Silêncio de Belfort sobre TRT vira mancha em nova fase avassaladora no UFC

De São Paulo, mas ainda no fuso de Jaraguá do Sul

Se o MMA fosse apenas e somente o que acontece dentro do ringue, Vitor Belfort estaria em uma das fases mais brilhantes de um lutador na atualidade, ainda mais aos 36 anos. Por exemplo: ninguém na história do UFC tem dois nocautes seguidos com um único chute. Mas sua postura sobre o TRT está se tornando uma verdadeira mancha nessa sua grande fase.

O Vitor Belfort que vimos no último sábado, nocauteando Luke Rockhold com um chute alto rodado no UFC de Jaraguá do Sul, lembra muito o Vitor Belfort de 12 anos atrás, quando ganhou o apelido de Fenômeno. Ele mesmo fez uma boa metáfora para explicar a diferença dessas duas fases: agora ele é como vinho, quanto mais velho, melhor fica.

Com uma técnica mais refinada e golpes certeiros, está com uma série de nove vitórias em 11 lutas. Nesse tempo, suas únicas derrotas foram para, ninguém menos, que os dois melhores lutadores da atualidade, Anderson Silva e Jon Jones. Ele teve uma série similar apenas no começo da carreira, quanto teve duas derrotas em 12 lutas, entre 1998 e 2001, derrotas estas para as lendas Randy Couture e Kazushi Sakuraba.

Dito isso, o lado bom da história, Belfort não está surfando plenamente essa onda por simplesmente se recusar a falar sobre o tratamento de reposição de testosterona que faz desde, pelo menos, o final do ano passado –  é quando veio a público, mas a data exata ninguém sabe.

Os altos e baixos de sua relação com o tema deixa tudo muito nebuloso. Primeiro ele negou, fugiu como pode pela tangente, simplesmente "fazia o louco". Mas depois que o próprio UFC confirmou que liberou o lutador a fazer uso do TRT, suas declarações se resumiram a dizer que nunca fez nada ilegal e nunca escondeu nada do UFC. Disse que é apenas um tratamento médico que faz, acompanhado por exames e pela própria entidade.

Mas sempre que pressionado a dar uma posição mais conceitual sobre a reposição hormonal, não responde e ainda se irrita. Chegou a ser grosseiro com jornalistas que tentaram abordar o assunto após sua vitória sobre Rockhold. Ninguém está questionando a legalidade do TRT, mas sim sobre a relação de ser justo ou não seu uso por parte de atletas de alto rendimento.

Ao se negar a falar sobre o assunto, Vitor desperdiça o espaço que está tendo para ampliar o debate sobre o TRT. Se ele faz uso do tratamento, é porque acredita nele. Se acredita nele, por que não defendê-lo? Por que não explicar melhor ao público? Não seria melhor clarear essa sombra, desmistificar o TRT? É uma postura, no mínimo, contraditória para um cara que gosta de pregar suas posições de forma veemente.

Por outro lado, o atual sucesso de Vitor Belfort traz à luz um debate mais amplo sobre a reposição hormonal, já que outros lutadores que usam TRT não têm tão bons resultados, como é o caso de Chael Sonnen e Frank Mir. Será que quem usa TRT não precisa passar por testes mais frequente e de surpresa durante a fase de treino? A testosterona pode, por exemplo, ser usada para corrigir os efeitos colaterais de alguns tipos de doping com anabolizante.

Vou além. Vitor Belfort deveria ser mais claro sobre seu uso do TRT para que não seja desenterrado um antigo fantasma de seu passado, de quando foi pego no antidoping em 2006. Seus críticos fazem questão de pisar nisso quando reclamam da liberação de ele fazer uso medicinal de testosterona.

Para encerrar. O próprio Rockhold disse: "TRT não ensina chutes". Sim, isso é fato. A capacidade técnica é toda de Belfort, mas o TRT ajuda a treinar melhor, de forma mais intensa e ficar mais forte – basta ver a evolução física de Vitor desde que iniciou o tratamento. Seria isso justo com lutadores que precisam enfrentar tudo isso de maneira natural?

Vitor Belfort

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