Treinadores de boxe apontam soberba e falta de estratégia no revés de Ronda

*Post com Brunno Carvalho

Os nocautes de Ronda Rousey em suas aparições anteriores ao UFC 193, incluindo aí a vitória arrasadora contra Bethe Correia, construíram uma imagem de que a evolução da norte-americana em seu jogo em pé tinha sido suficiente para enfrentar uma ex-campeã mundial de boxe como Holly Holm. Como se viu no último fim de semana, não chegou nem perto.

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Mas não foi apenas a falta de técnica que minou Ronda Rousey diante da nova campeã. Fatores de fora do octógono também teriam afetado "Rowdy". É o que treinadores de boxe e a ex-lutadora Duda Yankovich analisaram a pedido do Na Grade, para explicar o fracasso da ex-campeã em Melbourne.

Para Alex Cardoso, que já afiou o boxe de José Aldo e trabalha com nomes do UFC como Viscardi Andrade, o fator "mais gritante" foi a falta de respeito de Ronda em relação à desafiante.

"A soberba da Ronda foi o fator mais gritante para essa derrota. Por que ela não respeita as pessoas. Você não precisa respeitar como atleta, mas precisa respeitar como ser humano. A Holm em momento algum falava ou fazia trash talk, e mesmo assim ela ainda fez aquela coisa de ser vilã. Isso acaba atrapalhando em cima do octógono", opinou Cardoso.

Alex diz que já imaginava uma vitória de Holm. "Com certeza ela treinou muita defesa de queda e movimentação. Não deu outra. Fez a Ronda correr atrás. A Ronda tem um bom boxe, mas não é o forte dela. Por mais que treine, precisa nascer de novo para alcançar o nível da Holm". Para ele, a ex-campeã não teve estratégia alguma para tentar neutralizar o bom boxe e a maior envergadura de Holm. "Faltou enquadrar a distância corretamente para lutar com uma boxeadora. Sair na porrada sem estratégia alguma, contra alguém que é ótima na luta em pé, acabou a frustrando em todos os sentidos."

Ivan de Oliveira, filho do medalhista olímpico Servilio de Oliveira, técnico de Sertão na conquista do título mundial de boxe e hoje também treinador voltado ao MMA, concorda. "Achei a Ronda muito afoita e ela menosprezou a adversária. A Holm tem todo o mérito na vitória, porque foi humilde nos treinamentos. Ronda desconsiderou que, além de ser excelente no boxe, a Holm tem outras armas. Ela defendeu queda, quedou a Ronda, defendeu finalização. E as esquerdas de encontro machucaram muito a Ronda. Holm deu um show, bateu muito na Ronda", disse ele.

Duda Yankovich foi campeã mundial de boxe e hoje dá aulas. Curiosamente, ela já sentiu na pele as mãos de Holm. Foi contra ela que teve sua primeira derrota, em 2009, com um nocaute no quarto round.

"Essa luta foi um casamento errado para a Ronda. Seria errado também para a Holly, se ela não fosse fria. Mas com o jeito calmo dela, soube se controlar para não ir para cima logo de cara, como as outras fizeram", analisou Duda.

A sérvia concordou que a mistura de falta de técnica com fatores externos antes da luta abalaram Ronda. "Não acho o boxe dela nada demais. Acho que Ronda ter nocauteado a Bethe foi a pior coisa que aconteceu. Foi isso que deu a falsa impressão de que ela sabia e podia nocautear qualquer um. Aquilo lá foi só uma mão forte na têmpora. Foi mais uma fatalidade do que qualquer coisa. Além disso, ela já era conhecida como uma pessoa instável, chorando o tempo todo. E foi essa instabilidade que a Holly aproveitou."

Um dos mentores do boxeador profissional Esquiva Falcão, Raff Giglio não é dos mais fãs de MMA e achou que o combate mostra que a nobre arte precisa ser melhor tratada dentro da modalidade.

"Acho que a Ronda não estava num bom dia, pelo nível que tem, ela poderia ter neutralizado a Holm, mas parece que alguma coisa a tirou do seu melhor. Já a Holm soube usar a experiência dela como boxeadora, soube usar a distância, o jogo de pernas foi perfeito e a Ronda não a achou. A Holm é uma boxeadora, realmente, e no MMA, nem todos são. Todo lutador de MMA que quer lutar, tem que afiar mais o boxe. Porque a noção de distância, o jogo de pernas – que faz entrar e sair, se defender – e a movimentação você deixa de receber golpe -são maravilhosos."

Sobre uma revanche, Alex Cardoso até vê chances para Ronda, mas não será nada fácil. "Tem saída para a Ronda, mas ela vai ter que se reinventar e ser humilde. Ser humano é feito de erros, e ela teve o dela… Agora precisa corrigir", apontou ele. Ivan de Oliveira também acredita numa nova Ronda. "Essa derrota surpreendeu até a mim. Mas, para a próxima luta, a Ronda deve vir melhor preparada e pode até ganhar. Ela vai ter que melhorar as quedas."