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Na Grade do MMA

Após 'construir' o MMA feminino, Ronda Rousey perdeu quando podia

Maurício Dehò

18/11/2015 06h01


Não era só o peso de um cinturão sobre seu ombro que Ronda Rousey levou para dentro do octógono quando enfrentou Holly Holm no último fim de semana, pelo UFC 193, na Austrália. A norte-americana carregava junto a si toda a responsabilidade de ter construído uma nova fase do MMA feminino, enfim tratado com seriedade, a ponto a noitada em Melbourne contar com duas disputas de cinturão feminino e bater o recorde de público e de renda da organização.

Convenhamos, não existe exatamente uma "boa hora" para perder. Em um esporte como o MMA, em que a saúde está em risco e tendo em destaque Ronda Rousey, a garota que prefere morrer a ser derrotada, a vitória é mais que um resultado. Mas, podemos dizer que a agora ex-campeã perdeu no momento "menos ruim" que poderia. Ela entregou às suas colegas de profissão algo respeitável: o MMA feminino na era adulta.

Entre os homens, o MMA e o UFC tiveram diversas fases de amadurecimento. Quando Marco Ruas apresentou sua mistura de artes marciais, quando o Pride criou rivalidades épicas, na ascensão e queda de Brock Lesnar e na criação do fenômeno máximo Anderson Silva. Para elas, as coisas foram mais complicadas e o preconceito, muito maior.

Se antes as mulheres eram tratadas com desdém, tanto nos primeiros eventos femininos, no Japão, quanto no momento em que Dana White disse que elas nunca pisariam no octógono do UFC, quando Ronda Rousey iniciou sua trilha e fez o dirigente engolir suas palavras, ainda era difícil crer que era possível haver divisões femininas sólidas.

Como vencia suas rivais de forma arrasadora, somando só 2min10s para vencer as quatro oponentes anteriores a Holm, Ronda só reforçou essa impressão de que ela era um ponto fora da curva. Holly Holm mudou isso. Agora sabe-se que o MMA feminino "dá jogo".

Ainda há um caminho para que as meninas percorram na evolução técnica, para que consigam apresentar um jogo mais completo no MMA – Ronda foi dominante no chão, Holm é superior apenas na trocação -, mas o fato de elas já estarem em academias de ponta, como é o caso de Holm na Jackson's, mostra que isso uma questão de tempo e também trará mais equilíbrio e disputas mais parelhas num futuro próximo.

Além disso, é claro, não é só dentro do octógono que essa revolução teria de acontecer, caso contrário, o boxe feminino – por exemplo – teria conseguido deixar o limbo em que é visto hoje. Dinheiro fala muito e o mercado, o mundo dos negócios, se abriu a elas com o crescimento de Ronda. Hoje se fala não só nela, mas em Paige Vanzant, Miesha Tate, Julianna Peña, na campeã peso mosca Joanna Jedrzejczyk, em Claudia Gadelha…

E ainda temos uma revanche em vista. Com a repercussão da derrota de Ronda, dá para se imaginar o barulho que uma segunda luta entre elas irá causar, gerando mais grana, mais interesse, atraindo mais olhares para elas e também para as garotas que estão em segundo plano.

Serão mais meses de amadurecimento para o MMA feminino até esta revanche. Ronda perdeu, mas tem inúmeros exemplos no esporte e na própria carreira de que a derrota pode ser um passo importante na criação de uma grande campeão, de uma lenda. Mais que isso, perdeu, mas já tem um legado garantido. O que só tempo dirá é se ela terá forças para mostrar que caiu quando podia, mas que conseguirá se reerguer e mostrar que sua história ainda tem páginas vitoriosas a serem escritas. De todo modo, o mundo feminino que vive e respira lutas agradece pelos serviços prestados até aqui.

Sobre o blog

Saiba o que acontece dentro e fora do octógono, relembre as grandes histórias e lutas que fizeram o vale-tudo se tornar o MMA. Aqui também será o espaço para entrevistas, análises, debates, polêmicas e tudo que faz do MMA o esporte que mais cresce no mundo.
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