EXCLUSIVO: Dirigente indica os rumos do Brasil no UFC para os próximos anos
Jorge Corrêa
18/11/2016 06h01
Quem acompanhou as encaradas do dia de imprensa do UFC São Paulo, que acontece neste sábado no ginásio do Ibirapuera, deve ter reparado um novo rosto entre os lutadores que ficavam frente à frente. Quem estava ali era Joe Carr, vice-presidente internacional do Ultimate, que passa a comandar mais diretamente o evento no Brasil depois da saída de Giovani Decker.
Ele aproveitou essa nova missão para falar pela primeira vez com a imprensa brasileira e o blog teve a oportunidade de fazer uma entrevista exclusiva com o dirigente. E falamos muito sobre os rumos da franquia do Brasil, lembrando que temos novos donos comandando a companhia.
Tem um pouco de tudo: futuros e velhos astros do MMA brasileiro, como o mercado brasileiro está situado para a empresa, quantos eventos teremos por aqui em 2017 e até sobre política falamos. Está longa, mas vale a pena acompanhar a entrevista abaixo.
Preocupa de alguma maneira o Brasil ter poucos campeões neste momento, só Aldo e Amanda? Costumava ter mais, teve um tempo em que o país teve quatro de oito cinturões, mas acho que o MMA é um esporte de altos e baixos. O Brasil já teve um momento em que foi mais dominante, teve momentos que foram os americanos, agora estamos vendo muitos talentos europeus aparecendo e sendo campeões. Se você olhar o nosso plantel, ainda temos um percentual grande de brasileiros, teremos vários que devem lutar pelo cinturão no próximo ano – como Jacaré e Demian Maia. As coisas mudam sempre, mas agora temos de desenvolver a próxima geração de ídolos e estrelas deste mercado.
Você vê como um problema a indisposição de alguns torcedores brasileiros com o fato de Demian e Jacaré estarem demorando para disputarem o cinturão? Eu entendo porque os fãs estão sensíveis sobre isso, que eles vão sempre apoiar os lutadores da casa para que ganhem a disputa de cinturão, mas vejo isso como circunstancial. Os dois caras já estão lá, são top contender de suas categorias, acredito que vão ganhar sua chance em 2017. Mas você não pode prever, por exemplo, que Woodley e Thompson empatariam a luta. Coisas como essas acontecem. Não creio que os fãs devam achar que há algo contra brasileiros ou a favor de outras pessoas, apenas é a natureza dos esportes de combate.
Como é lidar com a reta final de carreira de caras como Anderson Silva e Vitor Belfort, que ajudaram tanto o UFC a crescer no Brasil? Acho que é como todo mundo. Esses caras fizeram uma incrível carreira, dignas de Hall da Fama, e ainda são tops da categoria, continuam competindo. Claro que envelheceram, mas ainda são grandes nomes no Brasil, os fãs ainda os amam muito, continuam empolgados em vê-los lutando. Não vejo isso como um problema, é a evolução natural, temos apenas de criar o próximo Anderson e o próximo Vitor com jovens lutadores para esse mercado.
E como criar esses novos astros? É difícil porque, no final, os lutadores precisam vencer, precisam ser bem sucedidos e se promoverem. Além disso, temos o apoio de muitos parceiros no Brasil para essa divulgação, como a Globo e a imprensa em geral, que ajudam no reconhecimento desses lutadores. Isso é algo que a companhia está focada. Minotauro também vai trabalhar mais nisso, como um embaixador dos atletas, ficando no marketing e na relação com os lutadores, também preparando atletas mais jovens a aprenderem a falar em público, media training…
Mas não está mais difícil, já que caras como Thomas Almeida e o Warlley Alves acabaram perdendo e não temos mais o TUF Brasil… O TUF Brasil foi muito bem sucedido em lançar novos lutadores, mas não para criar novos campeões ou postulantes a um cinturão. O que temos é muito trabalho a ser feito. Acho que temos lutadores brasileiros o suficiente em nosso plantel, cerca de 90, então é bastante gente que pode continuar vencendo até chegar ao topo. UFC e o MMA são tão competitivos hoje em dia que acho que não vamos ver mais pessoas vencendo 8 ou 10 anos seguidos. Essa não é mais a realidade, há tantos talentos que vamos ver muita gente ganhando e perdendo. As pessoas precisam mudar a mentalidade da época do GSP ou do Anderson. Acho que isso não vai acontecer mais. Não é mais sobre ficar invicto muito tempo, é mais sobre ser dominante e se portar como um campeão.
Quão educado sobre MMA você acha que o torcedor brasileiro está para entender uma situação como essa que você descreveu? Os fãs brasileiros provavelmente são os fãs mais sofisticados que temos. Eles acompanham o esporte por tanto tempo, então entendem muito bem. E espero que eles nos entendam também, porque estamos focados neles, temos um escritório aqui, temos gente trabalhando para entregar tudo o que eles querem, falando sempre com Las Vegas. Por exemplo, fizemos um enorme investimento no evento em Curitiba, que foi um show muito caro, mas o melhor que já fizemos aqui.
Então o Brasil vai continuar como um dos protagonistas no próximo ano? Com certeza. Fora dos Estados Unidos, o Brasil ainda é país mais importante que temos para a companhia, em termos de bilheteria, em termos de base de fãs, em termos de lutadores. Eu vejo o Brasil sendo a âncora de nossa estratégia para América Latina. Vamos continuar fazendo coisas no México e expandindo para a América do Sul, mas o Brasil sempre será a base de tudo isso.
Em 2017 vamos voltar a ter muitos eventos no Brasil ou vai manter o padrão deste ano? No ano que vem vamos ter três eventos no Brasil, um numerado, como o de Curitiba, e dois Fight Nights. Os Fight Nights deste ano, de Brasília e de São Paulo, acabaram muito prejudicados por conta de grandes nomes do país estarem machucados. A expectativa é que eles estejam nesses eventos no ano que bem. O de São Paulo neste ano foi muito desafiador, Shogun e Cigano estavam machucados, Anderson não estava disponível. Mas em 2017, todo mundo estará por aqui e vamos ter grandes eventos.
Você pode revelar onde será o primeiro evento do Brasil no ano que vem? Ainda não. O primeiro evento será em março. O que posso dizer é que vamos procurar sempre ter um evento em São Paulo e outro no Rio, o terceiro vai viajar pelo país, para fãs de diferentes regiões. Estamos procurando algum lugar no Nordeste e outro no Sul também. Esse terceiro evento deve ser em uma dessas regiões.
Então pelo o que você está falando, por essa lógica, o evento numerado do ano que vem deve ser no Rio de Janeiro… (Risos) Provavelmente, muito provavelmente. O Rio, na perspectiva do MMA, é o mercado mais importante de toda América Latina e um dos mais importantes de todo o mundo. Tudo que fizemos lá sempre foi um enorme sucesso. A Arena HSBC é uma grande construção, então é bem provável que seja lá mesmo.
Como você vê o potencial da Cris Cyborg como uma possível estreia do UFC no Brasil? Ela é incrível, muito dominante. Acho que independente de categoria, o UFC está focado em construir uma grande imagem para ela. Acredito que ela vai ser uma grande estrela aqui no Brasil. Se olhar as duas lutas dela aqui, em Curitiba e em Brasília, audiência dela foi global. Ela tem algo enorme a buscar. Seja ela lutando por um cinturão ou fazendo superlotas, estamos comprometidos em transformá-la no perfil mais rentável que temos entre as mulheres do nosso plantel.
O UFC acompanha a situação política brasileira? Gera alguma preocupação a atual instabilidade e os muitos casos de corrupção revelados? Nós sempre prestamos muita atenção aos mercados em que trabalhamos e não há nenhuma preocupação com essa instabilidade política, sempre tivemos uma boa relação com os governos aqui. Claro que a moeda está desvalorizada agora, mas na nossa perspectiva está tudo mais estável agora, esperamos que a economia se recupere e cresça no futuro, mas isso não vai parar o nosso investimento aqui. Nós trabalhamos em todo o mundo e sempre temos desafios, mas o Brasil sempre foi bom conosco e o investimento vai continuar por aqui.
Falando em política, o UFC tem muitos brasileiros do plantel que moram nos EUA e muitos que vão para lá para lutar. Você acredita que eles vão ter algum tipo de preocupação extra com o governo Trump no próximo ano? Não! Eu realmente não acredito nisso. Não creio que nada ficará mais complicado em termos de vistos ou fluxo de trabalhadores. Não acho que precisaremos ficar mais preocupados com isso. Nosso foco será no nosso trabalho e nossos lutadores vão continuar podendo trabalhar em todo mundo, especialmente nos Estados Unidos.
Vamos ter um novo CEO para o Brasil depois da saída do Giovani (Decker) ou a ideia é que o escritório daqui reporte diretamente a Las Vegas? Não é a ideia agora, dentro do meu planejamento global, principalmente América Latina, temos já um escritório completo e que vai liderar toda nossa frente para o continente. Agora como os novos donos, a estrutura vai ser um pouco diferente, mas essa equipe aqui não vai para lugar nenhum, vai ser nossa base para tudo isso, para nossa expansão para o restante da América do Sul.
Já que você citou os novos donos, eles vão mudar algo no evento para o Brasil? Eles sabem o quão importante o Brasil é para o negócio do UFC, acho que vão ser ainda mais agressivos no mercado brasileiro e latino-americano. Com certeza será algo benéfico para os fãs, não só do Brasil, mas de toda América do Sul até o México. Para mim, América Latina e China serão os principais focos nos próximos anos para o crescimento da empresa
Sobre o blog
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