso o afetou. Mais que isso, se acostumar com algo completamente novo: ele não é mais o único campeão peso pena do Ultimate. O próprio McGregor já deu um conselho. O brasileiro precisa dar um passo atrás, reagrupar e repensar sua situação. Só assim para sonhar com um reencontro do futuro.
Veja a reação dos técnicos de Aldo:
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