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Tem volta? Ronda já se reconstruiu outras vezes, mas sempre pagou preço

Maurício Dehò

17/11/2015 06h01

Acabado o domínio de Ronda Rousey, com a derrota histórica da primeira mulher campeã do UFC para Holly Holm, a coisa mais natural a se imaginar é como se dará a volta de Ronda Rousey e se a norte-americana terá forças para se levantar e reconstruir sua carreira rumo a uma revanche contra a nova dona do cinturão. Duas coisas chamam a atenção e apontam a direção do futuro de Ronda Rousey: sua repugnância pela possibilidade de ser derrotada e a força que ela teve para superar suas adversidades.

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O rostinho bonito e os resultados positivos de Ronda antes do UFC 193 escondem uma história de derrotas na vida e no esporte. E essa história, que tem como outra protagonista a exigente AnnMaria De Mars, ex-judoca, sua mãe e "eterna técnica", construiu uma atleta que simplesmente não aceita perder.

"Eu prefiro morrer a perder. Eu sei muito bem como é o sentimento da derrota. Não é que eu nunca perdi. Eu já perdi das piores maneiras, conheço bem. E é por isso que eu quero vencer muito mais que as outras garotas", disse Ronda, em uma entrevista de outubro.

Ter a mãe como exemplo a obrigou a correr atrás de suas marcas. "Minha mãe foi campeã mundial de judô, a primeira mulher dos EUA a conseguir isso. Eu tive minha chance no judô, mas perdi. Foi como se estivesse morrendo. Eu preferia morrer…".

Ao mesmo tempo em que a imagem da mãe a pressionou, Ronda também acabou construindo uma armadura. Ao mesmo tempo em que é chorona e instável emocionalmente, atinge um grau de confiança incomum para a maioria dos lutadores, mas que foi quebrado brilhantemente por Holm.

As derrotas de Ronda durante seu crescimento como mulher e atleta foram variados, mas sempre exigiram um preço, sempre tiveram consequências. Onde mais se sentiu isso foi quando ela foi "apenas" bronze nas Olimpíadas de 2008. O resultado: largou o esporte. Ronda não lida bem com a derrota mas, dando tempo ao tempo, até aqui ela sempre encontrou um novo caminho. Veja alguns desses casos a seguir.

Percalços no caminho e para onde eles levaram Ronda:

1. Infância difícil: Ronda teve dois grandes problemas quando era pequena. O primeiro foi no nascimento, em que ficou um tempo sem respirar. Isso fez com que ela tivesse atraso no desenvolvimento da fala, o que aconteceu depois do normal. Além disso, aos oito anos seu pai cometeu suicídio, mudando o destino de toda a família e definindo parte da sua personalidade.

2. Lesões: Durante seu início no judô, Ronda sofreu algumas grandes lesões. Sua mãe era tão rígida, que fazia com que a lutadora competisse assim mesmo. "Você tem de vencer mesmo quando está em seu pior", dizia. Um dos piores momentos foi em 2003, ano em que ela esperava despontar, e lesionou os ligamentos do joelho direito. Ela operou, mas treinava com a outra perna, fortalecia os braços, ia para a academia treinar seu chão… O preço a pagar foram as dores, mas ela se reinventou: deixou de ser uma lutadora focada na luta em pé (no judô) para se aperfeiçoar no chão e afiar a chave de braço que seria matadora no MMA. De quebra, ainda conseguiu uma vaga nas Olimpíadas de Atenas.

3. Olimpíadas, parte 1: Em 2004, Ronda tinha apenas 17 anos, era a mais jovem judoca em Atenas. Ainda inexperiente, Ronda caiu cedo e foi para a repescagem, mas conseguiu ficar a uma vitória da medalha. A derrota veio por uma penalização e, claro, Ronda também se penalizou por não ter atingido seu objetivo. "Só queria sair da p… de Atenas, para longe do meu fracasso". O revés reforçou o ódio da lutadora por perder e ficou na sua cabeça rumo a Pequim-2008.

4. Olimpíadas, parte 2: Assim como aconteceu em 2004, Ronda não conseguiu o ouro em Pequim. Ela caiu diante de Edith Bosch e até hoje acusa a rival de jogo sujo, inclusive de tomar cabeçadas. A norte-americana acabou com a medalha de bronze, e o resultado acabou com sua carreira no judô. De volta aos EUA, ela abandonou o esporte, insatisfeita com os ganhos financeiros pífios e viveu seu momento mais complicado da carreira. Saiu de casa, morou em seu carro, trabalhou como garçonete e viveu à base de maconha e medicamentos. A reconstrução se deu quando ela viu a uma luta do UFC na TV e colocou na cabeça que mudaria de esporte. Foi preciso convencer sua mãe, seu técnico, mas ela conseguiu se dar bem e virar a líder de toda uma modalidade, levando as mulheres a lutar no UFC.

Como se vê, Ronda já caiu muitas vezes, e sempre se levantou. Não imediatamente. Ela precisa de seu tempo para digerir o fracasso e voltar. Resta saber se ela terá forças para conseguir isso maus uma vez. Quanto mais alto você vai, maior a queda. E a da ex-campeã do UFC foi a maior de sua carreira.

Sobre o blog

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