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Na Grade do MMA

Anderson reencontra a felicidade em lutar. E é aí que ele é mais perigoso

Maurício Dehò

24/02/2016 06h01

Dramas, derrotas, decepções. Anderson Silva passou de um supercampeão, o maior da história do UFC, a um lutador pressionado a dar show e que aos poucos foi "quebrando", até a chegar ao fundo do poço com uma suspensão por doping. No próximo sábado, ele enfrenta o inglês Michael Bisping, em Londres, tentando afastar a zica e limpar o horizonte para, aos 40 anos, iniciar uma nova corrida pelo cinturão. Sua maior arma depende de um movimento de dezenas de músculos. E não está em socos ou chutes, mas na face. É o sorriso.

Pode parecer piegas falar nisso, mas, conversando com as pessoas que rodeiam o Spider nos últimos meses, a principal diferença notada por eles é a alegria e a satisfação em voltar a lutar e em decidir retomar a carreira. Em um vídeo postado por Anderson, ele aparece conversando com o baterista do Blink 182 Travis Barker, durante um treino, e explica:

Untitled-4"Eu estou animado em voltar. Não para provar nada para ninguém. Por mim mesmo, pelo meu coração. Acho que é um desafio para a minha mente, atingir um próximo nível na minha vida."

A rotina de campeão custou caro a Anderson, desde que ele nocauteou Vitor Belfort e deixou de ser apenas um astro do UFC e se tornou uma celebridade no Brasil e no mundo. A pressão inerente à posição foi pesando sobre os seus ombros, até a derrota para Chris Weidman, quando ele já mostrava sinais de desgaste e vinha falando como tinha vontade de "se livrar" do cinturão.

O surpreendente é saber que o Anderson que desembarcou em Londres na segunda-feira é visto como o mais alegre e solto justamente desde aquela vitória contra Vitor.

Ed Soares, empresário que acompanha toda a trajetória de Anderson no UFC, puxa na memória: "Eu me lembro dele feliz assim anos atrás, acho que (não ficava tão feliz) desde antes da luta contra o Vitor. Lá no início da carreira dele no UFC é que ele estava feliz como agora. O Anderson é um cara dedicado, sempre foi bem para as lutas, mas a cabeça pesa muito, tem muita coisa ao mesmo tempo quando se está no topo".

Não é só ele. Rodrigo Minotauro está sempre em contato com o ex-campeão. Viajou aos Estados Unidos, viu o fim da preparação e embarcou junto com Anderson para Londres. Lá, fez a mesma análise. "Eu senti isso, sim. Ele está muito motivado, como há muito eu não via. Como o Ed falou, mesmo, desde a luta contra o Vitor".

O empresário de Anderson explica que essa felicidade e vontade de lutar influem diretamente no desempenho no octógono. "Quando ele está se sentindo assim, é um sinal muito bom. Todo mundo sabe das habilidades que ele tem, e quando ele está assim, todas essas habilidades funcionam bem. O Anderson está forte, focado e feliz. Isso é o mais importante."

Por que diferente?

Há diversas explicações para esse novo Anderson ter surgido das cinzas, num momento em que ele poderia fazer o oposto, ser absorvido pelo buraco negro de problemas que viveu nos últimos anos.

No âmbito pessoal, é fácil observar que os laços que ele reforçou com a família e o fato de viver mais ao lado deles e se dedicar mais aos filhos fez bem, algo que começou quando ficou "de molho" com sua fratura na perna.

E há o lado competitivo de Anderson. Além de ser um estudioso das artes marciais, sempre aprendendo e incorporando novas modalidades, ele tem paixão por competir. E sabe que é no octógono que ele poderá reconstruir algo que foi manchado no caso de doping: o legado. Foi com base nesta palavra que o ex-campeão publicou um vídeo em suas redes sociais.

Diz o vídeo: "A grandeza é despertada em nossos momentos mais sombrios. É quando começamos a construir o nosso legado. Sem abaixar a cabeça, sem fraquejar. Assumindo nossas falhas e nosso lado humano".

Anderson ainda quer atingir essa grandeza e se aposentar por cima.

"É a vontade de lutar. Mostrar que ele é realmente um cara diferenciado", reforça Minotauro.

Por trás do sorriso, um novo-velho Anderson

Anderson usou o ano em que esteve suspenso por doping para afiar sua técnica e para ajustar o seu time. Praticou modalidades diferentes, como o kali, arte marcial filipina de origem militar, mais uma forma de manter a versatilidade e ampliar seu repertório.

Willie Laureano, técnico nesta arte, se mostrou empolgado com o pupilo. "O Anderson de sábado será uma mistura do que nós gostamos do antigo Anderson com, na minha opinião, um novo Anderson Silva. Nós podemos não reconhecer a diferença, mas ele sabe. Ele está muito mais maduro. Não só na idade, mas como ser humano, como estrategista e como artista marcial… Acho que veremos no novo Anderson um 'jovem' de 40 anos."

Algo importante que se nota é a redução de seu time. Antes, havia mais de um técnico de jiu-jítsu, de boxe e assim por diante. Anderson chegava para as suas lutas acompanhado de dezenas de pessoas. Agora, ele fez uma "volta às raízes". Chamou os principais mestres de sua confiança e enxugou o número de profissionais junto a ele, inclusive para a viagem a Londres.

Além de Minotauro e Ed Soares, estão com ele o empresário Jorge Guimarães, o técnico de jiu-jítsu Ricardo de la Riva, o de boxe Luiz Dórea, o preparador físico Rogério Camões, o lutador Rafael Feijão, a fisioterapeuta Angela Cortez e mais poucos parceiros. "Ele fez um camp interessante, com menos gente. Bem focadinho. Com uma preparação física excelente, trabalho de movimentação. Foi um trabalho excelente para essa luta. Foram menos pessoas, mas pessoas importantes", detalhou Minotauro.

Anderson e Bisping fazem a luta principal do UFC em Londres, no sábado, na O2 Arena. Além desta luta, outro duelo de pesos médios é destaque da noite, com o carioca Thales Leites encarando o ex-campeão do Strikeforce Gegard Mousasi. Acompanhe tudo no Placar UOL e no aplicativo UOL MMA.


PS: Olha só o tamanho da felicidade do Anderson, nesse vídeo postado pelo UFC – e pedindo pro Spider entrar no The Voice Brasil

Sobre o blog

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