Como Ronda calou o machismo do UFC e se tornou uma arma do feminismo
Ronda Rousey é uma questão feminista complicada, porque é uma mulher linda e loira que abriu muitas portas, em parte, por ser linda e loira. O argumento de que Dana White dificilmente teria engolido as palavras de que nunca haveria mulheres lutando no UFC e apostado tão alto numa atleta se ela não fosse tão promissora em todos os sentidos não chega a estar equivocado.
Mas fato é que, no caso de Ronda, a impressionante série de finalizações no primeiro round com chave de braço falou tão alto quanto seu sorriso. Os longos cabelos lisos arrebanharam fãs, mas as credenciais olímpicas e os desempenhos avassaladores fizeram com que eles ficassem e ligassem a TV para vê-la lutar.
Sim, Ronda é bonita, mas não deve ser responsabilizada por isso. A responsabilidade dela é com o que faz com as portas abertas pela sua beleza, e isso não foi pouco. Ela conseguiu o feito heroico de entrar num esporte esmagadoramente masculino – e, convenhamos, muito machista – e se fazer ser ouvida. Quando começou a aparecer na mídia, o nome de Ronda normalmente vinha acompanhado de um "musa", como se ela precisasse de uma explicação para estar ali. Hoje em dia, Ronda não precisa de apostos sexistas para gerar cliques. Ronda é Ronda e ponto.
Ela obrigou o mundo a prestar atenção nela, e se tornou a figura mais rentável de uma organização que sempre usou as mulheres mais como acessórios (leia-se: ring girls, classe com quem ela já teve seus arranca-rabos) do que qualquer outra coisa. Ficou realmente embaraçoso (embora aparentemente não impossível) falar que "mulher não tem que tomar soco na cara" quando as maiores cifras da maior organização de MMA do mundo vêm – veja você – de uma mulher.
Ronda não é perfeita – ocasionalmente escorrega na compaixão em declarações públicas -, mas isso é parte de ser humano. A imperfeição da bela Ronda, que inclusive é adoravelmente desajeitada em cima de um salto alto, é mais uma afirmação a favor das mulheres em todo mundo, que não cabem nos pedestais em que constantemente são colocadas.
A campeã aparece em vídeos suada, escangalhada, mal humorada e entra para o octógono com cara de poucos amigos. Ronda é atleta antes, beldade depois. As matérias sobre a Ronda, apesar dos esforços de grande parte dos entrevistadores, não focam em como se veste para treinar, em como pinta as unhas, nas dificuldades para manter o cabelo bonito. Ela simplesmente oferece coisas demais pra esse ser o foco principal. Isso é mérito dela, e só dela.
Fora as coisas que a Ronda mudou apenas por existir, existem as coisas que Ronda conscientemente luta para mudar. Nos ensaios sensuais que fez, como o da Maxim, recusou-se a aparecer mais magra do que o seu peso normal. "Eu peso 61 quilos durante algumas horas por ano. O modo que eu apareço na balança não é como sempre estou. Então, quando eu apareço nessas revistas, não quero contar uma mentira. Seria pouco saudável aparecer daquele jeito todos os dias".
Ronda podia, assim como o último atleta que posou para a capa do body issue da ESPN, se privar, fazer dieta, se desidratar e aparecer em seu estado mais debilitado. Mas ela se recusa. Ela sabe que tem algo maior a representar. Alguns podem criticá-la por apenas topar fazer esses ensaios, mas a celebração do seu corpo musculoso e atlético em toda sua sensualidade é, por si só, um ato de extrema ousadia.
Assim como todas as mulheres que ousam mostrar seus corpos, ela sofre críticas, escrutínio, comentários maldosos sobre como é "cheinha" ou "masculina", e manda um foda-se gigante pra esse tipo de gente quando aparece de biquíni. Ronda, aliás, mandou o mundo se foder, o que é de muitas formas um ato revolucionário.
*Texto escrito a quatro mãos com uma amiga muito querida
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