Crise de Aldo com o UFC é apenas mais um capítulo da realidade capitalista
A situação de José Aldo com o UFC é uma perfeita alegoria, crua e brutal, do capitalismo atual. Tem como pano de fundo a eterna luta de classes e racial que o mundo ocidental vive e que de tempos em tempos faz questão de deixar clara que está entre nós. A classe média burguesa e consumidora adora falar que não existe, até algo assim acontecer.
Colocando na ponta do lápis, temos de um lado o brasileiro que ficou dez anos invicto, era até então o único campeão de uma categoria inteira do UFC, que tinha nove defesas consecutivas de cinturão, mas que nunca fez questão de ser um showman fora do octógono. Do outro, o cara bem afeiçoado, que fala bem, que estudou a vida inteira, que entende como funciona o show business e – com isso – se tornou o maior vendedor de pay-per-view da franquia.
Muitos vão exaltar a falácia da meritocracia. A chance está aí para todos. Veja só José Aldo: saiu da favela e com as próprias mãos conseguiu sucesso na carreira que escolheu e ganhou muito dinheiro com isso.
Mas sempre vem a tal "mão invisível" mostrar que não é bem assim. Ele continua sendo o preto ou pobre, que teve menos oportunidade de educação que o rico, branco e europeu. A vitória de McGregor sobre Aldo em 13 segundos foi a tempestade perfeita que os patrões precisava para virar o jogo.
Não coloquemos a culpa da falta de tato de Aldo, de ele nunca ter feito questão de aprender inglês, de ter preferido treinar que ofender seu rival para vender luta. Para o preto ou pobre, a única chance é trabalhar. E foi o que ele fez.
(Um adendo importante: o brasileiro melhorou, sim, sua postura para se aproximar um pouco mais do lado midiático de seu algoz. Passou a falar um pouco mais, entrar no jogo de cena do irlandês, provocar. Mas pelo visto não foi o suficiente.)
Entendam que o (único) culpado de tudo isso não é o UFC. Dana White não o vilão dessa história. É algo muito maior. O evento não favorece Rondas Rouseys e Conors McGregors porque não gosta de Josés Aldos e Andersons Silvas. Simplesmente os primeiros dão mais dinheiro.
No final das contas, quem manda é sempre o capital. O dinheiro sempre vai preferir o branco rico ao preto ou pobre porque historicamente é quem gera mais dinheiro – é quem teve mais oportunidade – e pelo racismo orgânico da nossa sociedade. Essa é a mais dura verdade. E ninguém está fazendo nada para mudar isso. Afinal, não existe racismo e a meritocracia é para todos.
(Texto com contribuições preciosas ao debate dos amigos Fernanda Prates, Gustavo Francheschini, Maurício Dehò e Paula Almeida.)
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